Inquérito parasitológico em humanos e caracterização genética de Echinococcus vogeli em pacas (Cuniculus paca) de reservas florestais do Acre. Brasil

• Ano de defesa: 2021
• Autor(a) principal: Neves, Fernanda Bittencourt de Oliveira
• Tipo de documento: Tese
• Tipo de acesso: Acesso aberto
• Idioma: por
• Instituição de defesa: Universidade do Estado do Rio de Janeiro; Centro Biomédico::Faculdade de Ciências Médicas; Brasil; UERJ; Programa de Pós-Graduação em Microbiologia
• Palavras-chave em Português: Echinococcus vogeli – Genética; Paca; Calodium hepaticum; Enteroparasitoses; Acre; Equinococose – Epidemiologia; Equinococose – Prevenção & controle; Parasitologia de alimentos; Cuniculidae; Enteroparasitosis; CIENCIAS BIOLOGICAS::MICROBIOLOGIA::MICROBIOLOGIA APLICADA::MICROBIOLOGIA MEDICA
• Link de acesso: http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/23643

Na Amazônia, é comum caçar animais silvestres para alimentação. Os moradores estão longe dos centros urbanos, onde o acesso à educação, serviços de saúde, saneamento básico e água tratada é baixo ou inexistente, favorecendo a transmissão de zoonoses e enteroparasitoses. Existem poucas abordagens que envolvam coleta, caracterização molecular, análise e levantamento de dados genéticos sobre as populações das espécies causadoras das equinococoses neotropicais (Echinococcus vogeli e Echinococcus oligarthra), principalmente obtidas de pacas da região amazônica do Brasil. A existência de variabilidade genética intraespecífica já foi comprovada para E. granulosus sensu lato, porém, pouco se sabe sobre este conhecimento em E. vogeli. Estes dados podem contribuir para programas de controle, prevenção e diagnóstico da equinococose neotropical policística (ENP). Um hábito específico local é a ingestão dos fígados malcozidos desses animais, contribuindo para a transmissão de Calodium hepaticum, agente etiológico da capilariose hepática. Ovos não embrionados desse helminto, quando ingeridos, favorecem a infecção espúria, em que esses ovos passam pelo trato intestinal e saem nas fezes sem causar doença hepática. Porém, humanos nessa condição, atuam como dispersores, podendo contribuir para a infecção de outros hospedeiros. Neste trabalho buscamos realizar a caracterização molecular (PCR e sequenciamento) de amostras de E. vogeli isoladas de pacas oriundas do estado do Acre, bem como realizar levantamento parasitológico (sedimentação espontânea, centrífugo-sedimentação e Kato-Katz) e sociodemográfico (aplicação de questionário) em moradores de reservas florestais de municípios acreanos (Xapuri e Sena Madureira). As localidades foram baseadas nos relatos de casos humanos de ENP, segundo dados prévios do Laboratório de Referência Nacional em Hidatidose do IOC/Fiocruz-RJ (LRNH-LHPV-IOC/Fiocruz). Todos os 13 isolados de E. vogeli (cistos extraídos dos fígados) foram identificados como E. vogeli com base nos genes parciais cox1 e P-29. Para cox1, nossas amostras demonstraram similaridade genética com todas as sequências de E. vogeli disponíveis no GenBank-NCBI relacionadas à Amazônia brasileira, sobretudo com as do próprio Acre. Nossa análise revelou três sítios de segregação e quatro haplótipos, sendo um central e dois compartilhados entre as duas localidades do estudo. Não houve diversidade genética para sequências de E. vogeli geradas para P-29. Nas 276 amostras de fezes examinadas, foram observados ovos de ancilostomídeos (19.2%), ovos de C. hepaticum (1.1%) e cistos de Blastocystis sp. (6.9%). Conclui-se que: este é o terceiro estudo sobre a estrutura e variabilidade genética das populações de E. vogeli, sendo um dos poucos a trabalhar com o gene nuclear P-29. Dentro do perfil negligenciado da ENP, todos os esforços que busquem elucidar a diversidade e estrutura genética do E. vogeli podem contribuir para estudos taxonômicos, evolutivos, diagnóstico, epidemiológicos, bem como prevenção e controle da doença. O hábito de comer carne crua de paca é um fator de risco para a infecção espúria por C. hepaticum em Sena Madureira e Xapuri. O estudo representa o primeiro relato de Blastocystis sp. no Acre. Com base em nossos dados sociodemográficos, a infecção por geohelmintos e protozoários intestinais relaciona-se às precárias condições sanitárias dos habitantes da área de estudo.