Estado bruxólico: tecnologias de resistência das bruxas
Ano de defesa: | 2023 |
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Autor(a) principal: | |
Orientador(a): | |
Banca de defesa: | |
Tipo de documento: | Tese |
Tipo de acesso: | Acesso aberto |
Idioma: | por |
Instituição de defesa: |
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Educação e Humanidades::Faculdade de Comunicação Social Brasil UERJ Programa de Pós-Graduação em Comunicação |
Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: | |
Link de acesso: | http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/20708 |
Resumo: | Esta tese investiga a bruxa enquanto figura catalisadora de um determinado estado de existência, denominado de estado bruxólico pelo pesquisador Franklin Cascaes. Para acompanhar as pistas deixadas por Cascaes, investigo historicamente a figura da bruxa, inicialmente no contexto Europeu e, em seguida, brasileiro. A hipótese principal com a qual trabalho é de que se pode identificar cinco "marcas" caracterizadoras do corpo da bruxa, a saber: o útero, o infanticídio, o acaso, o ressentimento e o animal. Esses elementos são analisados ao longo do trabalho, em articulações teórico-filosóficas que buscam apresentar um desenho conceitual desse corpo, que é tanto físico quanto psíquico. Divido a pesquisa em cinco eixos centrais que envolvem levantamento histórico, reconstituição do imaginário que o tema invoca e a articulação teórica de corpo-pensamento-bruxólico. O primeiro movimento consiste em um levantamento topográfico das inquisições na Espanha e Portugal e para isso me valho autores como Francisco Bethencourt, António José Saraiva, Meyer Kayserling, Hugh Trevor-Roper e Adriano Prosperi. No segundo, avalio a instauração de uma ontologia da bruxa, desde o seu surgimento na Alemanha, atravessando a Europa, se refugiando nos Açores e posteriormente chegando ao sul do Brasil. A consulta de textos centenários como, Malleus Maleficarum de Kramer e Sprenger (1486) e a Bula Papal (1484) de Inocêncio VIII até mais recentes como, Pensando com os Demônios, de Stuart Clark, que a partir da análise de artifício comuns a livros e panfletos públicos entre o século XV até o século XVIII, detendo-se na relação dos autores com seus compromissos intelectuais. E a última parte do trabalho, que compreende a conclusão, se emprenha no exercício de reconstruir ou dar a ver, a tentativa de assujeitamento de um determinado corpo-mulher-bruxa, banido do seio da Idade Média. Não por acaso um dos primeiros passos da investigação de bruxaria consistia na busca pela marca do diabo no corpo dos acusados. Um sinal de nascença, um ponto anestesiado, e era na busca dessa marca que os inquisidores a criavam: A natureza as fez feiticeiras. Seria uma tendência própria do gênero-mulher, de seu temperamento. O gênero-homem caça e combate. O gênero-mulher trama, imagina, engendra. As marcas fixadas no corpo. A execução pública de centenas de mulheres é a produção da marca, da identidade social e sexual, de um feminino e de um masculino, de corpo, uma máquina desejante que por desejar é suscetível ao mal e pode levar o mundo inteiro a danação. |