Do território ao corpo e do corpo ao território: o corpo como escala, antiextrativismo e o caso de Berta Cáceres.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Gonzalez Rodriguez, Vitória
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Ciências Sociais::Instituto de Ciências Sociais
Brasil
UERJ
Programa de Pós-Graduação em Sociologia
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/19989
Resumo: Esta pesquisa tem como pano de fundo as lutas antiextrativistas encabeçadas e corporificadas por mulheres no contexto de conflitos socioambientais oriundos do neoextrativismo na América Latina. Tais conflitos envolvem a disputa por uso e acesso a recursos materiais e simbólicos, e também uma assimetria entre um projeto que denominamos “de cima”, pautado no poder, e outro que denominamos “de baixo”, pautado na resistência. Partindo do entendimento desses conflitos socioambientais como multiescalares, temos por objetivo entender a dinâmica de construção das escalas e pensar o corpo como escala nas lutas antiextrativistas latino-americanas. O corpo é central para a dominação sobre territórios, mas também é um locus de resistência. O caso da luta e do feminicídio territorial da lideresa indígena hondurenha Berta Cáceres, assassinada em 2016, nos permite entrever essa disputa socioterritorial. Nosso argumento central é que a política de escalas se vincula a uma dinâmica constante de poder e resistência, entre sentidos diferentes de mundo e materialidades também distintas. A dinâmica do poder está associada a uma construção de escala vinculada ao Estado, da qual subjaz uma visão estadocêntrica e estanque das fronteiras, construída a partir de uma violência militarizada e masculinizada, e da subalternização e negação de alteridade do que não se enquadra no que chamamos de fronteiras fixas do Estado masculinista. A dinâmica de resistência que se opõe àquela está associada a perspectivas territoriais feministas, em que a noção de corpo-território ilustra a imbricação entre estas duas noções tanto em uma chave defensiva, quanto em uma chave inventiva. A construção de escala a partir dessa perspectiva está vinculada a essa ligação entre corporeidade e territorialidade, ao comum, aos laços comunitários e à defesa da vida. O caso da construção hidrelétrica Agua Zarca, em Río Blanco (Honduras), que tem relação direta com o assassinato de Berta é reconstruído a partir de uma contextualização histórica de Honduras e da caracterização do (neo)extrativismo como eixo fundamental de análise do continente. Com a luta de Berta Cáceres e do Conselho Cívico de Organizações Populares e Indígenas de Honduras (COPINH) frente a esse megaprojeto, podemos compreender não só disputas entre materialidades e sensibilidades, mas entre projetos e visões de mundo opostas. A escala do corpo, como uma espécie de lente que desloca o olhar, nos permite apreender os conflitos socioambientais de um modo generificado, sem com isso se isolar de outros aspectos.