O brincar, a educação e as crianças Calon do acampamento cigano de Quissamã, RJ: uma fotoetnografia de brincadeiras e de aprendizagens

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Marques, Maria Cristina
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Educação e Humanidades::Faculdade de Educação
Brasil
UERJ
Programa de Pós-Graduação em Educação
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/20206
Resumo: Esta tese pesquisa brincadeiras e cotidianos das crianças Calon residentes no acampamento cigano Mathias, no município de Quissamã, no estado do Rio de Janeiro. O objetivo é, além de apresentar e descrever o dia-a-dia brincante daquelas crianças, discutir a possibilidade de aprender com seu mundo, o que ocasiona tanto um acionamento, pela memória, de nossas próprias infâncias quanto uma ressignificação das imagens dominantes acerca dos povos romani, as quais configuram estereótipos que reduzem os ciganos a sentidos negativos. Assim, adota, como seu fio condutor, um olhar ao mesmo tempo lúdico e crítico. Lúdico porque não apenas cartografa as brincadeiras das crianças Calon, mas envolve-se com elas, fazendo da participação ativa uma ferramenta de pesquisa. E crítico porque as brincadeiras funcionam como disparadores de reflexão acerca do tempo da infância entre os Calon, bem como do aprendizado de seus modos de existir, mesmo em meio aos estigmas que a sociedade brasileira lhes direciona. Este estudo, portanto, procura aprender com e sobre os ciganos Calon do acampamento Mathias. Para tanto, faz-se a partir de um lugar de escuta, o qual é mobilizado face às narrativas brincantes das crianças acerca de seus cotidianos, de seus conflitos e incertezas, de modo a compartilhar, com a sociedade não cigana, seus modos de pensar e agir; seus traços de pertença étnica e comunitária – o que se conecta a uma perspectiva de educação mais inclusiva e plural, que pleiteia políticas públicas específicas para os povos ciganos. A pesquisa se justifica na medida em que a sociedade brasileira tem pouco conhecimento sobre os Calon e, menos ainda, acerca dos sentidos e do cotidiano de suas crianças, o que favorece o enraizamento de preconceitos e estereótipos. Desta forma, ao pretender uma maior divulgação das percepções que os Calon produzem de si mesmos e do mundo, ao invés daquelas organizadas pelo preconceito dos povos não ciganos, esta escrita assume uma postura política de enfrentamento às reduções estigmatizantes às quais os romani foram e ainda são submetidos. Em relação à metodologia, optou-se pela fotoetnografia miúda, tal como proposta por Caputo (2008). Assim, a criança Calon torna-se protagonista do texto, que gira sempre em torno dela – mesmo quando memórias brincantes não ciganas são acionadas, uma vez que estas surgem quando provocadas pelas brincadeiras em Mathias ou em caso de necessidade de propor estímulos alternativos. A partir da fotoetnografia miúda, busca-se o respeito às imagens e a valorização dos diálogos oriundos do dia-a-dia Calon. Neste sentido, voz e imagem das crianças Calon de Mathias permeiam esta tese, convocando à criação dos conceitos de “criante-brincante” e “criante-narrante”, os quais fazem referência à brincadeira de faz de conta tão presente entre as crianças do acampamento. O ato de brincar é o que configura um “criante-brincante”: a criação de gestos e movimentos, o ato de desenhar a própria cultura ou rememorar jogos lúdicos do passado. Já o “criante-narrante” relaciona-se à atividade fabuladora, ou seja, à criação de narrativas que têm como base o cotidiano cigano. A pesquisa revelou que o cotidiano das crianças Calon de Quissamã e suas brincadeiras estão estreitamente associados às tradições de seu povo, sendo que algumas delas permitiram verificar a preservação da cultura do acampamento.