Mobilidade discursiva: considerações sobre a leitura heideggeriana da Retórica de Aristóteles

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Pereira, Pedro Durão Duprat
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Ciências Sociais::Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
Brasil
UERJ
Programa de Pós-Graduação em Filosofia
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/18974
Resumo: Este trabalho trata de dois modos de interpretação distintos da Retórica de Aristóteles. Uma das leituras investigada parte dos estudos do filósofo Martin Heidegger, centrando-se em sua preleção de 1924, que posteriormente foi publicada pelo nome de Grundbegriffe der aristotelischen Philosophie (Os conceitos fundamentais da filosofia de Aristóteles). O autor traz contribuições relevantes e originais sobre o assunto, levando à temática da retórica a uma descrição ontológica divergente da apropriação conceitual dada pela tradição. A retórica é mostrada como pertencente ao logos; os conceitos fundamentais dessa atividade são investigados à luz da transparência dos modos de ser pelos quais o dizer se anuncia. O discurso é descrito por Heidegger pela precedência de um horizonte hermenêutico que transcende o orador, constituído por opiniões prévias que sustentam o desdobramento do dito. Uma situação de discurso específica, em meio à qual o orador diz algo para um público determinado é sempre radicada por um sentido de ser compartilhado. Esse horizonte compreensivo deve ser cultivado pelo orador para que a atividade da retórica ganhe mobilidade, justamente no apelo às opiniões que o porvir discursivo é encaminhado. O destaque à dynamis na leitura de Heidegger dá acento às possibilidades do dizer retórico, pautada na mobilização das opiniões que sustentam uma situação específica. A atenção adequada do orador à compreensão do que o circunda é a condição de possibilidade para o encontro do porvir discursivo. Outro tipo de interpretação parte do comprometimento que a retórica tem com a techne. Desse modo, a explicação do que é a techne é necessária para justificar como os respectivos recursos argumentativos descritos na Retórica estão articulados. Aristóteles indica que a retórica pode ser mediada por meio de um método através do qual os meios de persuasão podem ser encadeados. As provas calcadas no logos, pathos e ethos são investigadas enquanto meios direcionados aos fins, que devem ser estudadas pelo orador para que os meios sejam dispostos de forma adequada. Enquanto um tipo de conhecimento que tem por vista o discurso retórico, a techne é fundamentada a partir da noção metafísica de Aristóteles das quatro causas. Tais explicações causais colaboram para uma elucidação do conceito da techne. As indicações contingentes do ser da retórica são articuladas pela justificação metafísica que dá integralidade epistêmica a essa atividade. Apesar de esses dois tipos de intepretação da retórica serem antagónicos em muitos pontos, não devem ser excludentes; a ontologia retórica descrita por Heidegger é apontada enquanto primária à teorização do discurso baseada numa fundamentação metafísica da techne. O pertencimento da retórica ao discurso habitual é investigado por Heidegger enquanto a prova primária e mais evidente na qual tal fenômeno transcorre. Apenas de forma derivada, marcada por um distanciamento teórico do acontecimento do discurso, a retórica pode ser interpretada pela techne. Tanto a recontextualização de suas condições de emergência quanto a colocação de seus fundamentos são a chave para uma compreensão mais abrangente da retórica.