O poder decisório da mulher no parto: as práticas discursivas dos profissionais e sua relação com a formação em obstetrícia
Ano de defesa: | 2018 |
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Autor(a) principal: | |
Orientador(a): | |
Banca de defesa: | |
Tipo de documento: | Dissertação |
Tipo de acesso: | Acesso aberto |
Idioma: | por |
Instituição de defesa: |
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro Biomédico::Faculdade de Enfermagem BR UERJ Programa de Pós-Graduação em Enfermagem |
Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: | |
Link de acesso: | http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/11448 |
Resumo: | O poder de decisão das mulheres no parto é influenciado pela medicalização, que se caracteriza pelo uso elevado de tecnologias e intervenções, justificadas pela presunção de torná-lo um evento mais seguro. Tal perspectiva consolidou o modelo medicalizado na assistência obstétrica, na qual o parto e o nascimento são equiparados às doenças e não considerados como eventos fisiológicos. A formação profissional pode solidificar estas concepções e práticas, e colocar em segundo plano o poder de escolha das mulheres. Diante disso, o objeto de pesquisa desta dissertação foi o poder decisório da mulher no parto nas práticas discursivas das enfermeiras e médicos em qualificação na área obstétrica. Os objetivos são analisar os sentidos atribuídos ao poder de decisão da mulher no parto nas práticas discursivas das enfermeiras e médicos em processo de qualificação; e discutir as possíveis relações entre os sentidos que emergem dessas práticas e a formação de obstetrícia. Tais discursos foram obtidos a partir de entrevistas individuais com enfermeiras e médicos que cursam a residência na área de obstetrícia em uma maternidade pública no município do Rio de Janeiro, no período de abril a junho de 2017. Os sujeitos discursivos foram onze enfermeiras e onze médicos residentes. O método de análise do discurso foi baseado na genealogia de Michel Foucault, cujo pensamento teórico envolve o discurso, o poder e a subjetivação, que constituíram o alicerce basilar desta pesquisa. Após aplicar a metodologia de análise genealógica, foram construídas duas categorias: 1) Os discursos de controle e vigilância dos médicos e enfermeiras residentes: o Panopticon obstétrico, 2) Os limites do poder de escolha da mulher pelo saber-poder profissional. Os resultados mostraram que o poder de decisão da mulher no parto é limitado por uma rede de relações de poder, representados pelo poder institucional, medicalização da assistência, biopoder, poder disciplinar e o saber profissional. Esta rede explicita a biopolítica da medicalização na obstetrícia, que evidencia a vigilância e o controle da mulher e de seu corpo. Nos discursos há a convergência entre os dois modelos de assistência, medicalizado e desmedicalizado, e o risco é apontado como restrição da possibilidade do normal e no limite para o uso de cuidados não invasivos. Além disso, a falha do pré-natal em informar sobre a fisiologia da gestação e do parto foi narrada por ambos modelos, causando uma visão estereotipada das mulheres, como desinformadas, pouco cooperativas e histéricas. O poder-saber do profissional traz os conceitos das mulheres como não possuidoras de autonomia; com restrito poder de decisão e submetidas ao poder-saber do profissional, que é visto com o conhecimento ou saber verdade. Ainda que os discursos do parto fisiológico defendam a autonomia feminina, conferindo maior amplitude ao poder de decisão da mulher no parto, esses não são capazes de romper as redes das práticas discursivas medicalizadas, por serem discursos periféricos, ou seja, não são considerados um saber verdade. Sob a ótica de Foucault, o poder produz realidades, portanto, as pouquíssimas possibilidades de decisão das mulheres no parto reveladas na pesquisa se relacionam com o não-poder. |