O vôo fênix no canto do cisne : reflexões sobre a vida e a morte no conto "Viver!", de Machado de Assis

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2007
Autor(a) principal: Cavalcanti, Sara Alice Costa
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Educação e Humanidades::Instituto de Letras
BR
UERJ
Programa de Pós-Graduação em Letras
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/6436
Resumo: A partir do conto intitulado Viver! , de Machado de Assis, publicado na Gazeta de Notícias em 1886 e, posteriormente, como parte da coletânea denominada Várias histórias, reunida em livro em 1896, são tecidas considerações literárias e filosóficas sobre o sentimento de tedium vitae num instante imaginário em que o tempo e, conseqüentemente, a vida findará. No conto que dá tema a esta dissertação, o autor coloca em diálogo a lenda do judeu errante e o titã Prometeu, e sugere reflexões sobre a história da civilização vista teleologicamente e o enfaro do homem que assiste à seqüência de ruínas e projetos sonhadores que se antagonizam. A peculiaridade da narrativa fez com que os prefaciadores da edição crítica de Várias histórias, da qual são extraídas as citações a que faremos alusão no presente trabalho, afirmassem que dentre as dezesseis estórias do [nosso] livro, quatro são nitidamente contos filosóficos; [...] Um apólogo , a disquisição gnóstica de Adão e Eva , a comovida crítica das quimeras quiliásticas de Viver! e, finalmente, O Cônego ou metafísica do estilo (ASSIS: 1975). A insólida circunstância a que o autor nos conduz, numa situação de extremo espaço-temporal, permitiu-nos, aventurar considerações de ordem retórica e filosófica e fazer (quem sabe?) herdar questões a respeito do encontro de várias tradições culturais, reinscritas e interagentes na composição da trama literária. A excepcionalidade dessas poucas linhas, escondidas e quase esquecidas dentro do universo machadiano, organizadas na forma de um diálogo grego, evocando terminologias e linhas de pensamento que o leitor costumeiro do célebre contista facilmente reconhecerá, talvez explique o motivo desta dissertação. Eis o que Machado nos oferece - uma trama repleta de relações intra e extratextuais com poder de atrair qualquer um que se detenha diante da obra do autor de Quincas Borba não apenas para passar o tempo. Para melhor conduzir o exame do conto em foco neste trabalho, foram privilegiados três veios de pensamento, a saber: a reinserção mitológica, a retórica e a filosofia. Os referidos temas estão devidamente distribuídos em capítulos que compõem a estrutura desta dissertação segundo esclareceremos a seguir. No primeiro capítulo, Delírios de fogo e de vida , o recurso da reinserção temática é tratado, uma vez que os devaneios in extremis do personagem principal do conto são permitidos graças aos empréstimos que o autor faz à lenda do judeu errante, ao mito de Prometeu, às narrativas que cercam a antiga cidade egípcia de Tebas, provocando um nomadismo mitológico que transporta, utiliza a bagagem que cada citação evoca e inscreve tais narrativas num novo universo textual. A pragmática do convencimento na retórica de que se utiliza o titã constitui o tema do segundo capítulo, intitulado Da campa ao berço, um devaneio in extremis . Trata dos devaneios ocorridos no espaço entre a meditação e o sonho, na expectativa da túnica incorruptível que conceda ao homem um futuro glorioso. Segundo teremos a ocasião de demonstrar, a mensagem, que se diz divina porque científica e vice-versa, é construída retoricamente com o objetivo de acender no homem enfarado por seu árduo caminho o fogo dos deuses. O Diálogo de titãs ocorrido em algum lugar entre vilarejo de Röeken e o Morro do Livramento , expressão que intitula o terceiro capítulo, define a expectativa de abordar as aproximações existentes entre os dizeres de Nietzsche e do escritor brasileiro diante do superlativo humano que viram ser construído, num mundo onde a propaganda cientificista se apresenta como letras douradas num epitáfio e onde, talvez, se deva considerar a possibilidade de viver a partir de uma filosofia que subsista, mesmo que a golpes de martelo. Forjando ao calor da mímesis um diálogo entre mitos, dialogando com sua época, dialogando com o leitor, Machado de Assis também dialoga, tensamente, com a voz que tenta obrigar ao caminho o homem que, primeiramente, se esquiva, para depois se deixar encantar, quase tocando e quase abraçando, as possibilidades sempre adiadas, vivenciadas apenas na dimensão do sonho, como uma condição dada e nunca experimentada de voar