Bruxaria do início ao fim: o Humanitismo como projeto filosófico-(meta)ficcional de Machado de Assis

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Oliveira, Bruno Lima
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Educação e Humanidades::Instituto de Letras
BR
UERJ
Programa de Pós-Graduação em Letras
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/6161
Resumo: Machado de Assis, nosso principal escritor, recebe comumente a alcunha de bruxo do Cosme Velho. O presente trabalho visa evidenciar sua principal bruxaria, qual seja, a de tornar a literatura real, problematizando os conceitos de realidade e ficção. A obra do escritor, à luz da teoria estética de Adorno, pretende elevar a ficção como forma de conhecimento tão importante como quaisquer outras, seja o saber científico, filosófico etc. Para tanto, dá vida a seus personagens, reais porque estéticos, a partir de Memórias póstumas de Brás Cubas, livro escrito, de "outro mundo", por um sujeito que não é mais sujeito e que apresenta um dos axiomas que norteará a pesquisa: A obra em si mesma é tudo. Desse modo, o defunto-autor, da eternidade, desloca-se espacial, temporal e ontologicamente como conduta adequada para pôr em xeque a realidade e realçar a transmissão de conhecimento oferecido pela ficção. O Humanitismo, paradoxalmente, será, portanto, compreendido, para além da filosofia de Quincas Borba, como um projeto literário do próprio Machado de Assis, que atravessa toda a sua obra, desde Ressurreição até Memorial de Aires, configurando um work in progress. A primeira pessoa empregada pelo memorialista Brás Cubas, , em acordo com o projeto encomiástico a favor da ficção, enseja a crítica à noção de sujeito, em diálogo com Nietzsche, no sentido de que a narrativa, inerentemente ficcional, é tudo, incluindo os sujeitos ou que se narram ou que figuram como personagens, sem voz autoral. A colaboração de Machado ao pensamento do alemão suplanta-o, uma vez que Humanitas, "o princípio das coisas, não é outro senão o mesmo homem repartido por todos os homens". Em adição à hipótese a favor da ficção, complementa-a a ideia de que o Emplasto Brás Cubas, ideia maravilhosa do finado memorialista, cuja função é curar a humanidade da hipocondria, é o próprio ato de narrar. Assim, a tese que se apresenta defende ser o Emplasto a metaficção machadiana, perpassando, igualmente, toda a obra do bruxo e, assim, "unificando" o autor Machado de Assis, comumente repartido em Machadinho e Machadão pela crítica especializada. Este existe em continuidade àquele. Ambos são um, o mesmo ente, repartido, como ocorre em sua obra. O Humanitismo é uma filosofia ficcional que surge, com potência, a partir de Memórias póstumas, mas é possível, textualmente, verificar sua gênese nos romances do primeiro Machado. É em continuidade que são escritos os romances do escritor, metaficcionalmente, como a leitura da importância do Emplasto para a arquitetura romanesca ora defendida. A metaficção, todavia, transcende a obra machadiana e recupera, dialogicamente, textos canônicos da literatura universal, em perpétua emulação, da origem dos séculos até a eternidade − em síntese, tudo já estava na ficção desde sempre.