Resumo: |
As disputas de narrativas que defendiam a cassação da presidente Dilma Rousseff como impeachment ou golpe ganharam sonoridade no Brasil. Na cidade de Fortaleza, esses embates tiveram lugares específicos para os apoiadores e os contrários à destituição da presidente. A Praça Portugal e a Praia de Iracema foram pontos de encontro daqueles favoráveis ao impeachment, enquanto a Praça do Ferreira era o local onde se denunciava um golpe de Estado. Na capital cearense, o discurso contrário ao impeachment ganhou muita relevância, chegando a receber nos comícios tanto a presidente Dilma quanto o ex-presidente Lula. Em virtude disso, analisar o processo de recepção do discurso de cassação da presidente em Fortaleza nos faz entender um pouco mais desse conturbado cenário político no qual as Universidades Públicas estão sendo acuadas com discursos ideológicos semelhantes aos panfletos do impeachment. Por isso, a pesquisa teve como proposta analisar como a recepção da cassação da presidente aconteceu na Universidade Estadual do Ceará (UECE). Busca-se compreender como os discentes se posicionaram em relação a esse ato político-jurídico. Verificando posicionamentos ideológicos, filiação partidária, participação nas manifestações de rua e acesso a diferentes meios de comunicação para se informar e interagir sobre a cassação da presidente Dilma. Entende-se que a mídia tradicional brasileira atuou como um player no processo do impeachment, apoiando a legalidade do ato, mas no ambiente universitário isso não foi unanimidade. A resistência a esse discurso de legitimidade do impeachment, nas controversas pedaladas fiscais e na edição de créditos suplementares como crime de responsabilidade, demonstra um contraponto em relação às mídias dominantes do País. Mediante à Teoria da Recepção, o trabalho teve como foco o receptor, um sujeito ativo, produtor de conhecimento, e não um mero reprodutor do emissor da mensagem. Através de uma pesquisa quantitativa, investigou-se o público discente na UECE e suas percepções desse julgamento contra a presidente que traz apreensão aos rumos da democracia no Brasil. A Universidade apresenta uma maioria jovem (92%), de baixa renda (65% classes D e E), antenados com diferentes meios de comunicação (internet, redes sociais, TV), sem filiação partidária (98%) e denunciam um golpe de Estado no Brasil (61%). Entender quem são esses estudantes e seu posicionamento em relação ao impeachment talvez suscite reflexões sobre o desprezo e a perseguição que sofre a Universidade Pública, principalmente as Ciências Humanas, no Brasil. Palavras-chave: Impeachment. Golpe. Teoria da Recepção. |
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