Ramo rê se rai dá certo: enfraquecimento da fricativa /v/ no falar de Fortaleza

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2013
Autor(a) principal: Rodrigues, Ana Germana Pontes
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual do Ceará
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://siduece.uece.br/siduece/trabalhoAcademicoPublico.jsf?id=75167
Resumo: Sob a perspectiva teórico-metodológica da Sociolinguística Variacionista, este estudo aborda, no falar popular de Fortaleza, um fenômeno bastante recorrente: o enfraquecimento da fricativa /v/, cuja realização ocorre tanto com [v] (manutenção) quanto com [h] (aspiração), como em [v]ai ~ [h]ai e ta[v]a ~ ta[h]a. Esse fenômeno tem registros, no falar cearense, desde 1937, e continuou sendo relatado, inclusive, por pesquisadores de outros Estados, principalmente do Nordeste, que registraram essa mesma realização variável em suas cidades. A escolha desse tema justifica-se, primeiramente, pelo fato de o aspecto fonético ser um dos que mais rapidamente revelam as variações linguísticas. Também, por estarmos descrevendo a língua em uso, este trabalho pode contribuir para o ensino de língua materna e estrangeira, ao colaborar para o desenvolvimento da competência comunicativa e ao proporcionar a professores e alunos um melhor conhecimento da diversidade linguística local. O objetivo geral deste trabalho é analisar o efeito de fatores linguísticos (contextos fonológicos precedente e subsequente, tipo de sílaba, tonicidade, status morfológico do segmento, dimensão do vocábulo, classes de palavras, grupo fônico, frequência de uso do segmento) e sociais (gênero/sexo, faixa etária, escolaridade, monitoramento estilístico) sobre a realização variável da fricativa /v/ na comunidade de fala fortalezense. Assim, esses condicionamentos foram testados em uma amostra constituída por 48 informantes, proveniente do projeto Norma Oral do Português Popular de Fortaleza (NORPOFOR). Transcrevemos mais de 20 horas de gravações, obtendo-se um total de 11.017 ocorrências de /v/. Os dados foram submetidos ao programa de análise estatística GoldVarb X (2005) e a interpretação de seus resultados revelou que, das variáveis linguísticas, a mais selecionada foi a frequência de uso, que confirmou nossa hipótese inicial de que quanto mais usual, maior será a probabilidade de um termo enfraquecer; o contexto fonológico subsequente também foi bastante recorrente em nossas análises e, com ele, comprovamos a hipótese de que a vogal [a] seria bastante favorável ao enfraquecimento de /v/, e isso aconteceu não apenas nos contextos em que o morfema /ava/ do pretérito imperfeito do indicativo estava presente. Das variáveis sociais, as mais relevantes foram a faixa etária e a escolaridade. Em relação à primeira, os maiores índices com a variante aspirada ocorreram, preferencialmente, na faixa de 50 anos ou mais, o que confirmou nossa hipótese inicial. Quanto à escolaridade, os resultados apontaram uma atuação positiva ao enfraquecimento de /v/ entre os informantes com escolaridade de 0 a 4 anos, o que reforçou a hipótese de que a variante aspirada é estigmatizada na comunidade de fala fortalezense. Dessa forma, os resultados dessas duas variáveis nos apontaram indícios de uma mudança em progresso. Ao compararmos o comportamento desse fenômeno em Fortaleza com o de outras cidades, como Salvador e João Pessoa, verificamos que, em cada uma delas, esse processo encontra-se em diferentes estágios de implementação. Enfim, acreditamos que a aspiração de /v/ seja uma das peculiaridades do falar fortalezense, que enriquece os elementos sócio-culturais que caracterizam esta comunidade.&nbsp;<div>Palavras-chave: Enfraquecimento de /v/. Sociolinguística variacionista. Falar de Fortaleza.&nbsp;&nbsp;</div>