Se alastrou demais, feito fogo em palha seca: trajetórias lésbicas em uma zona rural

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Maranhão, Renata Queiroz
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual do Ceará
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://siduece.uece.br/siduece/trabalhoAcademicoPublico.jsf?id=109281
Resumo: A pesquisa etnográfica procurou reconstruir e analisar as trajetórias de vida de quatro lésbicas, focalizando seus processos de saída do armário ocorridos em uma pequena zona rural do estado do Ceará. Buscou-se identificar a influência do lugar na construção de uma identidade lésbica e na comunicação desta a terceiros. As trajetórias foram construídas a partir de inúmeros vetores de informação: entrevistas sistemáticas, redes sociais do tipo Instagram e Facebook, conversas pelo WhatsApp (em grupo ou de modo individual) e de observação direta em diversos espaços de sociabilidades (tanto rurais quanto urbanos), em uma relação de camaradagem com duração de cinco anos. Em geral, pode ser ressaltada a predominância da singularidade sobre a regularidade, nos modos como cada uma construiu sua identidade lésbica atribuindo-lhes significados e se oportunizando a vivenciar experiências com outras mulheres. De todo modo, alguns ritornelos apontaram para a emergência da noção de pecado associada à descoberta de seus desejos, a existência de conflitos familiares (e posterior arrefecimento das animosidades) em relação às suas famílias, ao estabelecimento de relações de amizades entre sujeitos LGBTIA+ da pequena localidade e à busca da internet como meio para de obtenção de informação sobre “lesbianidades’ e instrumento de publicitação de suas relações homoafetivas. A emergência de relações lésbicas no meio rural e as redes de apoio construídas nesse espaço indicam a necessidade de rever a ideia de que a zona rural é um lugar impossível para as homossexualidades. Em relação à revelação lésbica, em todos os casos, há uma precocidade, uma predominância e uma determinação do outing sobre o coming out que indica que, apesar das dificuldades da emergência da lésbica em espaços rurais, uma vez que ela emerja na zona rural, o armário parece ser um lugar impossível. Obteve-se ainda que seus processos migratórios foram motivados, sobretudo, pelas dificuldades de ascensão financeira na zona rural em que moravam e que, normalmente, suas vidas na capital se desenrolam com maior isolamento social do que quando habitavam no interior. Na pesquisa que aqui se apresenta, não foi encontrada uma relação segura entre suas vivências urbanas e uma possível anexação política às identidades lésbicas que as garotas construíram.