"Isso é comida de Huni Kuin!": etnobotânica da alimentação indígena no Baixo Rio Jordão, Acre
Ano de defesa: | 2019 |
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Autor(a) principal: | |
Orientador(a): | |
Banca de defesa: | |
Tipo de documento: | Dissertação |
Tipo de acesso: | Acesso aberto |
Idioma: | por |
Instituição de defesa: |
Instituto Nacional Pesquisas da Amazônia - INPA
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Programa de Pós-Graduação: |
Botânica
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: | |
Link de acesso: | https://repositorio.inpa.gov.br/handle/1/12861 http://lattes.cnpq.br/7728685508228965 |
Resumo: | O povo indígena Kaxinawá (autodenominado Huni Kuĩ) é nativo da Amazônia – na fronteira entre o Brasil e o Peru – e detém vasto conhecimento associado à biodiversidade. Este saber ancestral está diretamente relacionado às práticas alimentares e é transmitido de forma oral e empírica, de geração a geração, a tempos imemoriais. Isto porque a alimentação constitui-se elemento central na cultura deste povo, sendo um dos aspectos mais importantes da vida social dos núcleos familiares. Dada a carência de pesquisas botânicas na região, este trabalho trata de investigar, junto à população de três aldeias da Terra Indígena Kaxinawá do Baixo Rio Jordão/AC, as dimensões material e imaterial do uso das plantas na alimentação e sua relação com a segurança e soberania alimentar e nutricional. Para tanto, utilizou-se prioritariamente as metodologias: observação participante, entrevistas semiestruturadas, turnês-guiadas, atividades de grupos focais e oficinas de preparos tradicionais, entre outras. Obteve-se uma descrição detalhada do sistema alimentar tradicional, bem como realizou-se um levantamento das espécies alimentícias encontradas em ambiente silvestre e cultivadas. Além disso, foi possível registrar costumes, dietas, crenças, tabus, cantos e mitos referentes ao universo que conecta as plantas à alimentação. Registrou-se o uso de 145 espécies, em que 89 são nativas da Amazônia Ocidental – o que evidencia a importância dos recursos locais na dieta alimentar. As demais plantas (56) são cultivadas e oriundas de outras áreas da floresta amazônica, bem como de diversas regiões do Brasil e do restante do mundo. Além disso, foram levantados 49 preparos alimentares, todos feitos a partir de combinações de espécies vegetais, oriundas, majoritariamente, das diversas unidades produtivas (roçados, quintais, sistemas agroflorestais e canteiros) e 27 bebidas in natura e quentes. Constatou-se o papel fundamental das mulheres não somente no preparo, mas também na conservação da cultura alimentar. Não obstante, verificou-se o gradual abandono de determinados preparos tradicionais. Isto se deve, possivelmente, à recente introdução de alimentos exógenos nas aldeias, o que motiva a subutilização ou, até mesmo, a substituição de certos recursos alimentares. A partir de relatos dos participantes da pesquisa, percebe-se que estas mudanças no hábito alimentar podem acarretar tanto em prejuízos à saúde quanto em dependência de produtos externos e consequente aumento na geração de resíduos sólidos. Assim, no bojo de uma proposta transdisciplinar de diálogo de saberes, espera-se que esse trabalho contribua tanto para a sistematização científica da tradição cultural indígena, quanto em pautas sobre conservação da sociobiodiversidade amazônica, de modo que seja útil ao processo de construção autônoma de um futuro alternativo para os Huni Kuĩ. |