Ecologia e extrativismo da castanheira (bertholletia excelsa, lecythidaceae) em duas regiões da amazônia brasileira

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2010
Autor(a) principal: Cano, Ricardo Scoles
Orientador(a): Gribel, Rogério
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA
Programa de Pós-Graduação: Ecologia
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://repositorio.inpa.gov.br/handle/1/12233
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4130683A5
Resumo: A castanheira, Bertholletia excelsa, Lecythidaceae, é uma espécie arbórea emergente que forma aglomerações (castanhais) em florestas de terra firme da Amazônia. As áreas de maior concentração de B. excelsa são visitadas sazonalmente por castanheiros (coletores de castanha) para exploração das sementes da espécie, importante fonte de renda para as famílias rurais da região. O presente trabalho teve como objetivo analisar aspectos da ecologia da castanheira e sua estrutura demográfica em duas regiões da Amazônia Brasileira, com diferentes históricos de ocupação e formas de exploração: região do Rio Trombetas (Baixo Amazonas, Pará) e Lago do Capanã Grande (Rio Madeira, Amazonas). Os dados demográficos foram obtidos de 35 castanhais, 25 na região de Trombetas e 10 na região do Capanã Grande em parcelas compridas de 50 x 1.000 m, que cortavam os castanhais aproximadamente ao longo das trilhas percorridas pelos castanheiros. Os indicadores de regeneração foram correlacionados com possíveis variáveis explicativas relacionadas a fatores ecológicos, demográficos e extrativistas. De forma complementar, realizou-se um experimento de plantação de mudas juvenis de castanheira em três habitats (roçado, capoeira, castanhal) com a finalidade de monitorar o desempenho da planta em ambientes onde ela se estabelece de forma natural e/ou induzida, com diferentes condições de entrada de luz. A comparação entre as duas regiões de estudo sugere que a estrutura demográfica das populações é condicionada por fatores antrópicos pretéritos e contemporâneos. No Trombetas, região em que dados históricos sugerem um esvaziamento demográfico a partir do século XVI até um passado recente, a distribuição da população de B. excelsa é dominada por árvores de tamanho intermediário a grande, com pouca presença de jovens. Em contraste, no Rio Madeira, os castanhais apresentam a população de B. excelsa mais jovem, adensada e com maior número de recrutamentos, especialmente naqueles mais próximos aos assentamentos humanos. Os plantios experimentais de castanheira mostraram desenvolvimento muito superior das mudas em ambientes de pleno sol (roçados) do que no ambiente semi-sombreado (capoeira) ou sombreado (sub-bosque do castanhal). Os dados do presente estudo sugerem que a estrutura mais envelhecida no Trombetas seja conseqüência das poucas chances de regeneração desta espécie heliófita em florestas densas e maduras, com alto sombreamento. A castanheira, espécie pioneira de longa vida e produtora de sementes comestíveis, parece ser favorecida por atividades agrícolas e extrativistas passadas e/ou recentes. No Trombetas, testou-se também a influencia das atividades de remoção de sementes por castanheiros na regeneração da espécie. Os resultados não mostraram diferenças significativas entre os sítios com diferentes intensidades de coleta. Em Capanã Grande, igualmente não há qualquer evidencia de que áreas mais visitadas e coletadas apresentem menor regeneração de B. excelsa. Por tanto, não se pode afirmar que a remoção de sementes é prejudicial para a regeneração da espécie em ambas as regiões. Sugere-se que a dinâmica populacional da castanheira depende mais da longevidade dos adultos produtivos que das taxas de recrutamento das sementes produzidas. Nas regiões onde as populações de B. excelsa estão mais envelhecidas, recomenda-se adoção de medidas compensatórias como o enriquecimento com mudas de castanheira em áreas florestais abertas e semi-abertas para favorecer o rejuvenescimento das populações.