Desinformação em nível de rua: como Agentes Comunitários de Saúde lidam com hesitação vacinal dos cidadãos

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Silva, Ergon Cugler de Moraes
Orientador(a): Lotta, Gabriela Spanghero
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Palavras-chave em Espanhol:
Link de acesso: https://hdl.handle.net/10438/35149
Resumo: Esta Dissertação de Mestrado aborda a complexidade da implementação de políticas públicas diante de um contexto imerso em desinformações e fake news, concentrando-se em como lidam os Agentes Comunitários de Saúde (ACSs) da Zona Sul de São Paulo (SP) com casos de hesitação vacinal dos cidadãos. Ao marco dos cem anos da ‘Revolta das Vacinas’ (1904), esta pesquisa identificou uma agenda de pesquisa emergente que explora a conexão entre desinformação e políticas públicas, especialmente na discussão de hesitação vacinal. Como aponta a literatura, no cenário brasileiro, as desigualdades exacerbadas pela COVID-19 e a mobilização antivacina que contou com suporte do ex-presidente Bolsonaro amplificaram os desafios enfrentados pelos ACSs. Logo, propõe-se a seguinte pergunta de pesquisa: ‘Como burocratas de nível de rua lidam com incertezas de ação diante de desinformações na interação com cidadãos?’, tendo como objetivo de pesquisa: 1.) observar se e como os ACSs interagem com o fenômeno da desinformação em casos de hesitação vacinal dos cidadãos; 2.) observar se e como os ACSs lidam com incertezas de ação diante de hesitação vacinal dos cidadãos; 3.) observar se e como os ACSs mobilizam conhecimentos e estratégias para lidar com hesitação vacinal dos cidadãos. A abordagem metodológica incluiu entrevistas semiestruturadas com 40 ACSs, analisando cinco dimensões: 1.) ‘Ação no território’; 2.) ‘Ação em redes’; 3.) ‘Uso de conhecimento’; 4.) ‘Uso de vínculo’; e 5.) ‘Uso de autoridade’. Os resultados revelaram a combinação dessas estratégias pelos ACSs, destacando a importância do vínculo na dosagem das ações diante da hesitação vacinal. Há um Capítulo dedicado a observar como essas cinco estratégias são combinadas pelos burocratas e, nesse sentido, foi possível identificar três perfis de ACSs que lidam com cidadãos hesitantes, sendo: 1.) os menos insistentes, que se restringem a ações protocolares; 2.) um perfil que insiste, mas pondera limites e opta por um estilo mais pedagógico; e 3.) os mais insistentes, incluindo aqueles que dosam a combinação orientando-se pelo vínculo e aqueles que não trazem essa preocupação, ocorrendo episódios de violências partindo dos cidadãos. Esses perfis foram ainda observados pelo grau de escolaridade e pelo tempo de experiência, buscando pistas e oportunidades para as abordagens adotadas diante da hesitação vacinal. Dessa forma, é possível então observar que os burocratas de nível de rua lidam com incertezas de ação, no caso de hesitação vacinal dos cidadãos, combinando estratégias de uso de conhecimento, vínculo e autoridade; gerindo também a dosagem dessas práticas de acordo com a percepção de manutenção do vínculo com o cidadão, buscando evitar romper a relação. Aponta-se, então, que a desinformação pode afetar a implementação de políticas públicas: 1.) na forma como o cidadão acessa ou deixa de acessar as políticas públicas; e 2.) na forma como o burocrata distribui ou deixa de distribuir as políticas públicas. Recomendam-se investigações futuras por meio de abordagens etnográficas, considerando a dinâmica em diferentes regiões do Brasil e a realização de estudos longitudinais para acompanhar a evolução das estratégias dos ACSs diante da hesitação vacinal. A Dissertação almeja contribuir para a literatura de políticas públicas, burocracia de nível de rua, desinformação e hesitação vacinal, oferecendo insights para a implementação de políticas de saúde pública e para a valorização do Sistema Único de Saúde, o SUS.