Quando os elos se partem: os trabalhadores intoxicados pelo benzeno no município de Volta Redonda

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2003
Autor(a) principal: Silva, Cecília Santos da
Orientador(a): Machado, Jorge Mesquita Huet
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/5265
Resumo: Esta dissertação apresenta-se como uma reflexão sobre as dimensões subjetivas do trabalho, sobre o seu significado e as repercussões psicossociais da sua perda. Mais especificamente, é um estudo sobre as alterações na identidade dos trabalhadores afastados do trabalho por adoecimento, caracterizando o grupo dos “nãotrabalhadores”. A reflexão proposta terá como base de análise a avaliação psicossocial realizada pela Secretaria Municipal de Saúde de Volta Redonda com os trabalhadores adoecidos por benzenismo no município, que receberam alta do benefício de acidente do trabalho do Instituto Nacional de Seguridade Social – INSS, após um período médio de 10 anos afastados do trabalho devido o diagnóstico de leucopenia, destacando-se os mecanismos de defesa psicossociais construídos pelos mesmos, em face de sua situação peculiar. A Secretaria Municipal de Saúde de Volta Redonda, através do seu Programa de Saúde do Trabalhador realizou em 1999/2001 várias ações com vistas à reavaliação clínica, ocupacional, neurológica, hematológica e psicossocial dos trabalhadores adoecidos por benzenismo no Município. Cada trabalhador, 158 no total, foi entrevistado individualmente. Nesta etapa da avaliação utilizou-se a técnica de entrevista dirigida, através da qual analisou-se a vivência dos trabalhadores nos períodos pré-afastamento, afastamento e situação atual, bem como suas perspectivas futuras, tendo como eixo de análise o trabalho, a saúde, o relacionamento social e a família. A partir dos perfis psicossociais apresentados nas entrevistas, os trabalhadores foram divididos em grupos, aos quais foi aplicada a técnica de grupos operativos. Os trabalhadores avaliados apresentaram as seguintes alterações psicossociais: perda da identidade psicossocial, estigmatização e perda de expectativa. Essas alterações psicossociais configuram um quadro psicopatológico peculiar: a necessidade de afastamento desses trabalhadores das áreas contaminadas pelo benzeno, somada a especificidade da maioria desses trabalhadores, o que os impossibilita de trabalhar em outra atividade econômica diferente da originária, faz com que mesmo afastados, ou mais precisamente, em virtude desse afastamento, esses trabalhadores continuem gravemente doentes senão mais pelo ponto de vista hematológico, mas pelo ponto de vista psicológico. A desvalorização social sofrida por esses indivíduos, levou-os a efetuar uma transição de identidade, como forma de manter uma certa coesão social, pois, ao perderem o lugar diferenciado de trabalhadores a serviço da Companhia Siderúrgica Nacional – CSN, e o conseqüente prestígio social conferido por tal posição, passaram a identificar-se como um novo grupo – os leucopênicos, arcando com todas as conseqüências psicossociais decorrentes dessa condição.