Sofrimento e prazer no trabalho dos profissionais dos Consultórios na Rua do Município do Rio de Janeiro

• Ano de defesa: 2022
• Autor(a) principal: Abramenko, Ludmila Maria del Lujan
• Orientador(a): Souza, Edinilsa Ramos de
• Tipo de documento: Tese
• Tipo de acesso: Acesso aberto
• Idioma: por
• Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/56672

O presente estudo está dedicado a conhecer a dinâmica prazer e sofrimento no trabalho dos profissionais dos Consultórios na Rua do Município de Rio de Janeiro. Os Consultórios na Rua são equipes multiprofissionais que pertencem à atenção básica, cujo objetivo é o cuidado da população em situação de rua, foram implementados no Brasil desde o ano de 2011. Surgiram de uma luta dos movimentos sociais que defendem os direitos da população em situação de rua. No Município do Rio de Janeiro existem atualmente sete Consultórios na Rua. Todos os Consultórios na Rua (CnR) realizam a maior parte dos atendimentos no território e tem sede numa unidade de atenção básica. Os cuidados dispensados pelos Consultórios na Rua vão desde entrega de medicamentos, tratamento de condições de saúde complexas como tuberculose, tramitação de documentos, atendimentos no território, cuidado para pessoas com uso problemático de substâncias por meio da estratégia de redução de danos, entre outras ações destinadas ao cuidado integral dos sujeitos. O interesse do estudo é conhecer a dinâmica prazersofrimento a partir da própria voz dos trabalhadores que atuam nessas equipes. Prazersofrimento são conceitos utilizados pela psicodinâmica do trabalho, abordagem clínica do trabalho desenvolvida pelo psiquiatra e psicanalista francês Cristophe Dejours. Para Dejours todo trabalho gera um sofrimento pela distância entre o trabalho prescrito, o protocolo que diz como o trabalho deveria ser feito, e o trabalho real. Foram pesquisados três Consultórios na Rua do Município de Rio de Janeiro que atuam em diferentes territórios: Manguinhos, Acari e Centro 1. Foi utilizado o estudo de casos, analisando o trabalho com o qual os trabalhadores lidam no cotidiano. O sofrimento decorrente pode permanecer inalterado em organizações do trabalho muito rígidas ou pode dar lugar ao uso da criatividade de sujeitos e grupos transformando esse sofrimento em prazer, metodologia pela qual cada CnR foi analisado como um estudo de caso, colocando os três em relação. A técnica de coleta de dados contemplou entrevistas individuais com os trabalhadores dos 3 CnR (24 trabalhadores) e três entrevistas grupais com cada equipe. Os dados foram analisados por meio da análise de discurso. Os resultados encontrados foram: os trabalhadores do Consultório na Rua sofrem pela dessubjetivação vivenciada pelos usuários que reflete numa invisibilização do trabalho realizado pelas equipes. Esse sofrimento é causado pelo estigma que dificulta o trabalho em rede, confunde o trabalho realizado com a caridade e deixa os trabalhadores na solidão. O sofrimento também aparece por ser testemunha da violência e o desamparo extremos em que vivem as pessoas em situação de rua e os poucos recursos que as equipes têm para responder devido à desigualdade social, e a precarização laboral a que as equipes estão submetidas. Outro motivo de sofrimento relatado pelos profissionais diz respeito à negligência por parte da gestão. O prazer aparece no vínculo com os usuários, a relação com os colegas de equipe, também pelo reconhecimento da relevância do trabalho desenvolvido pelos profissionais, pelo orgulho de trabalhar no SUS, assim como pela constatação de que seu trabalho faz diferença na vida dos usuários.