Investigação da infecção subclinica por Neisseria meningitidis em populações indigenas no Amazonas

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Lima, Kátia Maria da Silva
Orientador(a): Carvalho-Costa, Filipe Anibal, Barroso, David Eduardo
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/39514
Resumo: A doença meningocócica é causada por Neisseria meningitidis, a qual é uma bactéria de transmissão respiratória que coloniza a nasofaringe humana em cerca de 5-10% da população em geral, normalmente, de forma assintomática. O portador assintomático é o principal elemento na cadeia de transmissão e manutenção em natureza desta bactéria, mesmo durante períodos epidêmicos. Não existem estudos epidemiológicos sobre a infecção por N. meningitidis em populações indígenas no Brasil. Realizamos um estudo epidemiológico de campo do tipo transversal com o objetivo de investigar a infecção assintomática por N. meningitidis em três aldeias indígenas na região do Rio Madeira, no estado do Amazonas: mura (n = 260), Munduruku (n = 268) e mura-pirahã (n = 172).Nas três aldeias incluídas (de acordo com a proximidade e contato com pessoas de centros urbanos), foram examinados com swab da nasofaringe e entrevistados 210 (19% de perda), 268 (0,8% de perda) e 108 (37% de perda) indivíduos, respectivamente. A tipagem fenotípica e genética dos isolados de portadores foi realizada pela técnica de soroaglutinação e de multilocus sequence typing (MLST), respectivamente. O perfil de resistência aos antimicrobianos foi determinado pelo método de E-teste. Na Aldeia São Félix, etnia Mura (bastante contato), encontramos uma prevalência de portadores de N. meningitidis de 2,4% (5/210) e de Neisseria lactamica de 6% (12/210) Na Aldeia Fronteira, etnia Munduruku (pouco contato), encontramos uma prevalência de portadores de N. meningitidis de 1,5% (4/268), enquanto na Aldeia Pirahã do Maicí etnia mura-pirahã (quase nenhum contato), encontramos uma prevalência de portadores de N. meningitidis de 1,9% (2/108). Registro de doença meningocócica, com evolução para óbito, foi reportado apenas na aldeia São Félix, em 2014, em uma criança que estudava na escola, mas não residia na aldeia. A infecção assintomática foi associada ao deslocamento para fora da aldeia ou ao contato íntimo com quem se desloca com frequência nas três aldeias visitadas. A caracterização fenotípica identificou o sorogrupo B em todas as amostras de N. meningitidis isoladas dos portadores. A genotipagem por MLST identificou dois novos tipos sequenciados (ST): ST-13111 (complexo clonal [cc] 1136) e ST-13110 (-). Uma única cepa foi identificada como ST-11406 (-). O ST-13111 (cc1136) foi identificado nas três aldeias incluídas neste estudo. Os portadores foram tratados com azitromicina em dose única: crianças e adultos Todas as cepas foram sensíveis à penicilina, ampicilina, ceftriaxona e cloranfenicol, as quais são utilizadas no tratamento da doença invasiva, além de rifampicina, ciprofloxacina e azitromicina, as quais são utilizadas para o tratamento dos portadores. A investigação identificou uma prevalência de portadores de N. meningitidis semelhante àquela encontrada para indivíduos que não são contatos íntimos de casos de doença meningocócica. Apenas o deslocamento para fora da aldeia como estudar, trabalhar, viajar esteve associado ao estado de portador. A prevalência de N. lactamica, uma espécie não patogênica e comensal da nasofaringe humana, também foi semelhante ao que já foi descrito anteriormente. Os STs identificados são, geralmente, isolados da nasofaringe humana e, raramente, de doença invasiva, o que pode justificar a ausência de casos de doença nas aldeias investigadas. No entanto, ficou demonstrado a introdução e circulação de N. meningitidis nas aldeias indígenas investigadas e, consequentemente, a possibilidade de introdução de cepas hiperinvasivas, as quais podem causar doença invasiva de início abrupto rapidamente progressivo e potencialmente fatal. Assim, o uso de vacinas antimeningocócicas fica justificado como a melhor forma de controle da doença meningocócica nas populações de áreas remota.