Morbidade referida em profissionais da enfermagem: relações com o horário de trabalho, jornada semanal e trabalho doméstico

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2003
Autor(a) principal: Portela, Luciana Fernandes
Orientador(a): Waissmann, William
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/26999
Resumo: O trabalho noturno e as longas jornadas semanais afetam a saúde e vida familiar dos profissionais. O enfoque de gênero é essencial neste contexto, dada a interação entre os trabalhos doméstico e profissional na gênese de alterações à saúde, observada em populações femininas. Este é um estudo exploratório, que visa avaliar associação entre a morbidade fisica/mental e queixas sobre o sono, fadiga e falta de tempo e (a) o horário de trabalho, (b) a longa duração das jornadas profissionais e domésticas e (c) a sobrecarga doméstica em profissionais da enfermagem. A coleta de dados foi realizada em dois hospitais públicos federais, através de questionário e formulário. Os supostos fatores de risco (trabalho noturno, longas jornadas profissional e doméstica e a sobrecarga doméstica) tomados como elementos focais de estudo, foram tratados, em suas relações com efeitos à saúde, através de análises univariadas, de forma a se poder instituir hipóteses, a serem abordadas no estudo longitudinal referido. Participaram do estudo 260 mulheres com idade entre 17 e 64 anos (média=37,4, desvio-padrão=7,4 anos), em sua maioria, casadas (70%). Quanto à categoria profissional, 23,5% eram enfermeiras, 69,2% eram técnicas de enfermagem e 7,3% eram auxiliares de serviços hospitalares; trabalhavam, em média, há 12,7 anos nesta ocupação (dp=5,9 anos). O trabalho noturno (nos hospitais estudados ou em outros locais) se associou a altos níveis de colesterol (quando há mais de 10 anos), à falta de tempo para si, os filhos e o descanso/lazer; ao menor número de atendimentos médicos e de enxaqueca. A jornada profissional superior a 40 h/semana associou-se à falta de tempo para si, a casa, os filhos e o descanso/lazer, mas relacionou-se à redução de problemas de saúde na última quinzena. O relato de enxaqueca e de distúrbio emocional severo foram mais freqüentes dentre as mulheres com carga de trabalho doméstico superior a 28 h/semana que, em contrapartida, foram as que menos se queixaram de problemas digestivos, sonolência e falta de tempo para os filhos e o descanso/lazer. Sobrecarga doméstica (considera tarefas domésticas e número de beneficiados) relacionou-se à falta de tempo para si e ao relato de varizes. Altas prevalências de varizes e de queixas de falta de tempo para si se associaram tanto à alta sobrecarga doméstica, como à alta carga total de trabalho (superior a 84 horas semanais). A prevalência do relato de hipertensão arterial foi menor entre as que detinham maior carga total de trabalho. A conciliação entre as atividades profissional e doméstica se revela complexa, em termos de seu possível impacto à saúde e à vida familiar, considerando que não há como separá-las na análise das relações trabalho-saúde em populações femininas. Os dados indicam caminhos para a realização de estudo longitudinal, com base em amostragem mais ampla, e a necessidade de aprofundamento do tema. É intenção promover maior integração com os Núcleos de Saúde do Trabalhador dos hospitais, de forma a que os resultados deste estudo possam subsidiar ações concretas que visem a melhoria das condições de trabalho nestes hospitais.