Doença mental e Estado Novo: a loucura de um tempo

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2011
Autor(a) principal: Cassília, Janis Alessandra Pereira
Orientador(a): Venancio, Ana Teresa A.
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/19772
Resumo: Esta dissertação analisa a construção de noções de doença mental relativas ao contexto do Estado Novo, presentes no discurso médico-psiquiátrico, do doente e de seu familiar, em documentos clínicos de pacientes internados na Colônia Juliano Moreira em 1942 e 1943. Para tanto utilizamos documentos clínicos de internos que construíram narrativas sobre o Estado Novo, Getúlio Vargas e o contexto sócio-político em que viviam. Ao analisarmos o período do Estado Novo, através do olhar de diferentes personagens que participaram da assistência psiquiátrica àquela época – dos médicos psiquiatras, dos internos e de seus familiares – buscamos contribuir, tanto para a história da psiquiatria, quanto para a historiografia sobre o Estado Novo. Para a elaboração da pesquisa, partimos da premissa de que a constituição do saber médico não é atributo apenas dos avanços científicos, mas decorrente, também, de sua inserção em um contexto sócio-cultural e político específico e que o doente e seu familiar, através da vivência da doença, são produtores de saberes e não apenas objeto passivo do conhecimento médico psiquiátrico. No cruzamento analítico dos discursos percebemos uma circularidade de idéias sobre doença mental, trabalho, a figura de Vargas, os movimentos sócio-políticos e as reformas sociais da época. Verificamos, assim, que, para o discurso médico psiquiátrico, as narrativas dos doentes sobre os eventos sóciopolíticos ocorridos à época foram encaradas como sintomas de doença mental, principalmente em casos diagnosticados como esquizofrenia. Nas narrativas dos doentes observamos que sua experiência de doença está imersa no mundo sócio-político em que viviam. Muitas vezes ela é traduzida como uma perturbação, um mal estar, que não corrobora a noção médica de doença mental e/ou não concorre para a indicação psiquiátrica de internação. Já para os atores do meio sócio-familiar dos pacientes, não são necessariamente as narrativas dos doentes que promoveram sua internação, mas sim sua conduta. Assim como nos discursos dos outros atores sociais, encontramos algumas marcações de diferença entre o gênero feminino e o masculino, de acordo com os papéis considerados como socialmente aceitáveis à época.