Febre Amarela e Malária: investigação de dois surtos zoonóticos no Sudeste brasileiro

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Abreu, Filipe Vieira Santos de
Orientador(a): Oliveira, Ricardo Lourenço de
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/43251
Resumo: Tem-se observado expansão territorial da febre amarela silvestre da área endêmica (Amazônia e parte do Centro-oeste) para o sul e leste no Brasil. Paralelamente, a região serrana do Rio de Janeiro (RJ), onde a malária foi erradicada há décadas, registrava casos humanos autóctones de terçã benigna onde o caso índice não era identificado, sendo a hipótese de origem simiana do parasito aventada por pesquisadores. Entre 2015-2017, o RJ registrou surto de malária e a reemergência do vírus amarílico (YFV), este último se alastrando na Mata Atlântica, considerada indene por quase 80 anos. Registrou-se o maior surto silvestre do YFV no país. Estas situações sanitárias estimularam a realização deste estudo, onde buscamos esclarecer aspectos da transmissão desses agravos a partir de amostragens em primatas não-humanos (PNHs) e mosquitos. Após padronização das técnicas de captura, foi possível coletar e examinar, entre 2015 e 2019, 146 PNHs de seis espécies e 17.940 mosquitos de 89 espécies, em 44 municípios de cinco estados brasileiros sob influência da Mata Atlântica. A única espécie de PNH infectada com Plasmodium sp. foi Alouatta guariba clamitans (N=11), sendo cinco com P. simium/vivax, quatro com P. brasilianum/malariae e dois co-infectados. Polimorfismos de nucleotídeos únicos (SNPs) específicos de P. simium foram encontrados em todos os bugios infectados, e em todos os casos humanos autóctones fluminense, o que, aliado à sobreposição geográfica dos humanos e PNHs infectados, reforça a hipótese da transmissão zoonótica Antes do surto de YFV, a região se mostrava receptiva, com detecção de vetores silvestres tradicionais (Haemagogus e Sabethes) em 82% dos municípios amostrados e PNHs susceptíveis em 100% deles. Após a reemergência do YFV, detectou-se o vírus em duas espécies de PNHs, Callithrix jacchus e A. g. clamitans, e em cinco espécies de mosquitos, Hg. leucocelaenus, Hg. janthinomys, Sa. chloropterus, Aedes scapularis e Ae. taeniorhynchus, os dois primeiros considerados os vetores primários devido às altas taxas de infecção e larga distribuição geográfica nos focos. Mosquitos urbanos ou periurbanos não estavam infectados, reforçando o caráter silvestre do surto. O vírus circulante pertence ao genótipo Sul Americano I, subclado 1E, e apresenta assinatura molecular representada por nove alterações de aminoácidos. O sequenciamento do genoma de 30 YFV obtidos de mosquitos, PNHs e humanos, revelou a circulação recente de duas sub-linhagens em Goiás, uma delas tendo chegado ao RJ e se dividindo em duas cadeias de transmissão \2013 uma costeira e uma continental \2013 separadas pela Serra do Mar. Demonstrou-se que o YFV é capaz de permanecer numa mesma área por três estações de transmissão consecutivas independentemente de nova introdução. Não houve evidência de reemergência da febre amarela urbana a partir do surto de caráter silvestre e nem de circulação silvestre do vírus ZIKV e de outros arbovírus no RJ. Em conjunto, nossos resultados alargam o conhecimento acerca da epidemiologia destas duas zoonoses na Mata Atlântica, confirmam o papel central dos bugios na epidemiologia destes dois agravos e contribuem com informações originais úteis na otimização de processos para vigilância e controle.