Resumo: |
A pesquisa, de natureza teórico-conceitual, aborda algumas das visões e concepções predominantes sobre comunidade que são utilizadas para as ações de saúde nas comunidades. Insere-se numa reflexão mais ampla sobre as relações entre profissionais de saúde e comunidades. Parte da idéia que os profissionais de saúde, ao sair das universidades, não estão preparados para perceber e compreender um conjunto valioso de processos culturais e de formas de comunidade que estão se criando, modificando e desmanchando de forma acelerada, de acordo com as configurações sociais contemporâneas. Parte, também, do reconhecimento da necessidade e das vantagens potenciais de ampliar nossas visões sobre comunidade, indo da rigidez e materialidade, para a flexibilidade e subjetividade, num processo que englobe e integre todas estas dimensões. Nesta reflexão, em primeiro lugar, se apresentam e problematizam algumas discussões que buscam ajudar no entendimento do “senso comum” objetivista, etnocêntrico e biomédico, que usualmente é levado pelos técnicos, profissionais e pesquisadores ao encontro com os Outros coletivos. Visão de mundo que é utilizada, considerando-a “natural”, nas propostas de intervenção e nas ações cotidianas de saúde. O “senso comum” profissional influencia fortemente as visões aceitas e mais usadas sobre comunidade. Em segundo lugar, discutem-se avanços conceptuais na compreensão das comunidades como sistemas complexos e multidimensionais, incorporando a dimensão emocional como forma de entendimento na idéia de comunidade. Terceiro, discutem-se as conceições budistas de interexistência e de engajamento social, como formas complementares e ricas de entendimento racional e meta-racional do comunitário. E finalmente, sugere-se o valor do saber poético, da experiência poética (forma radical do qualitativo) como um método de autotransformação do sujeito sanitário em um ser sanitário poético, sensibilizado e preparado para interiorizar estas novas compreensões. A pesquisa pretende introduzir a discussão da subjetividade sob um ângulo de visão distinto, salientando o valor, a potencialidade e a necessidade que os profissionais da saúde, engajados em processos comunitários, empreendam um trabalho interior (consciente, ativo e continuado), para poder gerar mudanças compreensivas, e novas formas de atuação no campo da saúde comunitária. |
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