Preenchendo lacunas em saúde de ecossistemas: estudo morfológico e de contaminantes nos botos-cinza (Sotalia guianensis, VAN BENÉDEN 1864) da costa norte do Brasil

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2012
Autor(a) principal: Lima, Neusa Renata Emin de
Orientador(a): Siciliano, Salvatore
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/34314
Resumo: Os cetáceos odontocetos são predadores de topo na cadeia alimentar e algumas espécies, como o boto-cinza (Sotalia guianensis), apresentam um padrão de residência e fidelidade ao sítio. Ao longo da vida, por meio da alimentação, podem acumular elevadas concentrações de poluentes nos seus tecidos pelos processos de bioacumulação e biomagnificação. Essas características sustentam o potencial de S. guianensis como sentinela de saúde de ecossistemas costeiros. Os estudos sobre as populações do boto-cinza na norte do Brasil se iniciaram muito recentemente, o que acarretou uma lacuna de conhecimento nesta região. O objetivo deste estudo é caracterizar os estoques populacionais dos botos-cinza da costa norte do Brasil por meio de dados de morfometria craniana e cargas de contaminantes, adicionando informações para uma avaliação ampla do boto-cinza como sentinela de saúde de ecossistemas costeiros. Para o estudo de morfometria craniana do boto-cinza, foram visitadas as coleções zoológicas de quatro instituições brasileiras: MPEG; ICEP/PROCEMA; UENF e ENSP/FIOCRUZ/GEMM-Lagos, e realizadas 36 medidas cranianas em 130 espécimes. Em adição, um total de 27 amostras de músculo de boto-cinza do Amapá (N=7), costa leste da Ilha de Marajó (N=10) e nordeste do Pará (N=10) foi analisado para avaliar as concentrações de mercúrio total (HgT) e metilmercúrio (MeHg) por meio de Espectrometria de Absorção Atômica com sistema para geração de vapor frio (CV-AAS). Para a análise de ∑DDT, pp’-DDT, pp’-DDD, pp’DDE, 19 amostras de gordura de botos-cinza encalhados nas praias da costa leste da Ilha de Marajó (N=7) e APA Algodoal/Maiandeua (N=6), estado do Pará, ou ainda capturados acidentalmente em redes de pesca na costa do estado do Amapá (N=6), foram analisadas por Cromatografia Gasosa (GC). As análises de metais e organoclorados foram realizadas no Laboratório de Toxicologia da Seção de Meio Ambiente do Instituto Evandro Chagas em Belém-PA. Apesar da distribuição aparentemente contínua do boto-cinza na costa do Brasil, foi possível diferenciar as populações do estado do Pará daquelas do Maranhão, Piauí e Rio de Janeiro, por meio do estudo das medidas nos crânios. Por meio da análise de discriminantes, verificou-se que a população do Pará se separa completamente das populações do Rio de Janeiro, e parcialmente das populações do Maranhão e Piauí, com um padrão clinal no crescimento dos crânios no sentido norte/sul da distribuição. A concentração média de HgT nas amostras foi de 0,304 ± 0,337 µg.g-1 , variando entre 0,003 e 1,276 µg.g-1 de peso úmido, e a de MeHg foi de 0,239 ± 0,271 µg.g-1 . A concentração de ∑DDT variou entre 14,06 e 438,74 ng.g-1 lip, com média de 201,96 ng.g-1 lip. Os níveis de HgT e MeHg na costa norte do Brasil são pequenos em relação às concentrações já relatadas para a espécie ao longo da sua distribuição. As concentrações de DDT em botos-cinza dos estuários da Costa Norte do Brasil são baixas em comparação com os outros estudos conduzidos no Brasil. As concentrações registradas, principalmente na região sudeste e sul, são mais de vinte vezes maiores que as observadas neste estudo. Estudos futuros poderão fazer uso do boto-cinza como um indicador para avaliar a saúde dos ecossistemas costeiros e o desenvolvimento de medidas de conservação, reduzindo o impacto antrópico sobre a espécie e o ambiente costeiro.