O uso de plantas medicinais na medicina popular praticada em assentamentos do MST do estado do Rio de Janeiro: uma contribuição para o SUS

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2011
Autor(a) principal: Ricardo, Letícia Mendes
Orientador(a): Stotz, Eduardo Navarro
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/24248
Resumo: No Brasil, as plantas medicinais vêm sendo utilizadas como recursos terapêuticos por grupos sociais e em momentos históricos diferentes. Nas últimas décadas observou-se o desenvolvimento de políticas, programas, regulamentos e recomendações sobre plantas medicinais nas três esferas do governo brasileiro. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) agrega trabalhadores rurais de origens diversas e os acampamentos, pré-assentamentos e assentamentos mantêm diferentes relações com a rede pública de assistência à saúde. Além disso, o Setor de Saúde do movimento incentiva o uso de plantas medicinais e introduz elementos de diferentes racionalidades médicas nas áreas. Nesse contexto, o objetivo geral da presente pesquisa é estudar a concepção do processo saúde-doença-cuidado no uso de plantas medicinais pelos Agentes de Cura em assentamentos do MST / RJ. Possibilita, dessa forma, compreender a utilização do Sistema Único de Saúde (SUS) e de outros sistemas de cura pelos assentados. Foi realizada uma pesquisa qualitativa que buscou promover o encontro de dois métodos – Representações Sociais, segundo a Psicologia Social, e Educação Popular – com a finalidade de compreender a Medicina Popular praticada em sua relação com a “situação-limite” vivida pelos assentados do MST. A Educação Popular como método de análise favorece a identificação de “palavrasgeradoras”, que nessa pesquisa têm um significado profundo para compreender os elementos componentes da Medicina Popular. Seis Agentes de Cura moradores de três áreas organizadas pelo MST / RJ foram entrevistados. Utilizou-se entrevistas semi-estruturadas com roteiro-guia e observação participante. O uso de plantas medicinais e a concepção do processo saúde-doença-cuidado foram descritos e analisados a partir de características convergentes, divergentes e singulares apresentadas pelos Agentes de Cura. Observou-se questões acerca de: colheita / coleta e processamento de plantas medicinais, indicações e precauções, observação e experimentação própria, ampliação do conhecimento, uso religioso de plantas medicinais, etiologia e diagnóstico, eficácia, recursos e sistemas terapêuticos. Muito embora seja polissêmica e heterogênea, elementos comuns observados nas práticas de Medicina Popular baseada em plantas medicinais permitem caracterizá-la como um sistema médico não formal, em disputa permanente, numa situação-limite. Aspectos conflitantes entre a Medicina Popular e a Biomedicina evidenciam que a convivência entre sistemas médicos não é harmônica, uma vez que estão em permanente disputa pelo monopólio do cuidado. O conceito de “campo” desenvolvido por Pierre Bourdieu foi utilizado a fim de compreender tal situação. Nota-se que a “unidade” conferida ao campo da saúde é dada pelos demandantes, seus familiares e amigos, que ao perfazerem itinerários terapêuticos se apropriam e conferem legitimidade aos diferentes sistemas médicos. Nesse sentido, torna-se fundamental para a Saúde Pública buscar compreender as reflexões dos diversos grupos sociais sobre o processo saúde-doença-cuidado e, mais especificamente, sobre os usos dos recursos terapêuticos disponíveis, uma vez que isso influencia consideravelmente as opções terapêuticas feitas. A mediação entre saberes é urgente e delicada. Ampliar os espaços de diálogo entre profissionais e usuários de serviços, além de articular os diferentes conhecimentos, torna-se essencial.