Crianças com condições crônicas complexas de saúde moradoras de uma pediatria: por que é tão difícil desospitalizar?

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Barbosa, Flavia de Oliveira
Orientador(a): Minayo, Maria Cecilia de Souza
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/57431
Resumo: O estudo pretende promover uma discussão sobre a desospitalização de crianças com condições crônicas complexas de saúde que vivem uma internação prolongada e poderiam se beneficiar com o tratamento em casa. Almeja-se também, dar maior visibilidade à situação das crianças que aguardam a efetivação da transição do cuidado seguro para o ambiente familiar. Tem-se como principal objetivo conhecer e analisar a situação de hospitalização por tempo prolongado e a proposta de desospitalização do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG) vinculado a Universidade Federal do Rio de Janeiro, visando a contribuir com propostas de adequação desse processo. O trabalho consiste num estudo exploratório de cunho qualitativo, que busca responder às seguintes questões: estratégias utilizadas pela equipe de saúde e pela gestão do hospital para propiciar a redução do tempo da internação e viabilizar a desospitalização; organização do processo de desospitalização nessa instituição de saúde; fatores que interferem direta e indiretamente no processo de desospitalização e impedem a ida dessas crianças para casa; os obstáculos existentes para as famílias receberem a criança, como elas se organizam e suas percepções sobre sua situação; e o que poderia ser feito para melhorar esse processo. Entre os meses de dezembro de 2021 e janeiro de 2022 foram entrevistados 31 profissionais de saúde, 2 gestores e 5 familiares. O estudo foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa do IPPMG. Os resultados da pesquisa mostraram que o conceito de desospitalização está claro para a maioria dos profissionais e para a gestão, no entanto, as ações são ainda incipientes. São necessárias condições externas (familiares, de acesso a insumos, equipamentos, medicamentos, de apoio dos serviços locais de saúde, da comunidade, das condições das moradias) e internas (uma liderança do processo e uma equipe multiprofissional em dedicação de tempo necessário) para promover a desospitalização prevista pelo Ministério da Saúde. Observa-se a falta de prioridade por parte da gestão de se institucionalizar o processo de desospitalização na unidade sob a escusa de que faltam pessoal e condições objetivas. Nenhuma das crianças citadas realmente conseguiu ainda ir para casa com o devido acompanhamento. Em geral, os familiares têm muitas dúvidas e passam por muitos caminhos tortuosos e sofrimentos para promover o retorno da criança ao lar, entretanto, querem os filhos de volta em casa. Há obstáculos estruturais que contradizem o que propugnam as políticas de proteção: o desamparo por parte do Estado que deixa de prover pessoal, transporte, medicamentos, insumos, alimentação especial, equipamentos e serviços de atendimento domiciliar, além dos longos processos judiciais para a aquisição destes itens. A desospitalização traz um benefício inequívoco para a criança, colocando-a de forma assistida no ambiente familiar, o que significa teoricamente mais qualidade de vida para ela e seus familiares e, para a unidade hospitalar, a redução de custos de internação, diminuição de gastos e maior rotatividade de pacientes, liberando vagas para outras crianças No entanto, tudo isso só pode ser devidamente tratado e equacionado quando há um programa que focalize todas as dimensões e interfaces de um processo de desospitalização adequado.