Efeito antiviral do flavonóide naringenina sobre células humanas infectadas com Zika vírus

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Cataneo, Allan Henrique Depieri
Orientador(a): Bordignon, Juliano, Wowk, Pryscilla Fanini
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/44362
Resumo: O Zika vírus (ZIKV) é o agente causador de uma arbovirose emergente transmitido principalmente através da picada de mosquitos do gênero Aedes spp. O vírus pertence ao gênero Flavivirus, da família Flaviviridae, da qual fazem parte outros vírus de relevância para a saúde pública, como o vírus da dengue, febre amarela e vírus do oeste do Nilo. A infecção pelo ZIKV em humanos é caracterizada por uma doença autolimitada apresentando como sintomas mais frequentes febre baixa, mialgia, exantema, artralgia, dor de cabeça, dor de garganta e vômito. No entanto, manifestações neurológicas após infecção por ZIKV foram observadas nas recentes epidemias da Polinésia Francesa (2013) e do Brasil (2015-2016). Em adultos, síndrome de Guillain-Barré, e em crianças nascidas de mães infectadas anormalidades no desenvolvimento do sistema nervoso central e microcefalia, posteriormente denominada de Síndrome Congênita do Vírus Zika. Apesar da redução nos casos de febre do ZIKV nos últimos anos, o vírus continua em circulação no Brasil, podendo causar novas epidemias. Adicionalmente, cerca de 61 países estão sob risco de novos surtos, uma vez que o inseto vetor está presente nessas regiões. Considerando o exposto, a busca por moléculas com atividade antiviral é de grande importância. Entre os compostos naturais, os flavonóides representam uma classe de compostos com ampla atividade biológica/farmacológica, incluindo atividade antiviral. Portanto, neste estudo foi realizada a avaliação in vitro da atividade antiviral do flavonóide naringenina (NAR) contra ZIKV. Adicionalmente, neste trabalho foi reportado a identificação de um vírus inseto-específico contaminando cepas de ZIKV. Ainda, foram descritos protocolos in vitro e in vivo para eliminar o contaminante dos isolados de ZIKV, uma vez que estes podem interferir com os estudos de atividade antiviral. Com base na atividade antiviral da NAR contra os quatro sorotipos do vírus da dengue, e levando-se em conta a similaridade genética entre dengue e ZIKV, foi avaliada a atividade anti-ZIKV da NAR in vitro. Através de técnicas como citometria de fluxo, imunodetecção por foco, imunofluorescência e RT-qPCR demonstrou-se que a NAR exerce atividade anti-ZIKV de forma dose-dependente. Os resultados demonstram que o efeito anti-ZIKV da NAR é linhagem-independente, tendo efeito contra cepas da linhagem Asiática e Africana do vírus. Além disso, o efeito anti-ZIKV da NAR foi demonstrado em diferentes tipos celulares, incluindo uma linhagem de célula humana neuronal (A172) e células dendríticas derivadas de monócitos humanos (hmdDCs). Os ensaios de tempo de adição da droga sugerem que a NAR atue na inibição da replicação viral, uma vez que o efeito foi observado apenas quando o tratamento foi realizado após a infecção. A análise por docking molecular reforça essa hipótese ao demonstrar que a NAR é capaz de se ligar à protease viral (NS2B-NS3). Ainda, observou-se que adição de cadeias de hidrocarbonetos na molécula de NAR apesar de aumentar a atividade anti-ZIKV mostrou-se mais tóxica para as células, sem efeito aditivo ao índice de seletividade. Desta forma, os dados sugerem que a NAR pode ser uma molécula promissora no desenvolvimento de moléculas anti-ZIKV e futuros estudos pré-clínicos devem ser realizados. Por fim, moléculas sintéticas derivadas da NAR foram testadas na tentativa de reduzir a toxicidade e melhorar o efeito anti-ZIKV, no entanto, dentre as 18 moléculas testadas nenhuma foi mais eficaz que a NAR.