Importância epidemiológica de espécies do subcomplexo Triatoma rubrovaria por meio da análise de competência vetorial e hábito alimentar

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Verly, Thaiane de Sousa
Orientador(a): Britto, Constança Felícia De Paoli de Carvalho, Pavan, Márcio Galvão
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/49208
Resumo: O controle da doença de Chagas, que é causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, concentra-se principalmente na eliminação de vetores com comprovada adaptação aos domicílios humanos. Ainda que insetos vetores domiciliados sejam os de maior importância epidemiológica, vetores autóctones de importância secundária são coletados constantemente em ambientes antrópicos, proporcionando risco de transmissão do parasito para humanos. Este estudo propôs identificar espécies do subcomplexo Triatoma rubrovaria por taxonomia molecular (Cyt b) e analisar seu potencial vetorial na transmissão do parasito no bioma Pampa. Diferentes aspectos relacionados à capacidade vetorial foram avaliados, como fonte alimentar, taxa de infecção e genotipagem parasitária. Em paralelo, parâmetros bionômicos de T. rubrovaria após infecção por T. cruzi foram analisados experimentalmente. Um total de 1.724 triatomíneos foi coletado no Rio Grande do Sul, dos quais 927 insetos tiveram o DNA de seus intestinos extraídos para as análises moleculares. A filogenia do subcomplexo agrupou as 92 amostras sequenciadas com sucesso para o fragmento de Cyt b em nove clados. Das amostras sequenciadas, 19 (20,7%) foram identificadas como T. carcavalloi, 17 (18,5%) como T. circummaculata e 12 (13,04%) como T. rubrovaria. As restantes foram agrupadas em cinco clados sem sequência-referência, sendo quatro no clado 1, três no clado 2, cinco no clado 3, quinze no clado 4 e dezessete no clado 5. Dada a baixa divergência entre as sequências do subcomplexo e a sobreposição das divergências intra e interclados (K2P = 0,0-2,6% e 0,7-5,0%), é provável que os membros do subcomplexo estejam em processo de especiação e que ainda haja fluxo gênico interespecífico. Foram observadas no campo uma taxa de infecção por T. cruzi de 2,8% (26/927), com variação de carga parasitária de 1,5 × 101 a 2,3 × 107 equivalentes de parasito/intestino e a presença de TcI, TcV e coinfecção por TcI + TcIV. A partir de iniciadores universais para vertebrados, doze espécies de mamíferos foram identificadas, além de aves e insetos, sendo Homo sapiens a fonte alimentar detectada com maior frequência (73,5%), seguida de Gallus gallus (33,1%). Para análises de competência vetorial, ninfas N5 de T. rubrovaria e T. infestans foram alimentadas em camundongos infectados com T. cruzi (TcVI), em condições de laboratório. Comparamos a presença e o número de formas evolutivas do parasito nas excretas de ambas as espécies de triatomíneos aos 30, 60 e 90 dias pós-infecção. Triatoma rubrovaria e T. infestans apresentaram resultados semelhantes nas taxas de infecção e metaciclogênese de T. cruzi TcVI. Em relação ao comportamento vetorial, confirmamos que o triatomíneo tende a se afastar do local de picada após o repasto sanguíneo. Diferenças interespecíficas foram observadas quanto ao volume de sangue ingerido e proporção de indivíduos que excretaram após alimentação de sangue, revelando a maior eficiência alimentar e taxa de dejeção de T. infestans. O volume de sangue ingerido e o comportamento de picada de T. rubrovaria parecem ser influenciados pela infecção por TcVI. Espécimes infectados tendem a ingerir ~25% a mais de sangue e a picar mais a cabeça do hospedeiro. Comportamentos de cleptohematofagia e de coprofagia também foram observados em T. rubrovaria. Os resultados obtidos aqui sugerem a necessidade urgente de uma revisão taxonômica do grupo. Ademais, nossas análises evidenciam que T. rubrovaria é um vetor potencial de T. cruzi, apresentando parâmetros bionômicos associados à sua capacidade vetorial semelhantes ao do vetor T. infestans, principalmente quando infectados, alertando para a importância da vigilância entomológica constante nas áreas estudadas.