Vidas negras que se esvaem: experiências de saúde dos funcionários escolares em situação de trabalho

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2004
Autor(a) principal: Chaves, Fátima Machado
Orientador(a): Brito, Jussara Cruz de
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/4490
Resumo: Investigamos como as desigualdades sócio-econômicas, em sua transversalidade com as raciais e as de gênero contribuem para o processo saúde/doença de serventes e merendeiras, responsáveis pela limpeza e pelo preparo e distribuição da alimentação em escolas municipais da cidade do Rio de Janeiro. Elas são, em geral, mulheres negras e pobres, ex-empregadas domésticas. Nas escolas encontram condições de trabalho extremamente precarizadas, contudo conseguem realizar satisfatoriamente as tarefas prescritas, pois contam com as competências adquiridas no universo feminino, criando modos operatórios adequados à variabilidade do processo de trabalho. A dupla, ou até tripla, jornada de trabalho exercida interfere em suas vidas e trabalhos remunerados, potencializando adoecimentos propiciados pelo ambiente escolar, observado pelo número de licenças e/ou readaptações médicas, devido às responsabilidades domésticas, a ausência de descanso e lazer e a repetição dos conteúdos de suas atividades, tipo domésticas. O valor social negativo do trabalho doméstico no Brasil deve-se à sua estigmatização desde o período escravista até a atualidade. Esse trabalho, ainda de responsabilidade feminina, configura-se como um dos fatores de exploração econômica e de dominação de gênero, porém, em maior grau, para as mulheres negras e pobres. As entrevistadas sofreram o “racismo brasileiro”, nunca institucionalizado, de forma circunstancial e interacional. As estratégias de enfrentamento ao racismo foram: negar a existência, ignorando-o; fingir que não aconteceu com elas, apenas com o “outro”. Nas escolas, é pouco visto, mas sentido com os alunos. Algumas enfrentaram-no, valorizando a cultura negra e uma educação inclusiva. As relações entre racismo e saúde podem ser indiretas, derivadas das condições sociais objetivas produtoras de circularidades entre vida, trabalho e adoecimento ou podem ser diretas, vindas das condições subjetivas que acarretam sofrimentos silenciosos. Paradoxalmente, as evidências empíricas das desigualdades sociais geradas pelo racismo não têm sensibilizado os pesquisadores para avaliar seus efeitos na saúde.