Trabalho noturno e sofrimento mental em trabalhadores da saúde de dois hospitais em Manaus, AM

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2014
Autor(a) principal: Arruda, Adenilda Teixeira
Orientador(a): Rotenberg, Lúcia
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/13141
Resumo: Os estudos sobre o trabalho noturno revelam diferenças individuais quanto à tolerância ao horário de trabalho, de forma que alguns trabalhadores desenvolvem doenças, enquanto outros, não. No que se refere à saúde psíquica, são escassos os estudos brasileiros com profissionais da saúde, principalmente em relação a equipes de médicos. O objetivo desta Tese foi investigar o sofrimento psíquico (transtornos mentais comuns e depressão) quanto a sua relação com o horário de trabalho em equipes de enfermagem e de médicos, considerando diferenças individuais entre os trabalhadores. Foi realizado estudo epidemiológico de corte transversal com médicos e equipes de enfermagem de dois hospitais gerais de Manaus (AM), perfazendo um total de 432 trabalhadores (57,7% dos elegíveis). O questionário padronizado abordava aspectos sociodemográficos, do trabalho e da saúde, incluindo o Self Report Questionnaire (SRQ-20) e o Patient Health Questionnaire (PHQ-9) para rastreamento de transtornos mentais comuns (TMC) e depressão, respectivamente. Duas modalidades de análise foram realizadas: (1) os grupos com atuação no trabalho noturno atualmente ou no passado (ex-noturnos) foram comparados àquele sem experiência no trabalho noturno e (2) considerando apenas os trabalhadores noturnos, aqueles que referiram o desejo de deixar os plantões noturnos foram comparados aos que não manifestaram este desejo. O tratamento dos dados incluiu análises bivariadas (teste de qui-quadrado ou Fisher) e análises múltiplas através de regressão logística binomial. A adesão ao estudo foi menor entre os médicos e no hospital público, tendo variado entre 4,6% (médicos do hospital público) a 91,6% na equipe de enfermagem do hospital privado. Considerando as equipes de enfermagem e de médicos, o percentual de mulheres foi de 80,5% e de 30,4%, a idade média foi de 39,3 e de 41,5 anos, sendo a jornada media de 44,2 e 63,1 horas semanais, respectivamente. Em ambas as equipes, a maioria trabalhava em mais de um local e fazia plantões noturnos, sendo baixa a proporção de trabalhadores sem experiência prévia no trabalho noturno (14,4% e 5,4% nas equipes de enfermagem e de médicos). A prevalência de TMC foi de 25,5% e 17,9% nas equipes de enfermagem e de médicos; a prevalência de depressão foi de 13,1% e 8,9%, respectivamente. Embora sem significância estatística, na equipe de enfermagem, os trabalhadores noturnos e ex-noturnos apresentaram maior prevalência de sofrimento psíquico, comparados àqueles sem experiência no trabalho noturno, principalmente quanto à depressão, cuja chance aumentou em 50% e 82%, respectivamente. A chance de manifestar TMC na equipe de enfermagem que refere o desejo de deixar os plantões noturnos foi próxima ao dobro daquela relativa ao grupo que não referia este desejo (OR=1,93; IC95% 0,95-3,90), com significância estatística no valor limítrofe. Os médicos não foram comparados quanto ao horário de trabalho em função da reduzida amostra sem experiência no trabalho noturno. Um percentual significativamente maior de médicos com TMC foi observado entre aqueles que desejavam deixar os plantões noturnos, comparado aos que não manifestavam este desejo (31% e 0%, respectivamente). Os resultados sugerem um possível efeito a longo prazo do trabalho noturno sobre a saúde psíquica, revelando a importância do histórico dos horários de trabalho na análise deste tema. O desejo de deixar o trabalho noturno, utilizado como proxy da satisfação com o horário de trabalho, permitiu distinguir, entre os trabalhadores noturnos, aqueles com maiores chances de manifestar transtornos mentais comuns, relevando diferenças individuais na tolerância ao trabalho noturno. O estudo contribui com reflexões sobre o tema no sentido de subsidiar propostas de melhorias no processo de trabalho destes profissionais, considerando tanto a saúde dos trabalhadores, como aspectos da qualidade da assistência prestada aos pacientes.