Vida, trabalho e saúde de mulheres trabalhadoras do campo no contexto do agronegócio em Mato Grosso

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Beserra, Lucimara
Orientador(a): Hennington, Élida Azevedo
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/56667
Resumo: Este estudo teve como objetivo compreender as condições de vida e saúde de trabalhadoras do campo e suas relações com o agronegócio no município de Nova Olímpia, Mato Grosso. Partiu-se do pressuposto que o agronegócio, um modelo de produção capitalista no campo e de exploração da natureza, baseado na concentração de terras, monoculturas e no uso intensivo de produtos químicos, contribui para o aprofundamento das desigualdades sociais, de gênero e raça, repercutindo no processo saúde-doença e nas condições de vida e trabalho. Foi desenvolvida uma pesquisa qualitativa, com doze entrevistas semiestruturadas, sendo onze trabalhadoras de assentamentos e comunidades rurais, e uma trabalhadora assalariada da usina sucroalcooleira. Para categorização e análise dos dados, utilizou-se a análise temática e os aportes teóricos da ergologia e da interseccionalidade. A ergologia investiga do ponto de vista de quem trabalha o debate de normas e valores que recria de forma contínua e permanente a atividade humana. A interseccionalidade discute as relações de poder de gênero, classe e raça que se entrelaçam e se sobrepõem na sociedade, ancorando-se em sistemas de poder - capitalismo, racismo e patriarcado -, que tendem a afetar, discriminar e excluir pessoas e grupos. No trabalho feminino assalariado rural, identificou-se o desenvolvimento da atividade de produção de mudas e a trajetória de trabalho no plantio e corte de cana-de-açúcar na usina sucroalcooleira, em condições desgastantes de trabalho e permeado por discriminações de gênero. No trabalho das mulheres nos assentamentos destacaram-se as longas jornadas de trabalho, a alta demanda física, o baixo retorno financeiro e a sobrecarga de atividades produtivas e reprodutivas, trabalho doméstico e de cuidado, ligadas à divisão sexual do trabalho. Foram referidos doenças e agravos como distúrbios osteomusculares, adoecimentos mentais, casos de hanseníase e de violência doméstica, e exposição à agrotóxicos. Falta de água para manter a produção agrícola e pecuária e poucos incentivos públicos para a agricultura familiar, foram apontados como problemas, compondo um cenário de vulnerabilização socioambiental. No contexto de fortalecimento político, econômico e social do agronegócio no município e em Mato Grosso, persiste a realidade histórica brasileira de condições precárias de vida das trabalhadoras do campo. É necessário políticas públicas de incentivo à agricultura familiar e agroecologia e o fortalecimento da Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, da Floresta e das Águas, bem como da organização política das mulheres do campo.