Relação saúde-trabalho na atividade de pesca industrial na comunidade de Provetá, Baía da Ilha Grande, Rio de Janeiro

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2014
Autor(a) principal: Amorim, Daniela Maria da Silva
Orientador(a): Hennington, Élida Azevedo
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/37415
Resumo: Este estudo buscou a compreensão sobre a relação saúde/trabalho na pesca industrial a partir da visão dos trabalhadores, considerando as transformações microssociais ocorridas e o contexto socio-histórico de comunidades pesqueiras tradicionais, frente ao desenvolvimento econômico. O produto deste trabalho revelou aspectos inerentes ao meio de vida e trabalho do pescador industrial, tema ainda pouco abordado pela literatura científica quando comparado à pesca artesanal, o que possibilitou trazer um outro olhar em relação à atividade de pesca na atualidade. Nosso lócus de pesquisa foi uma comunidade pesqueira da Baía da Ilha Grande, localizada na cidade de Angra dos Reis, Rio de Janeiro e os sujeitos da pesquisa foram pescadores industriais de diferentes funções na pesca da localidade. Trabalhamos com a abordagem qualitativa, utilizando a entrevista semi-estruturada aliada a outras técnicas de investigação da etnografia como a observação participante para a produção de dados, a fim de fornecer uma visão mais ampliada do cenário de estudo e de seus sujeitos. A análise dos dados foi realizada através do método de análise de conteúdo, na vertente análise temática que, ao final, nos possibilitou aprofundar quatro unidades de análise: “pesca artesanal versus pesca industrial”, “atividade de pesca industrial”, “condições de trabalho – cargas e desgaste” e “normas antecedentes e renormatizações”. Buscou-se identificar as normas antecedentes na atividade, assim como revelar as cargas, os conflitos e tensões presentes no cotidiano de trabalho dos pescadores, mas também afirmando a vida em suas diferentes dimensões e para tal utilizamos a perspectiva teóricometodológica da Ergologia. Os resultados encontrados permitiram revelar que para estes trabalhadores a saúde não aparece como um problema, porque acreditam que as “cargas de trabalho” são inerentes à profissão. Entretanto, as diversas “infidelidades” que surgem no “meio”’, relativas à ação da natureza como o vento, a tempestade e variabilidades do ponto de vista técnico e humano, intensificam o ritmo e repercutem na jornada de trabalho, aumentando o desgaste e a tensão destes trabalhadores no mar. Neste sentido, a figura do “patrão” do barco, o Mestre/Proeirotem um papel fundamental no processo de trabalho, pois ele, como líder do grupo, é convocado a gerir esse meio sempre infiel, fazendo uso de si por si e para os outros, renormatizando em toda situação onde o trabalho prescrito não é suficiente para dar conta da atividade. Contudo, conclui-se que situações de trabalho intensas e/ou adversas geram consequências tanto na saúde quanto no desempenho profissional, pois neste caso, o trabalho se intensifica extrapolando os limites, tanto físico, quanto psíquico. Além disso, o trabalho dos pescadores industriais é marcado pelo excesso de normas de diferentes instituições, pela flexibilização dos contratos de trabalho, que, aliados à omissão do Estado na garantia de direitos trabalhistas e constitucionais, prolonga a situação de vulnerabilidade social dos pescadores. Diante deste cenário, os pescadores mais jovens estão deixando a pesca e a própria comunidade, comprometendo a transmissão do saber-fazer do ofício de pescador e colaborando para o declínio ainda maior da atividade de pesca na localidade.