Avaliação de Biomarcadores em Indivíduos com Doença Falciforme da Região Sul da Bahia

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2016
Autor(a) principal: Aleluia, Milena Magalhães
Orientador(a): Gonçalves, Marilda de Souza
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Instituto Gonçalo Moniz
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/18670
Resumo: INTRODUÇÃO: a doença falciforme (DF) é uma desordem genética com prevalência mundial elevada, clínica heterogênea e cursa com alterações nos parâmetros hematológicos, bioquímicos, presença da talassemia alfa deleção 3.7 Kb, haplótipos ligados ao grupo de genes da globina beta S (βS) e de polimorfismos de um único nucleotídeo (SNPs) relacionados à síntese da HbF. Desta forma, torna-se importante a investigação de biomarcadores associados à gravidade e mecanismos fisiopatológicos da DF. OBJETIVO: investigar a população em estudo, caracterizar o perfil sociodemográfico, eventos clínicos, marcadores laboratoriais e genéticos associados aos mecanismos fisiopatológicos e a gravidade da DF. MÉTODOS: consiste em estudo de corte transversal, com casuística composta por 200 pacientes com DF acompanhados pelo Centro de Referência a Doença Falciforme de Itabuna-Bahia (CERDOFI) e 36 pacientes com anemia falciforme (AF) da Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Estado da Bahia (HEMOBA), Brasil, no período de 2013 a 2015. Os indivíduos apresentavam faixa etária pediátrica e adulta, com 70,5 % (141/200) de pacientes com AF e 29,5 % (59/200) com a doença HbSC. Todos os envolvidos assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido e responderam ao questionário sociodemográfico. Foram realizadas análises dos parâmetros hematológicos, bioquímicos, metabólitos do óxido nítrico (NOm) e investigação do perfil de hemoglobinas por cromatografia líquida de alta performance (HPLC). A talassemia alfa deleção de 3.7kb foi investigada pela reação em cadeia de polimerase (PCR). Os haplótipos ligados ao grupo de genes da globina beta S (βS) foram investigados por PCR e digestão com enzimas de restrição (PCR-RFLP); os SNPs nos genes BCL11A (rs6732518 e rs766432), HMIP (rs11759553 e rs35959442) e OR51B5/6 (rs4910755 e rs7483122), no cromossomo 2, 6 e 11, respectivamente, foram investigados por PCR em Tempo Real utilizando sondas TaqMan. RESULTADOS: entre os pacientes acompanhados pelo CERDOFI, 52,0 % (104/200) eram do o sexo feminino, 22,0 % (44/200) possuíam faixa etária de 6 a 10 anos de idade e 20,0 % (40/200) de 21 a 30 anos (40/200). A cor parda autodeclarada foi descrita em 52,0 % (104/200) dos pacientes. Em relação à idade do primeiro diagnóstico, 38,0 % (76/200) dos pacientes foram diagnosticados até os 6 meses, sendo que 89,5 % (68/76) foram por triagem neonatal. No que se refere à escolaridade, 60,5 % (121/200) relataram algum grau de instrução. Observamos que 87,5 % (70/80) dos pacientes pediátricos fizeram uso de profilaxia medicamentosa. Encontramos que 91,8 % (90/98) das hospitalizações ocorreram entre pacientes os com AF sem uso de hidroxiureia (HU). A frequência da talassemia -α3,7Kb foi de 9% (36/400), sendo 12,5% (4/32) pacientes homozigotos (-α/-α) e 87,5% (28/32) heterozigotos (-/αα); além disso, o haplótipo BEN foi mais frequente, seguido do haplótipo CAR. Entre os biomarcadores investigados nos pacientes com AF, evidenciamos que concentrações elevadas de desidrogenase lática (LDH) corroboram um perfil hemolítico. Os metabólitos do óxido nítrico (NO) demonstraram influência na ativação endotelial, e concentrações elevadas de lipoproteína de alta densidade de colesterol (HDL-C) estiveram associadas a concentrações elevadas de lipoproteína de baixa densidade de colesterol (LDL-C), sugerindo o estabelecimento do subfenótipo dislipidêmico na AF. No que tange a co-herança da talassemia alfa com a AF foi observada melhora do quadro hemolítico, embora haja contribuição para viscosidade sanguínea, corroborando o subfenótipo vaso-oclusivo; além disso, verificamos associação com a contagem diminuída de plaquetas. Na análise dos 177 pacientes com AF acompanhados no CERDOFI e HEMOBA encontramos que em relação ao perfil genético modulador da HbF, o haplótipo CAR foi o mais frequente e associado a concentrações intermediárias de HbF e elevadas de HbS. No que se refere ao tratamento com HU, os pacientes com AF receberam doses de 15, 20 e 25 mg/kg/dia e o tempo de utilização variou de 2 meses a 4 anos e 2 meses, observando melhora no perfil hematológico, com redução na contagem de leucócitos e plaquetas. Além disso, verificamos que a melhora dos parâmetros laboratoriais e perfil clínico estiveram associados ao tempo de utilização. A análise dos SNPs localizados nos genes BCL11A, HMIP e OR51B5/6 demonstrou influência maior sobre o perfil hematológico e a associação do SNP BCL11A rs766432 com a utilização de HU e com o perfil hematológico demonstrando contagem elevada de hemácias, concentração elevada de hemoglobina, contagem menor de plaquetas e concentrações reduzidas de bilirrubina direta e indireta, sugerindo influência maior da presença do SNP na resposta terapêutica à HU. Em relação à caracterização clínica, a associação do SNP BLC11A rs766432 e HU demonstrou diminuição de eventos clínicos; entretanto, a litíase biliar foi mais observada entre os pacientes em uso de HU. Sugerimos que esse evento clínico ocorra de forma independente à presença do SNP e a resposta terapêutica à HU. CONCLUSÃO: concluímos que parâmetros laboratoriais e marcadores genéticos contribuem para compreensão dos mecanismos fisiopatológicos e heterogeneidade clínica da DF na população alvo do presente estudo. Ressaltamos a importância desses marcadores para o seguimento clínico adequado e delineamento de estratégias para o desenho de novos fármacos e modalidades terapêuticas.