Contraceptivos orais combinados utilizados por mulheres na Bahia: perfil epidemiológico e alterações cardiometabólicas e hemostáticas

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2016
Autor(a) principal: Ferreira, Júnia Raquel Dutra
Orientador(a): Gonçalves, Marilda de Souza
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Instituto Gonçalo Moniz
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/18681
Resumo: INTRODUÇÃO: Os contraceptivos orais combinados (COCs) são mundialmente utilizados. Entretanto, apresentam efeitos desfavoráveis no metabolismo lipídico, glicêmico, em variáveis hemostáticas e níveis pressóricos relacionados à dose do componente estrogênico e ao tipo de progestina presente na formulação. Além disso, a condição de saúde e a predisposição genética da mulher que utiliza os COCs podem aumentar o risco cardiovascular e tromboembólico. OBJETIVO: Assim, o presente trabalho estudou mulheres em idade fértil, em uso de contraceptivos orais combinados, que utilizaram o serviço público de saúde na Bahia, através da avaliação de parâmetros cardiometabólicos e hemostáticos e considerando condições médicas pré-existentes. MATERIAL E MÉTODOS: A casuística foi composta por 609 mulheres que apresentaram idade entre 15 e 45 anos, onde 499 mulheres eram usuárias de COCs e 110 mulheres não utilizavam COCs há pelo menos dois anos. Todas assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido e responderam a um questionário sócio-econômico-demográfico, com dados sobre a saúde reprodutiva e o uso de COCs e tiveram a pressão arterial (PA) aferida, bem como o peso e altura e cálculo do índice de massa corporal (IMC). Além disso, foram realizadas análises de marcadores inflamatórios, hematológicos, bioquímicos, perfil hemostático, perfil de hemoglobinas e metabólitos do óxido nítrico (NO). RESULTADOS: Em relação aos COCs, o uso de formulações contendo 20-30 μg de etinilestradiol e 100-250 μg de levonorgestrel foi descrito por 43,7% das mulheres; no geral, a população estudada era predominantemente constituída de mulheres negras e pardas; a maioria declarou ser de baixa renda e ter concluído o ensino médio. Entre as mulheres que utilizavam COCs, 14,2% tinham pelo menos uma contraindicação para o seu uso, onde hipertensão foi a mais frequente (10,6%), seguida de hábito de fumar acima dos 35 anos (2,4%). Além disso, 1,2% das mulheres apresentaram duas ou mais contraindicações para o uso de COCs. Contraindicações de categoria 3, onde os riscos são considerados maiores que os benefícios, foram observadas em 9,8% das mulheres que utilizavam COCs e categoria 4, condição em que os COCs são contraindicados, foi observada em 3,2%. Em relação ao uso de COCs, a obesidade e as alterações nos parâmetros cardiometabólicos, verificou-se que estes fatores estavam associados ao aumento da pressão sistólica (p≤0,001), diastólica (p=0,001), colesterol total (p=0,008), lipoproteína de baixa densidade (p≤0,001), lipoproteína de muito baixa densidade (p≤0,001), triglicerídeos (p≤0,001), proteína C reativa (PCR) (p≤0,001) e metabólitos do NO (p≤0,001) e concentrações diminuídas de lipoproteína de alta densidade (HDL) (p≤0,001). Entretanto, somente os níveis de PCR e HDL apresentaram relevância clínica, os quais são descritos como marcadores associados ao risco cardiovascular. O uso de COCs foi independentemente associado a concentrações diminuídas de HDL, principalmente aqueles de 2ª geração de progestinas (p<0,001; OR=8,976; 95% CI 2,786-28,914). CONCLUSÕES: A avaliação dos parâmetros hematológicos e cardiometabólicos em mulheres portadoras de hemoglobinas (Hb) variantes e usuárias de COCs demonstrou aumentos relevantes nos níveis de PCR em mulheres com HbSC e HbAC os quais parecem estar associados aos diferentes tipos de progestinas presentes nas formulações dos COCs. Além disso, o uso de COCs parece estar associado com diminuição nos níveis de HDL em mulheres HbAC, embora clinicamente irrelevantes. Por outro lado, os níveis de D-dímero estiveram elevados em todas as mulheres portadoras de Hb variantes, independente do uso de COCs. Desta forma, o acompanhamento clínico e laboratorial, considerando o tipo de formulação de COCs prescrita e o histórico familiar, bem como as características médicas relevantes são investigações importantes que devem ser levadas em conta para se evitar desfechos indesejáveis para essas mulheres.