Leitoras entre grades: experiência de leitura literária em um presídio feminino de Santa Catarina

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Main Author: Leal, Rachel Pantalena
Publication Date: 2025
Format: Master thesis
Language: por
Source: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
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Summary: Esta dissertação tem por objetivo investigar como se dá a experiência de leitura de mulheres em privação de liberdade em um presídio feminino de Santa Catarina, isto é, analisar como o sujeito (o indivíduo) submetido a um contexto crítico (Petit, 2021) recebe a leitura, reage e responde a ela, tendo como foco a experiência de livros de literatura lidos através de um projeto de extensão que atua na unidade prisional e está vinculado à remição de pena pela leitura. Assim, foram previstos diversos métodos de coleta, tomados de empréstimos da pesquisa etnográfica (Fonseca, 1998), que envolveram a interação comunicativa entre pesquisador e participante, tais como entrevista com uma interna na unidade, dois grupos focais com participação de nove mulheres e a observação participante realizada em seis encontros, rodas de leitura sobre os livros, totalizando a participação de 29 mulheres presas. Além disso, foi realizada a análise de diários de leitura de 22 participantes sobre esses livros. Como resultados, os dados apontaram um cenário complexo sobre a leitura e a leitora no cárcere. Em condições insalubres para a leitura, essas diversas leitoras, em sua maioria distantes da cultura escrita e sofrendo condições deterioradas de saúde mental, saltam desse lugar e constroem seus habitáculos a partir da leitura (Petit, 2013) que lhes restauram uma posição de sujeito, sustentando um processo de autonomização e resistindo ao processo de mortificação do eu (Goffman, 2015). A partir do acompanhamento das experiências vinculadas aos seis livros do projeto de extensão, observou-se que essas leitoras criaram uma trajetória própria, desvendando os sentidos das páginas lidas. Com frequência, um fragmento, uma cena construída, uma personagem, foi importante para que a leitura fosse, de alguma forma, concretizada, fazendo sentido para a leitora. As leitoras demonstraram um recuo crítico em relação à obra, fazendo observações pertinentes e criativas acerca do texto lido; por outro lado, puderam se envolver com a leitura, acionando emoções que as fizeram rir, chorar, ou mesmo se enfurecer com o texto literário. Em muitos casos, a possibilidade de identificação ativada pelos textos literários fez a leitora trazer experiências da própria vida em diálogo com o que foi lido, propondo interpretações que deram contornos inusitados ao texto literário. Por outro lado, enquanto sujeitos históricos, as leitoras destacaram, em suas leituras, temas de interesse comum, como a violência de gênero e, sobretudo, a maternidade, sendo essas temáticas constantemente ativadas nas experiências de leitura observadas. Para pensar os dados, foi importante compreender o perfil de mulheres vulnerabilizadas pela Justiça brasileira, a partir de Carla Akotirene (2020) e Diná Alves (2017). As discussões propostas pela antropóloga Michelè Petit (2013, 2021), que analisa a leitura em contextos críticos, também foram base para as reflexões aqui realizadas. Os conceitos sistematizados pelo francês Vincent Jouve (2002), como o leitor abstrato, pressuposto pelo texto literário, bem como o leitor real, foram alicerces também para pensar a recepção da leitura dessas leitoras.
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Assim, foram previstos diversos métodos de coleta, tomados de empréstimos da pesquisa etnográfica (Fonseca, 1998), que envolveram a interação comunicativa entre pesquisador e participante, tais como entrevista com uma interna na unidade, dois grupos focais com participação de nove mulheres e a observação participante realizada em seis encontros, rodas de leitura sobre os livros, totalizando a participação de 29 mulheres presas. Além disso, foi realizada a análise de diários de leitura de 22 participantes sobre esses livros. Como resultados, os dados apontaram um cenário complexo sobre a leitura e a leitora no cárcere. Em condições insalubres para a leitura, essas diversas leitoras, em sua maioria distantes da cultura escrita e sofrendo condições deterioradas de saúde mental, saltam desse lugar e constroem seus habitáculos a partir da leitura (Petit, 2013) que lhes restauram uma posição de sujeito, sustentando um processo de autonomização e resistindo ao processo de mortificação do eu (Goffman, 2015). A partir do acompanhamento das experiências vinculadas aos seis livros do projeto de extensão, observou-se que essas leitoras criaram uma trajetória própria, desvendando os sentidos das páginas lidas. Com frequência, um fragmento, uma cena construída, uma personagem, foi importante para que a leitura fosse, de alguma forma, concretizada, fazendo sentido para a leitora. As leitoras demonstraram um recuo crítico em relação à obra, fazendo observações pertinentes e criativas acerca do texto lido; por outro lado, puderam se envolver com a leitura, acionando emoções que as fizeram rir, chorar, ou mesmo se enfurecer com o texto literário. Em muitos casos, a possibilidade de identificação ativada pelos textos literários fez a leitora trazer experiências da própria vida em diálogo com o que foi lido, propondo interpretações que deram contornos inusitados ao texto literário. Por outro lado, enquanto sujeitos históricos, as leitoras destacaram, em suas leituras, temas de interesse comum, como a violência de gênero e, sobretudo, a maternidade, sendo essas temáticas constantemente ativadas nas experiências de leitura observadas. Para pensar os dados, foi importante compreender o perfil de mulheres vulnerabilizadas pela Justiça brasileira, a partir de Carla Akotirene (2020) e Diná Alves (2017). As discussões propostas pela antropóloga Michelè Petit (2013, 2021), que analisa a leitura em contextos críticos, também foram base para as reflexões aqui realizadas. Os conceitos sistematizados pelo francês Vincent Jouve (2002), como o leitor abstrato, pressuposto pelo texto literário, bem como o leitor real, foram alicerces também para pensar a recepção da leitura dessas leitoras.This dissertation aims to investigate the reading experience of women deprived of liberty in a women\'s prison in Santa Catarina. Specifically, it seeks to analyze how the individual, subjected to a critical context (Petit, 2021), receives, reacts to, and responds to reading, with a focus on the experience of reading literary books through an extension project that takes place within the prison and is linked to sentence reduction through reading. To achieve this, various data collection methods were employed, borrowing from ethnographic research (Fonseca, 1998). These methods involved communicative interaction between the researcher and participants, including an interview with an inmate; two focus groups with nine women; and participant observation conducted over six reading circle sessions on the selected books, totaling the participation of 29 incarcerated women. Additionally, 22 reading journals produced by the participants about the books they read were analyzed. The findings revealed a complex landscape of reading and readership within the prison environment. Under insalubrious conditions for reading, these diverse readersmost of whom were distant from written culture and experiencing deteriorated mental healthtranscended their critical circumstances. Through reading, they built personal spaces (Petit, 2013) that restored their sense of self, supporting a process of autonomy and resisting the mortification of the self (Goffman, 2015). By tracking the experiences connected to the six books in the extension project, it was observed that these readers constructed their own interpretative journeys, uncovering meaning in the texts. Often, a passage, a constructed scene, or a character played a crucial role in concretizing the reading experience and making it meaningful to the reader. These women demonstrated critical distance from the literary works, offering insightful and creative observations. At the same time, they engaged emotionally with the texts, reacting with laughter, tears, or even anger. In many cases, the identification process triggered by literary texts led readers to bring their own life experiences into dialogue with what they read, offering interpretations that gave unexpected dimensions to the literary works. On the other hand, as historical subjects, the readers highlighted common themes of interest in their readings, such as gender-based violence and, above all, motherhood, with these themes being constantly activated in the observed reading experiences. To analyze these findings, it was essential to understand the profile of women marginalized by the Brazilian justice system, drawing on the works of Carla Akotirene (2020) and Diná Alves (2017). The discussions proposed by anthropologist Michèle Petit (2013, 2021), who examines reading in critical contexts, also provided a foundation for this study. Additionally, the concepts systematized by French scholar Vincent Jouve (2002), such as the abstract reader presupposed by the literary text and the real reader, were key to understanding how these women engaged with the readings.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPRezende, Neide Luzia deLeal, Rachel Pantalena2025-03-24info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48138/tde-28052025-162148/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2025-07-29T14:44:02Zoai:teses.usp.br:tde-28052025-162148Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212025-07-29T14:44:02Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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