Critérios associados à confiabilidade do depoimento especial em processos penais envolvendo abuso sexual infantil

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Faizibaioff, Danilo Salles
Data de Publicação: 2024
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-19122024-163922/
Resumo: O abuso sexual infantil (ASI) tornou-se objeto de investigação científica na segunda metade do século 20, deflagrando a busca de critérios objetivos e universais capazes de detectar sua ocorrência, especialmente por se tratar de crime cometido às escondidas. Critérios biomédicos como dilação anal, rotura himenal e presença de sêmen logo se mostraram insuficientes para identificar o fenômeno na grande maioria dos casos, o que convocou a contribuição de outras ciências, particularmente a Psicologia Clínica e a Psicopatologia. Estas defenderam que sintomas, dinâmicas intrapsíquicas de ajustamento, comportamentos sexualizados e quadros nosográficos observáveis nas vítimas decorrem do ASI, podendo, logo, funcionar como critérios passíveis de comprovar sua ocorrência. Evidências acumuladas, no entanto, contestaram essa hipótese na virada para o século 21, sugerindo que critérios mais confiáveis residiriam na análise do testemunho infantil sob a ótica da Psicologia Cognitiva Experimental. Também conhecida por Psicologia do Testemunho, esta vertente se debruça sobre a confiabilidade da declaração forense infantil, atualmente produzida por meio do dispositivo do depoimento especial (DE) no curso da instrução processual. Ela aposta na detecção de certos critérios verbais relacionados à maior probabilidade de que o DE analisado seja fruto de legítimas memórias declarativas episódicas das crianças e adolescentes. Este estudo visou explorar os critérios associados à confiabilidade do DE em uma amostra de 90 processos penais envolvendo denúncias de ASI, todos julgados em vara criminal especializada do Poder Judiciário paulista, tendo metade sentenças condenatórias e, metade, absolutórias. Trata-se de pesquisa documental de natureza qualitativa, dada a impossibilidade de se estabelecer um crivo universal de critérios verbais por meio de métodos quantitativos. Os critérios foram extraídos a partir da argumentação dos magistrados ao valorarem o DE em suas sentenças, onde apontam os aspectos do testemunho infantil que mais os influenciaram a condenar ou absolver os réus. Quando o processo analisado havia subido à segunda instância, também se identificaram os critérios utilizados por procuradores e desembargadores, em seus pareceres e acórdãos, para se posicionarem em prol da condenação ou da absolvição. Os critérios que mais se repetiram ou se mostraram relevantes nas peças jurídicas analisadas foram conceituados e categorizados por meio de análise de conteúdo, resultando em quatro categorias de critérios associados à confiabilidade do DE: verbais, não verbais, motivacionais/contextuais e processuais. A partir daí, comparou-se o posicionamento dos julgadores com os achados da Psicologia do Testemunho e de outras áreas da ciência psicológica, notando-se que, na maioria dos casos, eles foram harmônicos. Os pontos de desencontro psicojurídico foram assinalados visando ao aprimoramento das habilidades dos julgadores na difícil tarefa de valorar o DE em processos penais envolvendo ASI, sobretudo diante da falta de outras provas e do princípio constitucional do in dubio pro reo. Finalmente, descreveu-se como se apresentaram, aos julgadores, o DE perfeito ou ideal e o DE menos confiável possível, além de sugestões operacionais para aprimorar a prática profissional de psicólogos judiciários que trabalham com o DE em varas criminais.
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spelling Critérios associados à confiabilidade do depoimento especial em processos penais envolvendo abuso sexual infantilCriteria associated with special testimonys reliability in criminal proceedings regarding child sexual abuseAbuso Sexual InfantilChild Sexual AbuseCriminal Procedural LawDepoimento EspecialDireito Processual PenalForensic PsychologyPsicologia ForenseSpecial TestimonyO abuso sexual infantil (ASI) tornou-se objeto de investigação científica na segunda metade do século 20, deflagrando a busca de critérios objetivos e universais capazes de detectar sua ocorrência, especialmente por se tratar de crime cometido às escondidas. Critérios biomédicos como dilação anal, rotura himenal e presença de sêmen logo se mostraram insuficientes para identificar o fenômeno na grande maioria dos casos, o que convocou a contribuição de outras ciências, particularmente a Psicologia Clínica e a Psicopatologia. Estas defenderam que sintomas, dinâmicas intrapsíquicas de ajustamento, comportamentos sexualizados e quadros nosográficos observáveis nas vítimas decorrem do ASI, podendo, logo, funcionar como critérios passíveis de comprovar sua ocorrência. Evidências acumuladas, no entanto, contestaram essa hipótese na virada para o século 21, sugerindo que critérios mais confiáveis residiriam na análise do testemunho infantil sob a ótica da Psicologia Cognitiva Experimental. Também conhecida por Psicologia do Testemunho, esta vertente se debruça sobre a confiabilidade da declaração forense infantil, atualmente produzida por meio do dispositivo do depoimento especial (DE) no curso da instrução processual. Ela aposta na detecção de certos critérios verbais relacionados à maior probabilidade de que o DE analisado seja fruto de legítimas memórias declarativas episódicas das crianças e adolescentes. Este estudo visou explorar os critérios associados à confiabilidade do DE em uma amostra de 90 processos penais envolvendo denúncias de ASI, todos julgados em vara criminal especializada do Poder Judiciário paulista, tendo metade sentenças condenatórias e, metade, absolutórias. Trata-se de pesquisa documental de natureza qualitativa, dada a impossibilidade de se estabelecer um crivo universal de critérios verbais por meio de métodos quantitativos. Os critérios foram extraídos a partir da argumentação dos magistrados ao valorarem o DE em suas sentenças, onde apontam os aspectos do testemunho infantil que mais os influenciaram a condenar ou absolver os réus. Quando o processo analisado havia subido à segunda instância, também se identificaram os critérios utilizados por procuradores e desembargadores, em seus pareceres e acórdãos, para se posicionarem em prol da condenação ou da absolvição. Os critérios que mais se repetiram ou se mostraram relevantes nas peças jurídicas analisadas foram conceituados e categorizados por meio de análise de conteúdo, resultando em quatro categorias de critérios associados à confiabilidade do DE: verbais, não verbais, motivacionais/contextuais e processuais. A partir daí, comparou-se o posicionamento dos julgadores com os achados da Psicologia do Testemunho e de outras áreas da ciência psicológica, notando-se que, na maioria dos casos, eles foram harmônicos. Os pontos de desencontro psicojurídico foram assinalados visando ao aprimoramento das habilidades dos julgadores na difícil tarefa de valorar o DE em processos penais envolvendo ASI, sobretudo diante da falta de outras provas e do princípio constitucional do in dubio pro reo. Finalmente, descreveu-se como se apresentaram, aos julgadores, o DE perfeito ou ideal e o DE menos confiável possível, além de sugestões operacionais para aprimorar a prática profissional de psicólogos judiciários que trabalham com o DE em varas criminais.Child sexual abuse (CSA) has become a study object of scientific research in the second half of the 20th century, triggering the search for objective and universal criteria capable of detecting its occurrence, particulary because its a hide-and-seek crime. Biomedical criteria such as anal dilatation, hymen breaking and presence of semen soon proved insufficient to identify the phenomenon in the vast majority of cases, which called for contributions from other sciences, such as Clinical Psychology and Psychopathology. They argued that symptoms, intrapsychic adjustment dynamics, sexualized behaviors and nosographic conditions observed in victims result from CSA and could, therefore, function as criteria capable of proving its occurrence. Accumulated evidence, however, challenged this hypothesis at the turn of the 21st century, suggesting that more reliable criteria would reside in the analysis of children\'s testimony since the perspective of Experimental Cognitive Psychology. Also known as Psychology of Testimony, this side focuses on the childs forensic statement reliability, currently produced through the special testimony (ST) device during procedural investigations. It bets on detecting certain verbal criteria related to the greater probability that the ST analyzed results from childrens legitimate episodic declarative memories. This study aimed to explore the criteria associated with STs reliability in a sample of 90 criminal proceedings regarding reports of CSA, all tried in a specialized criminal court from Brazil, with half of them resulting in convictions and, half, in acquittals. This is a qualitative documentary research, given the impossibility of establishing a universal sieve of verbal criteria through quantitative methods. The criteria were extracted from the magistratess arguments when assessing the ST in their sentences, where they point out the aspects of children\'s testimony that most influenced them to convict or acquit the defendants. When the case under analysis had been raised to the second instance, the criteria marked by prosecutors and judges leading themselves to conviction or acquittal, in their opinions and rulings, were also identified. The criteria most frequently repeated or showed as relevant, at the legal documents analyzed, were conceptualized and categorized through content analysis, resulting in four categories of criteria associated with the STs reliability: verbal, nonverbal, motivational/contextual and procedural. Thus, the judges\'s positions were compared to finginds from Psychology of Testimony and other areas of the psychological science, noticing that, in most cases, they were harmonious. The points of psycho-legal disagreement were highlighted aiming the improvement of judges\' skills in order to assessing the ST in criminal cases regarding CSA, whose difficulty is due to the absence of other evidence and the constitutional principle of innocence presumption. Finally, it was described how the perfect or ideal ST and the less reliable ST have been shown to the judges, and operational suggestions to improve the judicial psychologistss professional pratice when working with ST in criminal courts have been debated.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPTardivo, Leila Salomao de La Plata CuryFaizibaioff, Danilo Salles2024-11-08info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-19122024-163922/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2025-01-06T17:54:56Zoai:teses.usp.br:tde-19122024-163922Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212025-01-06T17:54:56Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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