Export Ready — 

DO ABJETO COMO LUMPENPROLETARIAT: ESBOÇO DE UMA LEITURA LACANIANA DE MARX MEDIADA POR GEORGES BATAILLE

Bibliographic Details
Main Author: Maia, Álvaro Lins Monteiro
Publication Date: 2024
Format: Article
Language: por
Source: Revista Dialectus
Download full: https://periodicos.ufc.br/dialectus/article/view/94063
Summary: Diz Marx do proletariado que esse é o estamento social que é dissolução de todo estamento, que é a esfera social que constitui a perda total da humanidade e cuja condição de emancipação é o reganho total dessa humanidade (Crítica da filosofia do direito de Hegel). Por outro lado, caracteriza um Lumpenproletariat, ‘putrefação passiva das camadas mais baixas da velha sociedade’, como, de todos os aliados possíveis, o pior; canalha perfeitamente venal e inteiramente importuna, cuja condição de vida predispõe mais a servir de capanga às forças da reação (Manifesto Comunista). No mesmo século, imagem análoga a essa aparece registrada em jornais e relatórios policiais, onde as “classes da desordem” são caracterizadas como compostas de seres sem escrúpulos, dotados de apetites sexuais exagerados, usando de todos os subterfúgios e não recuando diante de nenhum meio que lhes sirva para ganhar dinheiro. Caracterização que, do alto das forças de coesão/coerção do ordenamento social, opera a identificação da escória social ao proletariado, tomando a prostituta como irmã natural da revolta e ligando numa mesma ordem de sentido os inferninhos, o vício e as barricadas, como indicado por Alphonse Esquiros em Les Vierges folles. Essa intuição permite aproximar, em chave dialética, a posição do estamento que é dissolução de todo estamento à do baixo proletariado; dialética cuja chave se deixa pensar a partir do abjeto batailleano, como negativo que expõe – não apenas um nada, mas, numa negação mais profunda – um menos que nada como objeto-negação-do-objeto na abjeção. Considerada em sua radicalidade, a posição do objeto social abjeto – cuja não cessação da não inscrição, passando pela retorta dos processos de significação, mantém a fantasia da integração (social) – pode, num esforço de determinação expositiva, ser sustentada com o apoio da teoria da prática psicanalítica lacaniana acerca da estrutura do ato psicanalítico. Essa ancoragem permitirá elaborar uma leitura em que o lugar de objeto-abjeto da escória expõe, como núcleo obsceno da ordem social vigente, as condições de instituição da mesma por um ato mesmo de destituição.
id UFC-11_cb32e69311e6951f67b6c9c2f81142ea
oai_identifier_str oai:periodicos.ufc:article/94063
network_acronym_str UFC-11
network_name_str Revista Dialectus
repository_id_str
spelling DO ABJETO COMO LUMPENPROLETARIAT: ESBOÇO DE UMA LEITURA LACANIANA DE MARX MEDIADA POR GEORGES BATAILLELumpenproletariatAbjetoBataille, Georges, 1897-1962Marx, Karl, 1818-1883Lacan, Jacques, 1901-1981Diz Marx do proletariado que esse é o estamento social que é dissolução de todo estamento, que é a esfera social que constitui a perda total da humanidade e cuja condição de emancipação é o reganho total dessa humanidade (Crítica da filosofia do direito de Hegel). Por outro lado, caracteriza um Lumpenproletariat, ‘putrefação passiva das camadas mais baixas da velha sociedade’, como, de todos os aliados possíveis, o pior; canalha perfeitamente venal e inteiramente importuna, cuja condição de vida predispõe mais a servir de capanga às forças da reação (Manifesto Comunista). No mesmo século, imagem análoga a essa aparece registrada em jornais e relatórios policiais, onde as “classes da desordem” são caracterizadas como compostas de seres sem escrúpulos, dotados de apetites sexuais exagerados, usando de todos os subterfúgios e não recuando diante de nenhum meio que lhes sirva para ganhar dinheiro. Caracterização que, do alto das forças de coesão/coerção do ordenamento social, opera a identificação da escória social ao proletariado, tomando a prostituta como irmã natural da revolta e ligando numa mesma ordem de sentido os inferninhos, o vício e as barricadas, como indicado por Alphonse Esquiros em Les Vierges folles. Essa intuição permite aproximar, em chave dialética, a posição do estamento que é dissolução de todo estamento à do baixo proletariado; dialética cuja chave se deixa pensar a partir do abjeto batailleano, como negativo que expõe – não apenas um nada, mas, numa negação mais profunda – um menos que nada como objeto-negação-do-objeto na abjeção. Considerada em sua radicalidade, a posição do objeto social abjeto – cuja não cessação da não inscrição, passando pela retorta dos processos de significação, mantém a fantasia da integração (social) – pode, num esforço de determinação expositiva, ser sustentada com o apoio da teoria da prática psicanalítica lacaniana acerca da estrutura do ato psicanalítico. Essa ancoragem permitirá elaborar uma leitura em que o lugar de objeto-abjeto da escória expõe, como núcleo obsceno da ordem social vigente, as condições de instituição da mesma por um ato mesmo de destituição.Universidade Federal do Ceará (UFC)2024-08-31info:eu-repo/semantics/articleinfo:eu-repo/semantics/publishedVersionapplication/pdfhttps://periodicos.ufc.br/dialectus/article/view/9406310.30611/33n33id94063Revista Dialectus - Revista de Filosofia; v. 33 n. 33 (33): Dossiê Filosofia & Literatura; 366-3882317-201010.30611/33n33reponame:Revista Dialectusinstname:Universidade Federal do Ceará (UFC)instacron:UFCporhttps://periodicos.ufc.br/dialectus/article/view/94063/250690Copyright (c) 2024 Álvaro Lins Monteiro Maiahttps://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0info:eu-repo/semantics/openAccessMaia, Álvaro Lins Monteiro2024-08-31T23:21:33Zoai:periodicos.ufc:article/94063Revistahttp://periodicos.ufc.br/dialectusPUBhttp://periodicos.ufc.br/dialectus/oaidialectus@ufc.br||ef.chagas@uol.com.br||revistadialectus@yahoo.com2317-20102317-2010opendoar:2024-08-31T23:21:33Revista Dialectus - Universidade Federal do Ceará (UFC)false
dc.title.none.fl_str_mv DO ABJETO COMO LUMPENPROLETARIAT: ESBOÇO DE UMA LEITURA LACANIANA DE MARX MEDIADA POR GEORGES BATAILLE
title DO ABJETO COMO LUMPENPROLETARIAT: ESBOÇO DE UMA LEITURA LACANIANA DE MARX MEDIADA POR GEORGES BATAILLE
spellingShingle DO ABJETO COMO LUMPENPROLETARIAT: ESBOÇO DE UMA LEITURA LACANIANA DE MARX MEDIADA POR GEORGES BATAILLE
Maia, Álvaro Lins Monteiro
Lumpenproletariat
Abjeto
Bataille, Georges, 1897-1962
Marx, Karl, 1818-1883
Lacan, Jacques, 1901-1981
title_short DO ABJETO COMO LUMPENPROLETARIAT: ESBOÇO DE UMA LEITURA LACANIANA DE MARX MEDIADA POR GEORGES BATAILLE
title_full DO ABJETO COMO LUMPENPROLETARIAT: ESBOÇO DE UMA LEITURA LACANIANA DE MARX MEDIADA POR GEORGES BATAILLE
title_fullStr DO ABJETO COMO LUMPENPROLETARIAT: ESBOÇO DE UMA LEITURA LACANIANA DE MARX MEDIADA POR GEORGES BATAILLE
title_full_unstemmed DO ABJETO COMO LUMPENPROLETARIAT: ESBOÇO DE UMA LEITURA LACANIANA DE MARX MEDIADA POR GEORGES BATAILLE
title_sort DO ABJETO COMO LUMPENPROLETARIAT: ESBOÇO DE UMA LEITURA LACANIANA DE MARX MEDIADA POR GEORGES BATAILLE
author Maia, Álvaro Lins Monteiro
author_facet Maia, Álvaro Lins Monteiro
author_role author
dc.contributor.author.fl_str_mv Maia, Álvaro Lins Monteiro
dc.subject.por.fl_str_mv Lumpenproletariat
Abjeto
Bataille, Georges, 1897-1962
Marx, Karl, 1818-1883
Lacan, Jacques, 1901-1981
topic Lumpenproletariat
Abjeto
Bataille, Georges, 1897-1962
Marx, Karl, 1818-1883
Lacan, Jacques, 1901-1981
description Diz Marx do proletariado que esse é o estamento social que é dissolução de todo estamento, que é a esfera social que constitui a perda total da humanidade e cuja condição de emancipação é o reganho total dessa humanidade (Crítica da filosofia do direito de Hegel). Por outro lado, caracteriza um Lumpenproletariat, ‘putrefação passiva das camadas mais baixas da velha sociedade’, como, de todos os aliados possíveis, o pior; canalha perfeitamente venal e inteiramente importuna, cuja condição de vida predispõe mais a servir de capanga às forças da reação (Manifesto Comunista). No mesmo século, imagem análoga a essa aparece registrada em jornais e relatórios policiais, onde as “classes da desordem” são caracterizadas como compostas de seres sem escrúpulos, dotados de apetites sexuais exagerados, usando de todos os subterfúgios e não recuando diante de nenhum meio que lhes sirva para ganhar dinheiro. Caracterização que, do alto das forças de coesão/coerção do ordenamento social, opera a identificação da escória social ao proletariado, tomando a prostituta como irmã natural da revolta e ligando numa mesma ordem de sentido os inferninhos, o vício e as barricadas, como indicado por Alphonse Esquiros em Les Vierges folles. Essa intuição permite aproximar, em chave dialética, a posição do estamento que é dissolução de todo estamento à do baixo proletariado; dialética cuja chave se deixa pensar a partir do abjeto batailleano, como negativo que expõe – não apenas um nada, mas, numa negação mais profunda – um menos que nada como objeto-negação-do-objeto na abjeção. Considerada em sua radicalidade, a posição do objeto social abjeto – cuja não cessação da não inscrição, passando pela retorta dos processos de significação, mantém a fantasia da integração (social) – pode, num esforço de determinação expositiva, ser sustentada com o apoio da teoria da prática psicanalítica lacaniana acerca da estrutura do ato psicanalítico. Essa ancoragem permitirá elaborar uma leitura em que o lugar de objeto-abjeto da escória expõe, como núcleo obsceno da ordem social vigente, as condições de instituição da mesma por um ato mesmo de destituição.
publishDate 2024
dc.date.none.fl_str_mv 2024-08-31
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/article
info:eu-repo/semantics/publishedVersion
format article
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv https://periodicos.ufc.br/dialectus/article/view/94063
10.30611/33n33id94063
url https://periodicos.ufc.br/dialectus/article/view/94063
identifier_str_mv 10.30611/33n33id94063
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv https://periodicos.ufc.br/dialectus/article/view/94063/250690
dc.rights.driver.fl_str_mv Copyright (c) 2024 Álvaro Lins Monteiro Maia
https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0
info:eu-repo/semantics/openAccess
rights_invalid_str_mv Copyright (c) 2024 Álvaro Lins Monteiro Maia
https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade Federal do Ceará (UFC)
publisher.none.fl_str_mv Universidade Federal do Ceará (UFC)
dc.source.none.fl_str_mv Revista Dialectus - Revista de Filosofia; v. 33 n. 33 (33): Dossiê Filosofia & Literatura; 366-388
2317-2010
10.30611/33n33
reponame:Revista Dialectus
instname:Universidade Federal do Ceará (UFC)
instacron:UFC
instname_str Universidade Federal do Ceará (UFC)
instacron_str UFC
institution UFC
reponame_str Revista Dialectus
collection Revista Dialectus
repository.name.fl_str_mv Revista Dialectus - Universidade Federal do Ceará (UFC)
repository.mail.fl_str_mv dialectus@ufc.br||ef.chagas@uol.com.br||revistadialectus@yahoo.com
_version_ 1830298152913076224