Análise do conteúdo onírico dos sonhos em surdos congénitos e correlação com as bandas espectrais do EEG

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Main Author: Pires, Joana
Publication Date: 2008
Format: Master thesis
Language: por
Source: Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP)
Download full: http://hdl.handle.net/10400.21/12105
Summary: Introdução: De acordo com teorias vigentes, os sonhos resultam de um processamento de memórias prévias do sonhador, que são activadas através de um estímulo interno. No entanto, a estimulação sensorial externa durante o sono pode também modificar o conteúdo dos sonhos. Os surdos congénitos, sem experiências auditivas prévias e sem estimulação auditiva durante o sono, constituem por isso um interessante modelo para estudar a influência destes dois factores na génese da actividade onírica. Por outro lado, o estudo dos sonhos de indivíduos surdos pode trazer informações relevantes sobre o processamento cerebral da audição nestes sujeitos. Diversos estudos prévios demonstraram que a análise dos correlatos electroencefalográficos da actividade onírica pode fornecer dados relevantes relativamente aos processos cerebrais subjacentes. Objectivos: 1) Analise do conteúdo onírico em surdos congénitos, especificamente dos seus elementos verbais e auditivos; 2) Correlação entre conteúdos oníricos verbais, auditivos e visuais e a potência das bandas espectrais do EEG em determinadas topografias; 3) Avaliação da variação das potências das bandas espectrais do EEG em REM no grupo de surdos e normoauditivos em função da presença de relato onírico. Amostra: 8 surdos congénitos, (idades compreendidas entre 25 e 50 anos), metade homens, e 8 voluntários normoauditivos com idades e sexos emparelhados com grupo de surdos. Métodos: Colheita de sonhos por relato espontâneo em diário de sonhos em ambulatório (15 dias), seguidos de acordares nocturnos em REM, em laboratório com monitorização de vídeo-Polissonografia completa. Análise de conteúdo: escala normativa de Hall & Van Castle, através do programa DreamStat (Excel), com base na estatística “h” de Cohen. Análise das bandas espectrais do EEG: foi realizado mapeamento de 5 minutos de REM que antecederam os acordares nocturno. Foram calculadas as potências relativas das convencionais bandas de frequência (delta, teta, alfa, sigma, beta e gama) utilizando a Transformada Rápida de Fourier (FFT). Os 5 minutos que antecederam os acordares foram divididos em épocas de 30 segundos, numeradas consecutivamente de 1 a 10. No grupo em estudo, a influência do relato e a topografia na variação da potência das bandas espectrais foi analisada através da análise de multivariáveis (Repeat Measurement). Resultados: Os relatos de sonhos dos surdos têm conteúdos auditorias (“eu ouvi o barulho do mar”) (6/296 actividades), e frequentes actividades verbais (25/296). O número de actividades verbais, auditivas e visuais não foi estatisticamente diferente do grupo controlo. Os sonhos dos surdos tiveram significativamente menos personagens conhecidas, familiares, e do sexo masculino, mais interacções agressivas e em que o sonhador é o agressor no sonho, e mais cenários no exterior e desconhecidos. As actividades verbais dos sonhos correlacionaram-se, no grupo controlo, negativamente com as bandas espectrais sigma, alfa e beta nos eléctrodos C3, P3 e T5. No grupo de surdos não foram encontradas correlações significativas. As correlações entre as potências das bandas espectrais e as actividades visuais e auditivas não foram conclusivas nos dois não foram conclusivas nos dois grupos. As 6 bandas espectrais estudadas modificaram-se ao longo do tempo (5 minutos de REM antes do acordar) em relação com a existência de relato e ao grupo em estudo. No grupo de normoauditivos verificou-se uma atenuação das bandas, em especial das de rápida frequência em associação com o relato onírico. No grupo de surdos esta atenuação não foi tão evidente. As várias bandas espectrais parecem evoluir de acordo com um ritmo subjacente, que é atenuado na presença de recordação onírica. Conclusões: Apesar da ausência de estímulos auditivos, sonhos com alucinose auditiva parecem persistir nos sonhos dos surdos congénitos. Apesar da comunicação verbal ser frequente, não foi possível descriminar a linguagem oral da gestual no nosso estudo. Diferenças noutros conteúdos oníricos requerem uma avaliação sistemática sobre a existência de psicopatologia nestes indivíduos. As diferentes correlações electroencefalográficas da actividade verbal nos dois grupos favorecem que se trate de actividades fenomenologicamente diferentes. Foi detectada uma eventual ciclicidade das bandas de frequência, que deverá ser confirmada em estudos futuros.
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Objectivos: 1) Analise do conteúdo onírico em surdos congénitos, especificamente dos seus elementos verbais e auditivos; 2) Correlação entre conteúdos oníricos verbais, auditivos e visuais e a potência das bandas espectrais do EEG em determinadas topografias; 3) Avaliação da variação das potências das bandas espectrais do EEG em REM no grupo de surdos e normoauditivos em função da presença de relato onírico. Amostra: 8 surdos congénitos, (idades compreendidas entre 25 e 50 anos), metade homens, e 8 voluntários normoauditivos com idades e sexos emparelhados com grupo de surdos. Métodos: Colheita de sonhos por relato espontâneo em diário de sonhos em ambulatório (15 dias), seguidos de acordares nocturnos em REM, em laboratório com monitorização de vídeo-Polissonografia completa. Análise de conteúdo: escala normativa de Hall & Van Castle, através do programa DreamStat (Excel), com base na estatística “h” de Cohen. Análise das bandas espectrais do EEG: foi realizado mapeamento de 5 minutos de REM que antecederam os acordares nocturno. Foram calculadas as potências relativas das convencionais bandas de frequência (delta, teta, alfa, sigma, beta e gama) utilizando a Transformada Rápida de Fourier (FFT). Os 5 minutos que antecederam os acordares foram divididos em épocas de 30 segundos, numeradas consecutivamente de 1 a 10. No grupo em estudo, a influência do relato e a topografia na variação da potência das bandas espectrais foi analisada através da análise de multivariáveis (Repeat Measurement). Resultados: Os relatos de sonhos dos surdos têm conteúdos auditorias (“eu ouvi o barulho do mar”) (6/296 actividades), e frequentes actividades verbais (25/296). O número de actividades verbais, auditivas e visuais não foi estatisticamente diferente do grupo controlo. Os sonhos dos surdos tiveram significativamente menos personagens conhecidas, familiares, e do sexo masculino, mais interacções agressivas e em que o sonhador é o agressor no sonho, e mais cenários no exterior e desconhecidos. As actividades verbais dos sonhos correlacionaram-se, no grupo controlo, negativamente com as bandas espectrais sigma, alfa e beta nos eléctrodos C3, P3 e T5. No grupo de surdos não foram encontradas correlações significativas. As correlações entre as potências das bandas espectrais e as actividades visuais e auditivas não foram conclusivas nos dois não foram conclusivas nos dois grupos. As 6 bandas espectrais estudadas modificaram-se ao longo do tempo (5 minutos de REM antes do acordar) em relação com a existência de relato e ao grupo em estudo. No grupo de normoauditivos verificou-se uma atenuação das bandas, em especial das de rápida frequência em associação com o relato onírico. No grupo de surdos esta atenuação não foi tão evidente. As várias bandas espectrais parecem evoluir de acordo com um ritmo subjacente, que é atenuado na presença de recordação onírica. Conclusões: Apesar da ausência de estímulos auditivos, sonhos com alucinose auditiva parecem persistir nos sonhos dos surdos congénitos. Apesar da comunicação verbal ser frequente, não foi possível descriminar a linguagem oral da gestual no nosso estudo. Diferenças noutros conteúdos oníricos requerem uma avaliação sistemática sobre a existência de psicopatologia nestes indivíduos. As diferentes correlações electroencefalográficas da actividade verbal nos dois grupos favorecem que se trate de actividades fenomenologicamente diferentes. Foi detectada uma eventual ciclicidade das bandas de frequência, que deverá ser confirmada em estudos futuros.Universidade de Lisboa, Faculdade de MedicinaPaiva, TeresaRCIPLPires, Joana2020-07-28T14:23:48Z20082008-01-01T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10400.21/12105porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP)instname:FCCN, serviços digitais da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologiainstacron:RCAAP2025-02-12T10:25:20Zoai:repositorio.ipl.pt:10400.21/12105Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireinfo@rcaap.ptopendoar:https://opendoar.ac.uk/repository/71602025-05-28T20:06:21.296089Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP) - FCCN, serviços digitais da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologiafalse
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