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Filosofia e Republicanismo em Cícero

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Main Author: Rocha, Acílio da Silva Estanqueiro
Publication Date: 2010
Language: por
Source: Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP)
Download full: http://hdl.handle.net/1822/11546
Summary: É em "De Republica" que Cícero (106-43 a.C.) trata das bases fundacionais do Estado, em demanda, na senda de Platão, de um sistema político ideal, mas impregnado pelo pragmatismo romano. A questão desenrola-se em torno da melhor forma de governo, mas temas como a justiça, a equidade e a educação, mostram-se essenciais na análise; entretanto, o debate empreendido, traz outros temas à discussão, desde as características do verdadeiro estadista, a injustiça, a tirania, a dissolução dos costumes. Neste “Tratado da República” (constituído por seis livros), é eleita a forma de diálogo (como nos diálogos platónicos), em que algumas personalidades, reunidas, debatem esses vários assuntos, que parecem aflorar espontaneamente, numa conversação livre. Orador, estadista e pensador latino, Cícero tornou-se o modelo da expressão latina clássica, caracterizada pela pureza e elegância harmoniosa do estilo. Se, em última instância, é a forma de governo misto a que é proposta, à luz da idiossincrasia romana, resultante do aproveitamento do melhor das três formas clássicas, Cícero, pela boca de Cipião – personagem central do diálogo –, revela que o ponto nevrálgico é aquele em que a liberdade se reencontra com o soberano poder do povo: “(…) e cada República é tal qual a natureza ou a vontade de quem a rege. Assim, em nenhuma outra cidade a liberdade encontra acolhimento a não ser naquela em que o poder supremo pertence ao povo. E nada consegue ser mais doce do que ela, e se ela não for igual, nem sequer é liberdade” (I, 47). O itinerário culmina no Livro Sexto, n’O Sonho de Cipião ("Somnium Scipionis"), onde, depois de muitos circunlóquios, Cipião é instado a dar sua opinião; trata-se agora do prémio que aguarda o estadista ideal, que só no além pode esperar-se; todavia, esse anelo não deixa de incitar à vida activa. Se a prática da virtude política é enaltecida, apresentada como actividade digna do sábio, é porque o bom exercício do governo é um requisito para que as virtualidades da sabedoria estejam em consonância com o Cosmos: somos então transportados, em estilo elegante e espiritualista, a uma paisagem cósmica espiritual, onde nos sentimos em contacto com o infinito do espaço e a eternidade do tempo, com que Cícero encerra a sua obra numa tensão entre “vida contemplativa” e “vida activa”.
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