O Sistema da Poesia Épica Quinhentista - Camões, Corte-Real e os Contemporâneos

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Main Author: Alves, Hélio João dos Santos
Publication Date: 1999
Language: por
Source: Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP)
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Summary: A tese sobre O sistema de poesia épica quinhentista - Camões, Corte-Real e os contemporâneos encontra-se dividida em quatro Partes. A primeira, intitulado «A Semiose da Epopeia no Renascimento», estuda os fundamentos em que assentava a teoria e a composição épicas, desde o classicismo greco-latino até às modificações operadas no subsistema épico que são centralmente pertinentes para a compreensão do corpus de poemas portugueses quinhentistas, como sejam o novo ideário humanístico, a recepção das epopeias canónicos e o estado corrente da teorização literária. O objectivo é o de estabelecer as componentes fundamentais do sistema, alicerçado no que designei por «código épico demonstrativo renovado». Numa segunda Parte procede-se à recensão crítica do corpus português, fazendo notar a individualidade dos poemas (e refutando a ideia de que as obras de outros poetas seguem o «rasto» de Camões), mas enfatizando também a sua profunda homogeneidade sistémica. Os Lusíadas deixam de ser a epopeia primeira e a experiência motivadora da composição dos restantes poemas, aparecendo o eborense Jerónimo Corte-Real e (ainda apenas enquanto promessa) Vasco Mouzinho de Castelbranco como os autores mais dignos de atenção crítica, quer por critérios de história literária, quer pela qualidade dos projectos poéticos. A terceira Parte concentra-se então nas obras mais significativas daqueles pontos de vista, em particular no que diz respeito à avaliação do conceito de «crónica metrificada» tal como foi aplicado ao Segundo Cerco de Diu de Corte-Real, um poema de base «íliádica» com fortes interferências semióticas dos padrões de Ariosto e Lucano, e a Os Lusíadas, epopeia de base «odisseica» com influxos determinantes do Orlando Furioso. Tendo por vectores principais inerentes ao sistema discursivo os princípios da imitação, do louvor e da subversão, o estudo daquela prática chega à tese que considero principal em toda a dissertação no último capítulo desta Parte. Contraponho-me aí à afirmação de Mário de Albuquerque em 1930 de que «[o que diz o] velho do Restelo não é, não pode ser, a opinião de Camões. Como se compreenderia», perguntava o mesmo crítico, «que o poeta fizesse com tanta paixão uma epopeia a celebrar o que julgava um erro?!». Na verdade, pelas conclusões a que cheguei, a nação portuguesa e os seus heróis não mereciam o canto celebratório e tudo indica que o louvor das pessoas e actos tematizados era considerado pela instância autoral um erro. Mas o louvor não obstante fazia-se porque, no sistema discursivo e na situação cultural que procurei descrever em toda a tese, a repreensão e a correcção dos vícios conseguir-se-ia predominantemente através do mesmo louvor. Não existirá contradição, pois, na dialéctica d'OsLusíadas e da epopeia quinhentista portuguesa em geral, que não seja uma contradição resolutiva. Este princípio enunciativo é válido também para as conclusões referentes à última Parte, intitulada «O Maravilhoso: Forma e Significação». Aí, apoiado na teorização e práxis da alegoria épica renascentista essencial ao subsistema literário respectivo, estudam-se as manifestações mais importantes do fenómeno no Portugal do século XVI, nomedamente quando assumem uma disposição macroestrutural. São elas: a máquina alegórica d'Os Lusíadas com as imitações e controvérsias clássicas em seu redor, e as concepções «arquitectónicas» de Corte-Real, desde um primeiro esboço realizado no Segundo Cerco de Diu até à complexa alegoria contínua do Naufrágio e Perdição de Sepúlveda e Leonor. Com este largo conjunto de formulações e interpretações do maravilhoso, a poesia épica quinhentista portuguesa alcandora-se a um lugar de importância cimeira no mundo da epopeia da Idade Moderna, produzindo, ao mesmo tempo, o que são talvez os dois melhores poemas produzidos na Europa entre a morte de Ariosto e a recodificação do género liderada por Torquato Tasso: a célebre obra camoniana e a quase esquecida epopeia dos Sepúlvedas.
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