A educação cosmopolita. Imagens do outro na literatura infantojuvenil traduzida em Portugal (1940-1974)
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Publication Date: | 2022 |
Language: | por |
Source: | Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP) |
Download full: | http://hdl.handle.net/10400.14/45423 |
Summary: | Em Portugal, entre os anos 50 a 70 do século xx, os jovens leitores cresceram com uma dieta de traduções. Ainda que houvesse uma tradição considerável de literatura infantojuvenil em português – muito dos escritores mais conhecidos criaram, numa altura ou noutra, poemas e/ou narrativas para o público mais jovem –, alguns subgéneros primavam pela ausência. Histórias de aventura eram, por exemplo, praticamente inexistentes. Daí que os editores lançassem mãos a traduções de obras estrangeiras e a autores como Enid Blyton, Erich Kästner, Lieutenant X, Jules Verne ou Emilio Salgari, entre outros. O presente artigo debruça-se sobre a controversa autora britânica e as traduções de que foi alvo a partir dos anos 40. Na verdade, Blyton tornou-se uma figura favorita do mercado editorial português, vendo as suas coleções mais famosas traduzidas para português europeu. Falamos de «Os Sete», «Os Cinco», «O Mistério». Juntamente com outras – a «Biblioteca para Raparigas» e a «Biblioteca para Rapazes», bem como as coleções de colégios internos da própria Blyton, como «As Gémeas» e «O Colégio das Quatro Torres» –, estas coleções deram forma à imaginação de gerações de adolescentes numa altura em que o mundo ainda não era global(izado) como hoje e Portugal era o país do «orgulhosamente só». Neste contexto, a leitura de «Os Cinco» constituiu uma inesperada janela para o mundo, familiarizando jovens leitores com povos, instituições e modos de vida diferentes. Recorrendo à memória e à experiência da investigadora, bem como à investigação sobre a receção das coleções, o artigo argumenta que, ao tornar os leitores conscientes da diversidade e ao alimentar um gosto pelo estrangeiro, a leitura destas obras constituiu um convite aos jovens leitores para que imaginassem um mundo diverso do seu – pequenos-almoços ingleses e crianças a acampar sozinhas –, e essa experiência produziu uma comunidade particular em redor da tradução (Venuti, 2000), cultivando uma espécie de convivialidade cosmopolita imaginada. Independentemente do pendor familiar e/ou domesticador dos esforços tradutórios concretos e do conservadorismo das histórias de Blyton, defende-se que estas narrativas terão estimulado uma imaginação cosmopolita que terá tido um impacto na mundividência de, pelo menos, duas gerações de leitores. |
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