Infecção invasiva a Haemophilus influenzae em Portugal: O que mudou após a introdução da vacina para o Haemophilus influenzae serótipo b?

Bibliographic Details
Main Author: Lavado, Paula
Publication Date: 2011
Format: Conference object
Language: por
Source: Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP)
Download full: http://hdl.handle.net/10400.18/341
Summary: Introdução: O Haemophilus influenzae (H. influenzae) é um microrganismo Gram negativo cujo nicho ecológico é o tracto respiratório humano. Para além de colonizar a nasofarínge de pessoas saudáveis, o H. influenzae é normalmente responsável por infecções respiratórias e ainda infecções invasivas graves como a meningite e a septicemia, principalmente nas crianças (Tristram, 2007). As estirpes capsuladas, nomeadamente as de serótipo b (Hib) eram, até à introdução da vacina conjugada, responsáveis pela maior parte dos casos de infecção invasiva (Peltola, 2000). A vacina para o Hib foi licenciada em Portugal em 1994 e incluída no Plano Nacional de Vacinação (PNV) no ano 2000, para crianças até aos 5 anos de idade. Como consequência, as infecções invasivas de serótipo b foram praticamente eliminadas nas populações onde a vacina foi implementada (Wenger, 1998). No entanto, esta vacina não protege contra a infecção invasiva por estirpes não capsuladas (NC) ou de serótipos não b sendo, de momento, as estirpes NC as responsáveis pela maior parte destas infecções (Ladhani et al., 2010; Ulanova & Tsang, 2009). O objectivo deste estudo é o de caracterizar as estirpes de H. influenzae isoladas de doentes com infecção invasiva, no período após a introdução da vacina no PNV do nosso país. Amostra: Foram coleccionadas no Departamento de Doenças Infecciosas do INSA, 154 estirpes, isoladas nos últimos 10 anos (2001 a 2010), em diversos Hospitais em Portugal. Em Janeiro de 2010 foi iniciado um Projecto de “Vigilância Clínica e Epidemiológica da Doença Invasiva por H. influenzae na Criança”, em colaboração com a Sociedade Portuguesa de Pediatria. As estirpes caracterizadas ao abrigo deste projecto (9 estirpes, em 2010) foram incluídas na amostra global, para efeitos de análise de resultados. Métodos: A identificação do H. influenzae foi confirmada pelos procedimentos habituais. O serótipo capsular foi caracterizado por uma técnica de Polymerase Chain Reaction (PCR) que permite classificar as estirpes em diferentes serótipos (de a a f) e em estirpes NC (Falla et al, 1994). A susceptibilidade aos antibióticos foi determinada por microdiluição, para 13 antibióticos, de acordo com as normas do CLSI (2009). A pesquisa de produção de β-lactamase foi efectuada com nitrocefim. Para caracterizar o tipo de enzima, TEM ou ROB, nas estirpes produtoras de β-lactamase, recorreu-se ao PCR multiplex. O Pulsed-Field-Gel-Electrophoresis (PFGE) (Campos et al., 2004) foi a técnica utilizada para estudos de clonalidade e disseminação da infecção. Resultados: A maior parte das estirpes foram isoladas de hemocultura (76%; 117/154), seguindo-se o líquido cefaloraquidiano (18,8%; 29/154) e líquido pleural (5,2% 8/154). Quarenta e nove estirpes (31,8%; 49/154) foram isoladas de crianças (≤ 5 anos). Onze por cento das estirpes (11%; 17/154) eram produtoras de β-lactamase. Todas as β-lactamases foram caracterizadas como tipo TEM. No grupo de estirpes não produtoras de β-lactamase detectaram-se 12 estirpes (8,8%; 12/137) com diminuição da susceptibilidade à ampicilina e ao co-amoxiclave, assim como às cefalosporinas de 2ª geração. Estas estirpes designam-se por BLNAR (β-lactamase negativas e resistentes à ampicilina) pela sua diminuição de afinidade aos antibióticos β-lactâmicos, devido a mutações no gene ftsI, que codifica a PBP3 (Barbosa et al, 2011). Globalmente, observou-se um elevado nível de resistência ao trimetoprim/sulfametoxasol: 19%. A caracterização do serótipo capsular permitiu classificar 120 estirpes (78%; 120/154) como NC, 19 de serótipo b (12,3%; 19/154) e 15 (9,7%; 15/154) de serótipo não-b (3 a, 1 d e 11 f). Discussão: Os dados aqui apresentados, de 154 estirpes invasivas isoladas entre 2001 e 2010 e quando comparados com dados anteriormente publicados (Bajanca et al, 2004) relativos ao período 1989-2001, revelam uma alteração na epidemiologia da infecção invasiva nos dois períodos de estudo. Assim, e em relação ao serótipo capsular, as estirpes NC sofreram um aumento de 38,6% para 78%, contrariamente aos isolados de serótipo b que decresceram acentuadamente, de 60,5% para 12,3%. Foi ainda observado um aumento na percentagem de isolados de serótipo não-b, de 0,8% para 9,7%. Destacamos uma estirpe de serótipo d caracterizada pela primeira vez num lactente, na Europa (Calado et al, 2011). Os dados de um estudo Europeu realizado entre 1996 e 2006 (Ladhani et al., 2010), em 14 países, que reportou 10081 casos de infecção invasiva: 44,3% por H. influenzae NC, 28,1% por Hib e 7,8% por estirpes de serótipo não-b, vão ao encontro dos nossos resultados mais recentes. Verificou-se uma diminuição acentuada nas percentagens de resistência aos antibióticos, concomitantemente com o decréscimo das infecções a Hib: a produção de β -lactamase decresceu de 26,9% para 11%; não se detectam estirpes multiresistentes (resistência simultânea à ampicilina, cloranfenicol, tetraciclina) desde 1996, quando anteriormente esta percentagem era de 34,4%. Assistimos agora à emergência de novos mecanismos de resistência, principalmente de estirpes BLNAR. Conclusão: Os nossos resultados revelam uma alteração na epidemiologia da infecção invasiva a H. influenzae dez anos após a introdução da vacina, com um aumento de estirpes NC e a caracterização de outros serótipos, como serótipos a, d e f, o que nos demonstra a importância de dar continuidade a esta monitorização através de mais e melhores estudos de vigilância. Referências Bibliográficas: • Bajanca P, Caniça M, & the Multicenter Study Group. J Clin Microbiol 2004; 42:807-10. • Barbosa R, Giufrè M, Cerquetti M, & Bajanca-Lavado, P. J Antimicrob Chemother 2011; 66:788-96. • Calado R, Betencourt C, Gonçalves H, Cristino N, Calhau P & Bajanca-Lavado, P. Diagn Microbiol Infect Dis 2011; 69:111-13. • Campos J, Hernando M, Román F, Pérez-Vazquez M, Aracil B, Oteo J et al, J Clin Microbiol 2004; 42:524-9. • Clinical and Laboratory Standards Institute. M100-S19. CLSI, Wayne, PA, USA, 2009. • Falla T, Crook D, Brophy L, Maskell D, Kroll J, Moxon E. J Clin Microbiol 1994; 32:2382-86. • Ladhani S, Slack M, Heath P, von Gottberg A, Chandra M. Ramsay M & EUIBIS participants. Emerg Infect Dis 2010; 16:455-63. • Peltola H. Clin Microbiol Rev 2000; 13:302-17. • Tristam S, Jacobs M & Appelbaum P. Clin Microbiol Rev 2007; 20:368-89. • Ulanova M, Tsang R. Infect Genet Evol 2009; 9:594-605. • Wenger D. Pediatrr Infect Dis J 1998; 17 (Suppl.9):S132-36.
id RCAP_38bb22a6cc2440e55db8b7f1fb666570
oai_identifier_str oai:repositorio.insa.pt:10400.18/341
network_acronym_str RCAP
network_name_str Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP)
repository_id_str https://opendoar.ac.uk/repository/7160
spelling Infecção invasiva a Haemophilus influenzae em Portugal: O que mudou após a introdução da vacina para o Haemophilus influenzae serótipo b?Haemophilus influenzaeVacina HibInfecções respiratóriasIntrodução: O Haemophilus influenzae (H. influenzae) é um microrganismo Gram negativo cujo nicho ecológico é o tracto respiratório humano. Para além de colonizar a nasofarínge de pessoas saudáveis, o H. influenzae é normalmente responsável por infecções respiratórias e ainda infecções invasivas graves como a meningite e a septicemia, principalmente nas crianças (Tristram, 2007). As estirpes capsuladas, nomeadamente as de serótipo b (Hib) eram, até à introdução da vacina conjugada, responsáveis pela maior parte dos casos de infecção invasiva (Peltola, 2000). A vacina para o Hib foi licenciada em Portugal em 1994 e incluída no Plano Nacional de Vacinação (PNV) no ano 2000, para crianças até aos 5 anos de idade. Como consequência, as infecções invasivas de serótipo b foram praticamente eliminadas nas populações onde a vacina foi implementada (Wenger, 1998). No entanto, esta vacina não protege contra a infecção invasiva por estirpes não capsuladas (NC) ou de serótipos não b sendo, de momento, as estirpes NC as responsáveis pela maior parte destas infecções (Ladhani et al., 2010; Ulanova & Tsang, 2009). O objectivo deste estudo é o de caracterizar as estirpes de H. influenzae isoladas de doentes com infecção invasiva, no período após a introdução da vacina no PNV do nosso país. Amostra: Foram coleccionadas no Departamento de Doenças Infecciosas do INSA, 154 estirpes, isoladas nos últimos 10 anos (2001 a 2010), em diversos Hospitais em Portugal. Em Janeiro de 2010 foi iniciado um Projecto de “Vigilância Clínica e Epidemiológica da Doença Invasiva por H. influenzae na Criança”, em colaboração com a Sociedade Portuguesa de Pediatria. As estirpes caracterizadas ao abrigo deste projecto (9 estirpes, em 2010) foram incluídas na amostra global, para efeitos de análise de resultados. Métodos: A identificação do H. influenzae foi confirmada pelos procedimentos habituais. O serótipo capsular foi caracterizado por uma técnica de Polymerase Chain Reaction (PCR) que permite classificar as estirpes em diferentes serótipos (de a a f) e em estirpes NC (Falla et al, 1994). A susceptibilidade aos antibióticos foi determinada por microdiluição, para 13 antibióticos, de acordo com as normas do CLSI (2009). A pesquisa de produção de β-lactamase foi efectuada com nitrocefim. Para caracterizar o tipo de enzima, TEM ou ROB, nas estirpes produtoras de β-lactamase, recorreu-se ao PCR multiplex. O Pulsed-Field-Gel-Electrophoresis (PFGE) (Campos et al., 2004) foi a técnica utilizada para estudos de clonalidade e disseminação da infecção. Resultados: A maior parte das estirpes foram isoladas de hemocultura (76%; 117/154), seguindo-se o líquido cefaloraquidiano (18,8%; 29/154) e líquido pleural (5,2% 8/154). Quarenta e nove estirpes (31,8%; 49/154) foram isoladas de crianças (≤ 5 anos). Onze por cento das estirpes (11%; 17/154) eram produtoras de β-lactamase. Todas as β-lactamases foram caracterizadas como tipo TEM. No grupo de estirpes não produtoras de β-lactamase detectaram-se 12 estirpes (8,8%; 12/137) com diminuição da susceptibilidade à ampicilina e ao co-amoxiclave, assim como às cefalosporinas de 2ª geração. Estas estirpes designam-se por BLNAR (β-lactamase negativas e resistentes à ampicilina) pela sua diminuição de afinidade aos antibióticos β-lactâmicos, devido a mutações no gene ftsI, que codifica a PBP3 (Barbosa et al, 2011). Globalmente, observou-se um elevado nível de resistência ao trimetoprim/sulfametoxasol: 19%. A caracterização do serótipo capsular permitiu classificar 120 estirpes (78%; 120/154) como NC, 19 de serótipo b (12,3%; 19/154) e 15 (9,7%; 15/154) de serótipo não-b (3 a, 1 d e 11 f). Discussão: Os dados aqui apresentados, de 154 estirpes invasivas isoladas entre 2001 e 2010 e quando comparados com dados anteriormente publicados (Bajanca et al, 2004) relativos ao período 1989-2001, revelam uma alteração na epidemiologia da infecção invasiva nos dois períodos de estudo. Assim, e em relação ao serótipo capsular, as estirpes NC sofreram um aumento de 38,6% para 78%, contrariamente aos isolados de serótipo b que decresceram acentuadamente, de 60,5% para 12,3%. Foi ainda observado um aumento na percentagem de isolados de serótipo não-b, de 0,8% para 9,7%. Destacamos uma estirpe de serótipo d caracterizada pela primeira vez num lactente, na Europa (Calado et al, 2011). Os dados de um estudo Europeu realizado entre 1996 e 2006 (Ladhani et al., 2010), em 14 países, que reportou 10081 casos de infecção invasiva: 44,3% por H. influenzae NC, 28,1% por Hib e 7,8% por estirpes de serótipo não-b, vão ao encontro dos nossos resultados mais recentes. Verificou-se uma diminuição acentuada nas percentagens de resistência aos antibióticos, concomitantemente com o decréscimo das infecções a Hib: a produção de β -lactamase decresceu de 26,9% para 11%; não se detectam estirpes multiresistentes (resistência simultânea à ampicilina, cloranfenicol, tetraciclina) desde 1996, quando anteriormente esta percentagem era de 34,4%. Assistimos agora à emergência de novos mecanismos de resistência, principalmente de estirpes BLNAR. Conclusão: Os nossos resultados revelam uma alteração na epidemiologia da infecção invasiva a H. influenzae dez anos após a introdução da vacina, com um aumento de estirpes NC e a caracterização de outros serótipos, como serótipos a, d e f, o que nos demonstra a importância de dar continuidade a esta monitorização através de mais e melhores estudos de vigilância. Referências Bibliográficas: • Bajanca P, Caniça M, & the Multicenter Study Group. J Clin Microbiol 2004; 42:807-10. • Barbosa R, Giufrè M, Cerquetti M, & Bajanca-Lavado, P. J Antimicrob Chemother 2011; 66:788-96. • Calado R, Betencourt C, Gonçalves H, Cristino N, Calhau P & Bajanca-Lavado, P. Diagn Microbiol Infect Dis 2011; 69:111-13. • Campos J, Hernando M, Román F, Pérez-Vazquez M, Aracil B, Oteo J et al, J Clin Microbiol 2004; 42:524-9. • Clinical and Laboratory Standards Institute. M100-S19. CLSI, Wayne, PA, USA, 2009. • Falla T, Crook D, Brophy L, Maskell D, Kroll J, Moxon E. J Clin Microbiol 1994; 32:2382-86. • Ladhani S, Slack M, Heath P, von Gottberg A, Chandra M. Ramsay M & EUIBIS participants. Emerg Infect Dis 2010; 16:455-63. • Peltola H. Clin Microbiol Rev 2000; 13:302-17. • Tristam S, Jacobs M & Appelbaum P. Clin Microbiol Rev 2007; 20:368-89. • Ulanova M, Tsang R. Infect Genet Evol 2009; 9:594-605. • Wenger D. Pediatrr Infect Dis J 1998; 17 (Suppl.9):S132-36.Repositório Científico do Instituto Nacional de SaúdeLavado, Paula2011-12-05T15:50:31Z2011-05-202011-05-20T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/conferenceObjectapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10400.18/341porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP)instname:FCCN, serviços digitais da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologiainstacron:RCAAP2025-02-26T14:15:19Zoai:repositorio.insa.pt:10400.18/341Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireinfo@rcaap.ptopendoar:https://opendoar.ac.uk/repository/71602025-05-28T21:29:44.355810Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP) - FCCN, serviços digitais da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologiafalse
dc.title.none.fl_str_mv Infecção invasiva a Haemophilus influenzae em Portugal: O que mudou após a introdução da vacina para o Haemophilus influenzae serótipo b?
title Infecção invasiva a Haemophilus influenzae em Portugal: O que mudou após a introdução da vacina para o Haemophilus influenzae serótipo b?
spellingShingle Infecção invasiva a Haemophilus influenzae em Portugal: O que mudou após a introdução da vacina para o Haemophilus influenzae serótipo b?
Lavado, Paula
Haemophilus influenzae
Vacina Hib
Infecções respiratórias
title_short Infecção invasiva a Haemophilus influenzae em Portugal: O que mudou após a introdução da vacina para o Haemophilus influenzae serótipo b?
title_full Infecção invasiva a Haemophilus influenzae em Portugal: O que mudou após a introdução da vacina para o Haemophilus influenzae serótipo b?
title_fullStr Infecção invasiva a Haemophilus influenzae em Portugal: O que mudou após a introdução da vacina para o Haemophilus influenzae serótipo b?
title_full_unstemmed Infecção invasiva a Haemophilus influenzae em Portugal: O que mudou após a introdução da vacina para o Haemophilus influenzae serótipo b?
title_sort Infecção invasiva a Haemophilus influenzae em Portugal: O que mudou após a introdução da vacina para o Haemophilus influenzae serótipo b?
author Lavado, Paula
author_facet Lavado, Paula
author_role author
dc.contributor.none.fl_str_mv Repositório Científico do Instituto Nacional de Saúde
dc.contributor.author.fl_str_mv Lavado, Paula
dc.subject.por.fl_str_mv Haemophilus influenzae
Vacina Hib
Infecções respiratórias
topic Haemophilus influenzae
Vacina Hib
Infecções respiratórias
description Introdução: O Haemophilus influenzae (H. influenzae) é um microrganismo Gram negativo cujo nicho ecológico é o tracto respiratório humano. Para além de colonizar a nasofarínge de pessoas saudáveis, o H. influenzae é normalmente responsável por infecções respiratórias e ainda infecções invasivas graves como a meningite e a septicemia, principalmente nas crianças (Tristram, 2007). As estirpes capsuladas, nomeadamente as de serótipo b (Hib) eram, até à introdução da vacina conjugada, responsáveis pela maior parte dos casos de infecção invasiva (Peltola, 2000). A vacina para o Hib foi licenciada em Portugal em 1994 e incluída no Plano Nacional de Vacinação (PNV) no ano 2000, para crianças até aos 5 anos de idade. Como consequência, as infecções invasivas de serótipo b foram praticamente eliminadas nas populações onde a vacina foi implementada (Wenger, 1998). No entanto, esta vacina não protege contra a infecção invasiva por estirpes não capsuladas (NC) ou de serótipos não b sendo, de momento, as estirpes NC as responsáveis pela maior parte destas infecções (Ladhani et al., 2010; Ulanova & Tsang, 2009). O objectivo deste estudo é o de caracterizar as estirpes de H. influenzae isoladas de doentes com infecção invasiva, no período após a introdução da vacina no PNV do nosso país. Amostra: Foram coleccionadas no Departamento de Doenças Infecciosas do INSA, 154 estirpes, isoladas nos últimos 10 anos (2001 a 2010), em diversos Hospitais em Portugal. Em Janeiro de 2010 foi iniciado um Projecto de “Vigilância Clínica e Epidemiológica da Doença Invasiva por H. influenzae na Criança”, em colaboração com a Sociedade Portuguesa de Pediatria. As estirpes caracterizadas ao abrigo deste projecto (9 estirpes, em 2010) foram incluídas na amostra global, para efeitos de análise de resultados. Métodos: A identificação do H. influenzae foi confirmada pelos procedimentos habituais. O serótipo capsular foi caracterizado por uma técnica de Polymerase Chain Reaction (PCR) que permite classificar as estirpes em diferentes serótipos (de a a f) e em estirpes NC (Falla et al, 1994). A susceptibilidade aos antibióticos foi determinada por microdiluição, para 13 antibióticos, de acordo com as normas do CLSI (2009). A pesquisa de produção de β-lactamase foi efectuada com nitrocefim. Para caracterizar o tipo de enzima, TEM ou ROB, nas estirpes produtoras de β-lactamase, recorreu-se ao PCR multiplex. O Pulsed-Field-Gel-Electrophoresis (PFGE) (Campos et al., 2004) foi a técnica utilizada para estudos de clonalidade e disseminação da infecção. Resultados: A maior parte das estirpes foram isoladas de hemocultura (76%; 117/154), seguindo-se o líquido cefaloraquidiano (18,8%; 29/154) e líquido pleural (5,2% 8/154). Quarenta e nove estirpes (31,8%; 49/154) foram isoladas de crianças (≤ 5 anos). Onze por cento das estirpes (11%; 17/154) eram produtoras de β-lactamase. Todas as β-lactamases foram caracterizadas como tipo TEM. No grupo de estirpes não produtoras de β-lactamase detectaram-se 12 estirpes (8,8%; 12/137) com diminuição da susceptibilidade à ampicilina e ao co-amoxiclave, assim como às cefalosporinas de 2ª geração. Estas estirpes designam-se por BLNAR (β-lactamase negativas e resistentes à ampicilina) pela sua diminuição de afinidade aos antibióticos β-lactâmicos, devido a mutações no gene ftsI, que codifica a PBP3 (Barbosa et al, 2011). Globalmente, observou-se um elevado nível de resistência ao trimetoprim/sulfametoxasol: 19%. A caracterização do serótipo capsular permitiu classificar 120 estirpes (78%; 120/154) como NC, 19 de serótipo b (12,3%; 19/154) e 15 (9,7%; 15/154) de serótipo não-b (3 a, 1 d e 11 f). Discussão: Os dados aqui apresentados, de 154 estirpes invasivas isoladas entre 2001 e 2010 e quando comparados com dados anteriormente publicados (Bajanca et al, 2004) relativos ao período 1989-2001, revelam uma alteração na epidemiologia da infecção invasiva nos dois períodos de estudo. Assim, e em relação ao serótipo capsular, as estirpes NC sofreram um aumento de 38,6% para 78%, contrariamente aos isolados de serótipo b que decresceram acentuadamente, de 60,5% para 12,3%. Foi ainda observado um aumento na percentagem de isolados de serótipo não-b, de 0,8% para 9,7%. Destacamos uma estirpe de serótipo d caracterizada pela primeira vez num lactente, na Europa (Calado et al, 2011). Os dados de um estudo Europeu realizado entre 1996 e 2006 (Ladhani et al., 2010), em 14 países, que reportou 10081 casos de infecção invasiva: 44,3% por H. influenzae NC, 28,1% por Hib e 7,8% por estirpes de serótipo não-b, vão ao encontro dos nossos resultados mais recentes. Verificou-se uma diminuição acentuada nas percentagens de resistência aos antibióticos, concomitantemente com o decréscimo das infecções a Hib: a produção de β -lactamase decresceu de 26,9% para 11%; não se detectam estirpes multiresistentes (resistência simultânea à ampicilina, cloranfenicol, tetraciclina) desde 1996, quando anteriormente esta percentagem era de 34,4%. Assistimos agora à emergência de novos mecanismos de resistência, principalmente de estirpes BLNAR. Conclusão: Os nossos resultados revelam uma alteração na epidemiologia da infecção invasiva a H. influenzae dez anos após a introdução da vacina, com um aumento de estirpes NC e a caracterização de outros serótipos, como serótipos a, d e f, o que nos demonstra a importância de dar continuidade a esta monitorização através de mais e melhores estudos de vigilância. Referências Bibliográficas: • Bajanca P, Caniça M, & the Multicenter Study Group. J Clin Microbiol 2004; 42:807-10. • Barbosa R, Giufrè M, Cerquetti M, & Bajanca-Lavado, P. J Antimicrob Chemother 2011; 66:788-96. • Calado R, Betencourt C, Gonçalves H, Cristino N, Calhau P & Bajanca-Lavado, P. Diagn Microbiol Infect Dis 2011; 69:111-13. • Campos J, Hernando M, Román F, Pérez-Vazquez M, Aracil B, Oteo J et al, J Clin Microbiol 2004; 42:524-9. • Clinical and Laboratory Standards Institute. M100-S19. CLSI, Wayne, PA, USA, 2009. • Falla T, Crook D, Brophy L, Maskell D, Kroll J, Moxon E. J Clin Microbiol 1994; 32:2382-86. • Ladhani S, Slack M, Heath P, von Gottberg A, Chandra M. Ramsay M & EUIBIS participants. Emerg Infect Dis 2010; 16:455-63. • Peltola H. Clin Microbiol Rev 2000; 13:302-17. • Tristam S, Jacobs M & Appelbaum P. Clin Microbiol Rev 2007; 20:368-89. • Ulanova M, Tsang R. Infect Genet Evol 2009; 9:594-605. • Wenger D. Pediatrr Infect Dis J 1998; 17 (Suppl.9):S132-36.
publishDate 2011
dc.date.none.fl_str_mv 2011-12-05T15:50:31Z
2011-05-20
2011-05-20T00:00:00Z
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/conferenceObject
format conferenceObject
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://hdl.handle.net/10400.18/341
url http://hdl.handle.net/10400.18/341
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP)
instname:FCCN, serviços digitais da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia
instacron:RCAAP
instname_str FCCN, serviços digitais da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia
instacron_str RCAAP
institution RCAAP
reponame_str Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP)
collection Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP)
repository.name.fl_str_mv Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP) - FCCN, serviços digitais da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia
repository.mail.fl_str_mv info@rcaap.pt
_version_ 1833599300345528320