Emigração e desenvolvimento na periferia europeia: o caso português

Bibliographic Details
Main Author: Pires, R.
Publication Date: 2019
Other Authors: Cândido, A.
Format: Article
Language: por
Source: Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP)
Download full: http://hdl.handle.net/10071/18631
Summary: Na literatura sobre a relação entre migrações e desenvolvimento é comum a avaliação separada dos impactos das migrações nos países de origem e nos paí­ses de destino (bem como sobre os próprios migrantes. Ver Goldin, Cameron e Blarajan, 2011: 162-210). Em rigor, a esta diferenciação tende a corresponder uma outra, feita na prática mas raramente especificada, que passa pela sobre­posição entre país de origem e país subdesenvolvido, por um lado, e entre país de destino e país desenvolvido, por outro. Transpor muitas das conclusões dessa literatura para a análise dos impactos da emigração num país de origem clas­sificado como de elevado desenvolvimento humano, no caso Portugal, é muitas vezes difícil, obrigando a uma cuidadosa seleção do que é ou não aplicável e dis­ponibilidade analítica para identificar e explicar dinâmicas particulares deste tipo de países: desenvolvidos mas de emigração. O caso de Portugal não representa uma singularidade, pelo que o seu estudo poderá permitir futuras generalizações de âmbito de aplicação mais alargado. De facto, hoje as migrações internacionais envolvem todas as regiões do mundo (Massey et al., 1998: 2, 4-7; King, 2010: 40-41), sendo as migrações entre países desenvolvidos da mesma ordem de grandeza das que se realizam entre países em desenvolvimento e destes para os primeiros (Goldin, Cameron e Blaranjan, 2011: 122). Em consequência, somaram-se ao consenso sobre os efeitos positivos, em ter­mos de desenvolvimento dos países de emigração, das remessas dos emigran­tes, novas conceções sobre as dinâmicas de “circulação dos cérebros”, bem como sobre os potenciais benefícios dos efeitos-diáspora. No plano demográfico, esta­bilizou-se a ideia de um duplo ganho, para países de origem e de destino, nuns por atenuação da pressão demográfica sobre o emprego, em populações jovens, noutros por resolução de défices demográficos e de necessidades do mercado de trabalho, em populações envelhecidas. Em geral, estas conclusões supõem uma dupla coincidência: países subdesen­volvidos/de origem, por um lado, países desenvolvidos/de destino, por outro. Quando essa coincidência não se verifica, o debate tem que ser prosseguido, qualificando com mais rigor as condições da relação positiva emigração/desen­volvimento nos países de origem. No plano demográfico, é relativamente fácil identificar as condições daquela relação positiva, que dependem do regime demográfico e dos equilíbrios migra­tórios prevalecentes na origem. Os efeitos demográficos positivos da emigração só existem se (a) as populações dos países de origem forem jovens e estiverem expansão ou (b) se, caso estivermos perante populações envelhecidas e em dimi­nuição, os fluxos migratórios tiverem um saldo positivo significativo. Nenhuma destas condições está presente no caso português, pelo que os efeitos desenvol­vimentistas da emigração não só serão negativos no plano instrumental, como serão percecionados como tal no plano simbólico. Estas boas razões por detrás das perceções públicas sobre o efeito negativo da emigração em Portugal são ainda reforçadas pela centralidade, na memória coletiva recente, da emigração como um dos resultados negativos do subdesenvolvimento nacional no período do regime autoritário do Estado Novo. No plano da emigração qualificada, a emergência de efeitos positivos na origem dependem, por um lado, da existência de mínimos absolutos de recursos huma­nos qualificados não migrantes na origem (Doquier e Marfouk, 2006: 173-174). Dependem, ainda, como já referido, do fomento de relações transnacionais com as diásporas a partir da origem. No caso português, é menos a primeira con­dição que não está satisfeita, do que a segunda.
id RCAP_2f59a76ddf69c2852f268d592cc6409e
oai_identifier_str oai:repositorio.iscte-iul.pt:10071/18631
network_acronym_str RCAP
network_name_str Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP)
repository_id_str https://opendoar.ac.uk/repository/7160
spelling Emigração e desenvolvimento na periferia europeia: o caso portuguêsMigrações e desenvolvimentoPortugalRemessasFuga de cérebrosMigrações e demografiaEmigração portuguesaNa literatura sobre a relação entre migrações e desenvolvimento é comum a avaliação separada dos impactos das migrações nos países de origem e nos paí­ses de destino (bem como sobre os próprios migrantes. Ver Goldin, Cameron e Blarajan, 2011: 162-210). Em rigor, a esta diferenciação tende a corresponder uma outra, feita na prática mas raramente especificada, que passa pela sobre­posição entre país de origem e país subdesenvolvido, por um lado, e entre país de destino e país desenvolvido, por outro. Transpor muitas das conclusões dessa literatura para a análise dos impactos da emigração num país de origem clas­sificado como de elevado desenvolvimento humano, no caso Portugal, é muitas vezes difícil, obrigando a uma cuidadosa seleção do que é ou não aplicável e dis­ponibilidade analítica para identificar e explicar dinâmicas particulares deste tipo de países: desenvolvidos mas de emigração. O caso de Portugal não representa uma singularidade, pelo que o seu estudo poderá permitir futuras generalizações de âmbito de aplicação mais alargado. De facto, hoje as migrações internacionais envolvem todas as regiões do mundo (Massey et al., 1998: 2, 4-7; King, 2010: 40-41), sendo as migrações entre países desenvolvidos da mesma ordem de grandeza das que se realizam entre países em desenvolvimento e destes para os primeiros (Goldin, Cameron e Blaranjan, 2011: 122). Em consequência, somaram-se ao consenso sobre os efeitos positivos, em ter­mos de desenvolvimento dos países de emigração, das remessas dos emigran­tes, novas conceções sobre as dinâmicas de “circulação dos cérebros”, bem como sobre os potenciais benefícios dos efeitos-diáspora. No plano demográfico, esta­bilizou-se a ideia de um duplo ganho, para países de origem e de destino, nuns por atenuação da pressão demográfica sobre o emprego, em populações jovens, noutros por resolução de défices demográficos e de necessidades do mercado de trabalho, em populações envelhecidas. Em geral, estas conclusões supõem uma dupla coincidência: países subdesen­volvidos/de origem, por um lado, países desenvolvidos/de destino, por outro. Quando essa coincidência não se verifica, o debate tem que ser prosseguido, qualificando com mais rigor as condições da relação positiva emigração/desen­volvimento nos países de origem. No plano demográfico, é relativamente fácil identificar as condições daquela relação positiva, que dependem do regime demográfico e dos equilíbrios migra­tórios prevalecentes na origem. Os efeitos demográficos positivos da emigração só existem se (a) as populações dos países de origem forem jovens e estiverem expansão ou (b) se, caso estivermos perante populações envelhecidas e em dimi­nuição, os fluxos migratórios tiverem um saldo positivo significativo. Nenhuma destas condições está presente no caso português, pelo que os efeitos desenvol­vimentistas da emigração não só serão negativos no plano instrumental, como serão percecionados como tal no plano simbólico. Estas boas razões por detrás das perceções públicas sobre o efeito negativo da emigração em Portugal são ainda reforçadas pela centralidade, na memória coletiva recente, da emigração como um dos resultados negativos do subdesenvolvimento nacional no período do regime autoritário do Estado Novo. No plano da emigração qualificada, a emergência de efeitos positivos na origem dependem, por um lado, da existência de mínimos absolutos de recursos huma­nos qualificados não migrantes na origem (Doquier e Marfouk, 2006: 173-174). Dependem, ainda, como já referido, do fomento de relações transnacionais com as diásporas a partir da origem. No caso português, é menos a primeira con­dição que não está satisfeita, do que a segunda.Centro de Publicaciones2019-09-11T13:47:32Z2019-01-01T00:00:00Z20192019-09-11T14:46:39Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articleapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10071/18631por2254-3295Pires, R.Cândido, A.info:eu-repo/semantics/embargoedAccessreponame:Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP)instname:FCCN, serviços digitais da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologiainstacron:RCAAP2024-07-07T03:52:22Zoai:repositorio.iscte-iul.pt:10071/18631Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireinfo@rcaap.ptopendoar:https://opendoar.ac.uk/repository/71602025-05-28T18:33:10.949316Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP) - FCCN, serviços digitais da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologiafalse
dc.title.none.fl_str_mv Emigração e desenvolvimento na periferia europeia: o caso português
title Emigração e desenvolvimento na periferia europeia: o caso português
spellingShingle Emigração e desenvolvimento na periferia europeia: o caso português
Pires, R.
Migrações e desenvolvimento
Portugal
Remessas
Fuga de cérebros
Migrações e demografia
Emigração portuguesa
title_short Emigração e desenvolvimento na periferia europeia: o caso português
title_full Emigração e desenvolvimento na periferia europeia: o caso português
title_fullStr Emigração e desenvolvimento na periferia europeia: o caso português
title_full_unstemmed Emigração e desenvolvimento na periferia europeia: o caso português
title_sort Emigração e desenvolvimento na periferia europeia: o caso português
author Pires, R.
author_facet Pires, R.
Cândido, A.
author_role author
author2 Cândido, A.
author2_role author
dc.contributor.author.fl_str_mv Pires, R.
Cândido, A.
dc.subject.por.fl_str_mv Migrações e desenvolvimento
Portugal
Remessas
Fuga de cérebros
Migrações e demografia
Emigração portuguesa
topic Migrações e desenvolvimento
Portugal
Remessas
Fuga de cérebros
Migrações e demografia
Emigração portuguesa
description Na literatura sobre a relação entre migrações e desenvolvimento é comum a avaliação separada dos impactos das migrações nos países de origem e nos paí­ses de destino (bem como sobre os próprios migrantes. Ver Goldin, Cameron e Blarajan, 2011: 162-210). Em rigor, a esta diferenciação tende a corresponder uma outra, feita na prática mas raramente especificada, que passa pela sobre­posição entre país de origem e país subdesenvolvido, por um lado, e entre país de destino e país desenvolvido, por outro. Transpor muitas das conclusões dessa literatura para a análise dos impactos da emigração num país de origem clas­sificado como de elevado desenvolvimento humano, no caso Portugal, é muitas vezes difícil, obrigando a uma cuidadosa seleção do que é ou não aplicável e dis­ponibilidade analítica para identificar e explicar dinâmicas particulares deste tipo de países: desenvolvidos mas de emigração. O caso de Portugal não representa uma singularidade, pelo que o seu estudo poderá permitir futuras generalizações de âmbito de aplicação mais alargado. De facto, hoje as migrações internacionais envolvem todas as regiões do mundo (Massey et al., 1998: 2, 4-7; King, 2010: 40-41), sendo as migrações entre países desenvolvidos da mesma ordem de grandeza das que se realizam entre países em desenvolvimento e destes para os primeiros (Goldin, Cameron e Blaranjan, 2011: 122). Em consequência, somaram-se ao consenso sobre os efeitos positivos, em ter­mos de desenvolvimento dos países de emigração, das remessas dos emigran­tes, novas conceções sobre as dinâmicas de “circulação dos cérebros”, bem como sobre os potenciais benefícios dos efeitos-diáspora. No plano demográfico, esta­bilizou-se a ideia de um duplo ganho, para países de origem e de destino, nuns por atenuação da pressão demográfica sobre o emprego, em populações jovens, noutros por resolução de défices demográficos e de necessidades do mercado de trabalho, em populações envelhecidas. Em geral, estas conclusões supõem uma dupla coincidência: países subdesen­volvidos/de origem, por um lado, países desenvolvidos/de destino, por outro. Quando essa coincidência não se verifica, o debate tem que ser prosseguido, qualificando com mais rigor as condições da relação positiva emigração/desen­volvimento nos países de origem. No plano demográfico, é relativamente fácil identificar as condições daquela relação positiva, que dependem do regime demográfico e dos equilíbrios migra­tórios prevalecentes na origem. Os efeitos demográficos positivos da emigração só existem se (a) as populações dos países de origem forem jovens e estiverem expansão ou (b) se, caso estivermos perante populações envelhecidas e em dimi­nuição, os fluxos migratórios tiverem um saldo positivo significativo. Nenhuma destas condições está presente no caso português, pelo que os efeitos desenvol­vimentistas da emigração não só serão negativos no plano instrumental, como serão percecionados como tal no plano simbólico. Estas boas razões por detrás das perceções públicas sobre o efeito negativo da emigração em Portugal são ainda reforçadas pela centralidade, na memória coletiva recente, da emigração como um dos resultados negativos do subdesenvolvimento nacional no período do regime autoritário do Estado Novo. No plano da emigração qualificada, a emergência de efeitos positivos na origem dependem, por um lado, da existência de mínimos absolutos de recursos huma­nos qualificados não migrantes na origem (Doquier e Marfouk, 2006: 173-174). Dependem, ainda, como já referido, do fomento de relações transnacionais com as diásporas a partir da origem. No caso português, é menos a primeira con­dição que não está satisfeita, do que a segunda.
publishDate 2019
dc.date.none.fl_str_mv 2019-09-11T13:47:32Z
2019-01-01T00:00:00Z
2019
2019-09-11T14:46:39Z
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/article
format article
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://hdl.handle.net/10071/18631
url http://hdl.handle.net/10071/18631
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv 2254-3295
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/embargoedAccess
eu_rights_str_mv embargoedAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.publisher.none.fl_str_mv Centro de Publicaciones
publisher.none.fl_str_mv Centro de Publicaciones
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP)
instname:FCCN, serviços digitais da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia
instacron:RCAAP
instname_str FCCN, serviços digitais da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia
instacron_str RCAAP
institution RCAAP
reponame_str Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP)
collection Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP)
repository.name.fl_str_mv Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP) - FCCN, serviços digitais da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia
repository.mail.fl_str_mv info@rcaap.pt
_version_ 1833597503250890752