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The impact of touristic whale-watching on delphinus delphis and tursiops truncatus on the Algarve coast: combining acoustic analysis and land observations

Bibliographic Details
Main Author: Telles, Maria Júlia Forli
Publication Date: 2024
Format: Master thesis
Language: eng
Source: Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP)
Download full: http://hdl.handle.net/10400.1/26069
Summary: A observação turística de cetáceos (WW) é uma atividade que tem crescido mundialmente nos últimos 50 anos. Esta atividade é comumente incluída no ramo do ecoturismo e considerada como uma alternativa sustentável à caça de baleias. É uma atividade com potencial para trazer benefícios socioeconómicos, promover educação ambiental e contribuir para a investigação. No entanto, diversos estudos apontam para alterações comportamentais e fisiológicas a curto prazo nos cetáceos aquando da presença destas embarcações. Estes possíveis impactos da atividade sobre as espécies têm levantado um grande interesse da comunidade científica. Apesar de ser difícil extrapolar alterações de curto prazo para efeitos populacionais a longo prazo, pode-se prever que efeitos a nível populacional aconteçam se atividades biologicamente relevantes como alimentação, reprodução e repouso sejam afetados adversamente. Diferentes populações são afetadas de formas distintas que dependem de características do local onde vivem, da dinâmica populacional, do tipo e da intensidade do WW praticado e da presença de outras pressões ecológicas. Por exemplo, populações pequenas que habitem águas costeiras, lagunares ou em rios são mais afetadas do que populações grandes que habitem águas oceânicas em que cada grupo tem menos probabilidade de encontrar embarcações. A existência de outros impactos antropogênicos como a introdução de toxinas no ambiente ou o declínio de presas também influenciam o nível de WW que uma população consegue tolerar. Deste modo, é necessário estudar os efeitos desta atividade em diferentes espécies e populações sob diferentes circunstâncias, e enveredar em esforços que devem ter em conta as características específicas de cada caso. Em Portugal continental a maior parte das operações estão concentradas na costa sul (Algarve). Mas apesar do grande crescimento no número de empresas, nas últimas duas décadas, estudos sobre os possíveis impactos desta atividade nas populações de cetáceos na região são escassos. O golfinho-comum-de-bico-curto (Delphinus delphis) e o roaz-corvineiro (Tursiops truncatus) são as duas espécies mais comumente observadas na costa algarvia. Ambas as espécies são globais e abundantes com uma ampla distribuição nos oceanos Atlântico, Pacífico e Índico. O Algarve foi identificado como uma área importante para ambas as espécies funcionando como berçário, zona de reprodução e de alimentação. Colisões, alterações comportamentais (como diminuição em socialização, repouso, alimentação), alterações em dinâmicas e coesão dos grupos e alterações no comportamento acústico são alguns dos impactos causados por WW nestas espécies. O objetivo do presente estudo foi analisar alterações no comportamento acústico do D. delphis e T. truncatus na presença de embarcações de WW e quantificar o tempo de exposição dos animais a este impacto antropogênico. O ruído produzido por embarcações pode interferir com as vocalizações dos animais mascarando os sons que produzem e dificultando a transmissão de sinais entre os animais ou na procura das suas presas. Diversos estudos demostram alterações nos parâmetros das vocalizações de cetáceos possivelmente como um esforço exercido pelos animais para superar esta interferência. Dois tipos de sons produzidos pelos golfinhos foram analisados utilizando o software Spectralayers Pro 10; assobios e estalidos. Assobios são utilizados pelos animais para comunicação, enquanto estalidos são utilizados para a ecolocalização e associados à alimentação e/ou localização das presas. Foram recolhidos 267 minutos de áudio recolhido a bordo de embarcações de WW, resultando em 2442 e 1418 assobios para D. delphis e T. truncatus, respectivamente. Foram individualmente analisados os parâmetros acústicos: frequência mínima (kHz), frequência máxima (kHz), amplitude de frequência (kHz), duração (s), inflecções e degraus, taxa de assobios por minuto e classificação por tipos de assobios. A taxa de estalidos por minuto foi avaliada para inferir impactos na alimentação. A espécie D. delphis apresentou alterações em cinco dos seis parâmetros acústicos, taxa de assobios por minuto e classificação por tipos, mas não apresentou diferenças significativas na ecolocalização. Na presença de barcos os assobios de D. delphis tiveram frequências (kHz) e durações reduzidas, taxa por minuto aumentada e características de um contorno simplificado que indicam um esforço para manter a comunicação em um ambiente acústico poluído. A espécie T. truncatus, por outro lado, apenas apresentou alterações em três dos parâmetros acústicos no que diz respeito aos assobios, com a mesma característica de simplificação e diminuição na frequência (kHz), e apresentou uma redução significativa na taxa de ecolocalização por minuto. Esses resultados sugerem que o D. delphis é mais afetado por embarcações de WW durante momentos de socialização enquanto T. truncatus é mais afetado durante alimentação. Ambas as alterações têm potencial para acarretar efeitos a nível populacional ao afetar o sucesso reprodutivo e a condição física. Para determinar o tempo de exposição dos animais a este impacto, foram utilizadas observações a partir de terra, que funcionam como um método não invasivo e permitem a cobertura de uma vasta área de estudo. Foram utilizados cinco pontos de observação distribuídos pela costa Algarvia; Farol de Santa Maria, Farol da Alfanzina e Farol do Cabo São Vicente (onde as observações foram feitas do alto da torre dos faróis), Vilamoura e Albufeira (onde as observações foram feitas nas falésias junto ao mar). Os pontos do Barlavento (Albufeira e Farol de Alfanzina) tiveram maior concentração de barcos e de infrações à legislação. No Barlavento os animais são expostos a embarcações até 39% das horas de luz, e em 67% deste tempo o número limite de embarcações é excedido. Isso significa que os animais podem passar até 21% das horas de luz na presença de mais de três barcos. Isto é deveras alarmante para a atividade na região, visto estudos anteriores demonstraram alterações em parâmetros acústicos consoante o aumento do número de embarcações presentes. A disponibilidade das empresas de WW em contribuir com este e outros estudos na região, demostra preocupação e disponibilidade para cooperar na criação de um cenário mais sustentável. Já foi demostrado que os turistas que frequentam este tipo de atividade apresentam um nível de preocupação com o bem-estar dos animais e preferem operadores que zelam por uma conduta ecologicamente correta. Assim sendo, a criação de medidas para minimizar os impactos beneficiam não apenas os animais como a indústria em si. Contudo, a escassez de estudos, a regulamentação inadequada e a inconformidade por parte dos operadores tornam-se desafios na implementação de uma indústria sustentável no Algarve e ameaçam as populações de cetáceos na região. Os resultados aqui apresentados demostram a necessidade de mais investigação, um plano de monitorização e a implementação de regulamentações e códigos de conduta que levem em consideração as características individuais de cada espécie sujeita a observação turística.
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Apesar de ser difícil extrapolar alterações de curto prazo para efeitos populacionais a longo prazo, pode-se prever que efeitos a nível populacional aconteçam se atividades biologicamente relevantes como alimentação, reprodução e repouso sejam afetados adversamente. Diferentes populações são afetadas de formas distintas que dependem de características do local onde vivem, da dinâmica populacional, do tipo e da intensidade do WW praticado e da presença de outras pressões ecológicas. Por exemplo, populações pequenas que habitem águas costeiras, lagunares ou em rios são mais afetadas do que populações grandes que habitem águas oceânicas em que cada grupo tem menos probabilidade de encontrar embarcações. A existência de outros impactos antropogênicos como a introdução de toxinas no ambiente ou o declínio de presas também influenciam o nível de WW que uma população consegue tolerar. Deste modo, é necessário estudar os efeitos desta atividade em diferentes espécies e populações sob diferentes circunstâncias, e enveredar em esforços que devem ter em conta as características específicas de cada caso. Em Portugal continental a maior parte das operações estão concentradas na costa sul (Algarve). Mas apesar do grande crescimento no número de empresas, nas últimas duas décadas, estudos sobre os possíveis impactos desta atividade nas populações de cetáceos na região são escassos. O golfinho-comum-de-bico-curto (Delphinus delphis) e o roaz-corvineiro (Tursiops truncatus) são as duas espécies mais comumente observadas na costa algarvia. Ambas as espécies são globais e abundantes com uma ampla distribuição nos oceanos Atlântico, Pacífico e Índico. O Algarve foi identificado como uma área importante para ambas as espécies funcionando como berçário, zona de reprodução e de alimentação. 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Diferentes populações são afetadas de formas distintas que dependem de características do local onde vivem, da dinâmica populacional, do tipo e da intensidade do WW praticado e da presença de outras pressões ecológicas. Por exemplo, populações pequenas que habitem águas costeiras, lagunares ou em rios são mais afetadas do que populações grandes que habitem águas oceânicas em que cada grupo tem menos probabilidade de encontrar embarcações. A existência de outros impactos antropogênicos como a introdução de toxinas no ambiente ou o declínio de presas também influenciam o nível de WW que uma população consegue tolerar. Deste modo, é necessário estudar os efeitos desta atividade em diferentes espécies e populações sob diferentes circunstâncias, e enveredar em esforços que devem ter em conta as características específicas de cada caso. Em Portugal continental a maior parte das operações estão concentradas na costa sul (Algarve). 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O objetivo do presente estudo foi analisar alterações no comportamento acústico do D. delphis e T. truncatus na presença de embarcações de WW e quantificar o tempo de exposição dos animais a este impacto antropogênico. O ruído produzido por embarcações pode interferir com as vocalizações dos animais mascarando os sons que produzem e dificultando a transmissão de sinais entre os animais ou na procura das suas presas. Diversos estudos demostram alterações nos parâmetros das vocalizações de cetáceos possivelmente como um esforço exercido pelos animais para superar esta interferência. Dois tipos de sons produzidos pelos golfinhos foram analisados utilizando o software Spectralayers Pro 10; assobios e estalidos. Assobios são utilizados pelos animais para comunicação, enquanto estalidos são utilizados para a ecolocalização e associados à alimentação e/ou localização das presas. Foram recolhidos 267 minutos de áudio recolhido a bordo de embarcações de WW, resultando em 2442 e 1418 assobios para D. delphis e T. truncatus, respectivamente. Foram individualmente analisados os parâmetros acústicos: frequência mínima (kHz), frequência máxima (kHz), amplitude de frequência (kHz), duração (s), inflecções e degraus, taxa de assobios por minuto e classificação por tipos de assobios. A taxa de estalidos por minuto foi avaliada para inferir impactos na alimentação. A espécie D. delphis apresentou alterações em cinco dos seis parâmetros acústicos, taxa de assobios por minuto e classificação por tipos, mas não apresentou diferenças significativas na ecolocalização. Na presença de barcos os assobios de D. delphis tiveram frequências (kHz) e durações reduzidas, taxa por minuto aumentada e características de um contorno simplificado que indicam um esforço para manter a comunicação em um ambiente acústico poluído. A espécie T. truncatus, por outro lado, apenas apresentou alterações em três dos parâmetros acústicos no que diz respeito aos assobios, com a mesma característica de simplificação e diminuição na frequência (kHz), e apresentou uma redução significativa na taxa de ecolocalização por minuto. Esses resultados sugerem que o D. delphis é mais afetado por embarcações de WW durante momentos de socialização enquanto T. truncatus é mais afetado durante alimentação. Ambas as alterações têm potencial para acarretar efeitos a nível populacional ao afetar o sucesso reprodutivo e a condição física. Para determinar o tempo de exposição dos animais a este impacto, foram utilizadas observações a partir de terra, que funcionam como um método não invasivo e permitem a cobertura de uma vasta área de estudo. Foram utilizados cinco pontos de observação distribuídos pela costa Algarvia; Farol de Santa Maria, Farol da Alfanzina e Farol do Cabo São Vicente (onde as observações foram feitas do alto da torre dos faróis), Vilamoura e Albufeira (onde as observações foram feitas nas falésias junto ao mar). Os pontos do Barlavento (Albufeira e Farol de Alfanzina) tiveram maior concentração de barcos e de infrações à legislação. No Barlavento os animais são expostos a embarcações até 39% das horas de luz, e em 67% deste tempo o número limite de embarcações é excedido. Isso significa que os animais podem passar até 21% das horas de luz na presença de mais de três barcos. Isto é deveras alarmante para a atividade na região, visto estudos anteriores demonstraram alterações em parâmetros acústicos consoante o aumento do número de embarcações presentes. 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