“Eu não sou lixo”: abjeção na vida de catadoras e catadores de materiais recicláveis
Ano de defesa: | 2016 |
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Autor(a) principal: | |
Orientador(a): | |
Banca de defesa: | , , , |
Tipo de documento: | Tese |
Tipo de acesso: | Acesso aberto |
Idioma: | por |
Instituição de defesa: |
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Curitiba |
Programa de Pós-Graduação: |
Programa de Pós-Graduação em Tecnologia e Sociedade
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Brasil
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Palavras-chave em Português: | |
Área do conhecimento CNPq: | |
Link de acesso: | http://repositorio.utfpr.edu.br/jspui/handle/1/2144 |
Resumo: | Abordo, nesta tese, a rotina de trabalho das catadoras e dos catadores de materiais recicláveis, buscando refletir como a noção de abjeção se expressa na vida destas pessoas. Para tanto, foi realizada uma pesquisa de campo inspirada na etnografia. Esta vivência ocorreu em uma associação de catadoras/es na região metropolitana de Curitiba, além de abarcar experiências em eventos referentes ao mundo da catação que contaram com a participação do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR). Parti de uma compreensão de que o trabalho das/os catadoras/es tem sido uma atividade plenamente vinculada à estrutura do sistema capitalista. A prática da produção e do intenso consumo gera uma volumosa quantidade de materiais descartados, condição básica para a existência do trabalho de catação na sua atual configuração. Além disso, a profissão de catadora/r tem sido exercida, de maneira geral, em condições precárias e indignas, o que permanece como uma característica de vários outros trabalhos no sistema capitalista. Os dados de campo se mostraram férteis para a reflexão sobre as relações entre as condições precárias deste trabalho e a incidência da abjeção na vida das/os catadoras/es, sobretudo pelo fato de trabalharem com o lixo. Relativizo as noções de bagunça e de sujeira – historicamente construídas – pois as percebo como componentes encharcados de uma moralidade que contribui intensamente para que as/os catadoras/es sejam classificadas/os como corpos abjetos. São analisadas, também, algumas marcas de abjeção presentes nas relações internas entre catadoras/es e outras instituições. Nesta análise, são apresentados alguns desafios de se instituir um projeto de trabalho cooperativo e guiado pela autogestão, como proposto no estatuto da associação pesquisada e os princípios do MNCR. A instalação de um artefato tecnológico na associação – uma esteira motorizada – estimulou reflexões sobre a introdução de discursos e práticas permeados pelo controle e disciplinarização das/os trabalhadoras/es. Aponta-se, ainda, que existe uma carência de um processo de formação que venha a estimular um entendimento mais claro sobre os modelos de trabalho solidário e cooperativo. Outro aspecto significativo figura-se na grande quantidade de mulheres que assumem esta profissão, existindo uma probabilidade de ser maioria. As histórias de vida narradas por várias catadoras demonstraram marcas de violências, acompanhadas pela expressão de terem se sentido “como lixo”. O estudo permitiu concluir que ser catadora/r de materiais recicláveis tem significado conviver com a realidade de existência como um corpo que causa abjeção. Reconhecer que existe uma concepção a respeito das/os catadoras/es que as/os enquadra como corpos abjetos, que opera preconceitos, discriminações, medos e violências, pode significar uma possibilidade de se rever esta percepção. |