Conservação pelo uso e domesticação da feijoa na serra gaúcha – RS

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2012
Autor(a) principal: Donazzolo, Joel
Orientador(a): Nodari, Rubens Onofre
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Santa Catarina
Dois Vizinhos
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Recursos Genéticos Vegetais
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://repositorio.utfpr.edu.br/jspui/handle/1/607
Resumo: Os agricultores têm manejado, domesticado e conservado componentes da biodiversidade há milênios em um processo coevolutivo. Porém, a intensa transformação do meio tem causado também uma intensa erosão genética e dos conhecimentos tradicionais a ela associados. Neste contexto insere-se este trabalho, que buscou avançar na compreensão das vias de domesticação da feijoa (Acca sellowiana (Berg) Burret) e promover um processo conservação pelo uso. Teórico-metodologicamente este estudo foi embasado na pesquisa participativa e em métodos da etnobotânica e estruturado em três macro-ações, desenvolvidas de forma interligada e interdependente entre si, conciliando abordagens quantitativas e qualitativas: (i) acesso e sistematização do conhecimento local associado ao uso, conservação e manejo da feijoa e o mapeamento de matrizes em propriedades de agricultores familiares, e em quintais urbanos na Serra Gaúcha; (ii) caracterização genética e fenotípica de plantas manejadas e selecionadas pelos agricultores, de plantas presentes em quintais urbanos e daquelas consideradas populações naturais e, (iii) estabelecimento de um programa de melhoramento genético participativo visando à promoção do seu uso. O conhecimento tradicional acessado sobre uso, manejo e conservação é consistente e está bem distribuído entre os informantes. Para os agricultores da Serra Gaúcha 10 tipos distintos de uso e 11 de manejo foram identificados. Os principais usos foram alimentação, medicinal e comercialização. Foram identificadas três categorias de agricultores segundo intensidade de uso: cultivadores, manejadores e mantenedores com Valor de Diversidade de Informante (VDI) para uso de 0,41, 0,49 e 0,26, respectivamente, sendo o último diferente estatisticamente dos demais. O VDI de manejo também foi estatisticamente entre estas categorias, com os cultivadores o maior VDI (0,52). Os agricultores assessorados pelo Centro Ecológico (CE) apresentaram maior VDI para uso (0,40) que os não assessorados (0,25). Para os informantes dos quintais urbanos, nove usos e seis manejos foram relacionados. Ampla diversidade genética e fenotípica foi encontrada, especialmente nos conjuntos de plantas selecionadas ou manejadas, se constituindo em recurso de extrema importância para programas de conservação on farm e para programas de melhoramento genético. Em geral, as plantas dos quintais e selecionadas pelos agricultores apresentaram maior peso, se constituindo o principal critério de seleção. O peso de mil sementes (PMS) variou de 2,6788 a 6,0687 g, sendo distinto do que é estabelecido na literatura. Mais de 90% da variação genética da feijoa está dentro das amostragens, as quais apresentaram índices de fixação significativos com exceção da população natural. A magnitude e representatividade da diversidade encontrada nos quintais urbanos em Vacaria - RS revelaram a necessidade de estes locais serem inseridos nas estratégias de conservação da espécie, o que poderia ser uma nova categoria de conservação denominada aqui como quintal urbano(urban garden). A conservação da feijoa na região estudada se dá mediante o seu uso enquanto recurso sistêmico. As estratégias participativas de atuação junto aos agricultores, como o programa de melhoramento genético participativo, se mostraram eficientes para promover o uso e conservação, pois foi possível definir critérios de seleção; avaliação da população de trabalho; seleção e multiplicação das plantas promissoras; realização dos cruzamentos e planejamento para avaliação das progênies obtidas. As evidências desse estudo revelaram que populações de A. sellowiana têm sido manejadas e cultivadas, em algum grau selecionadas e multiplicadas, numa paisagem antropizada ao longo de pelo menos uma centena de anos. Assim, populações da espécie estão em processo de domesticação em seu centro de origem e diversidade, podendo ser consideradas semi-domesticadas. Contudo, apresentam ainda variação fenotípica que não as diferenciam consideravelmente das populações silvestres. O que parece claro é que a feijoa é uma espécie que acompanha o homem e caso cessarem as práticas de manejo da paisagem, ela perderá espaço para outras espécies.