Os discursos sobre o trabalho em Memórias Póstumas de Brás Cubas: o honesto tear do romance machadiano

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Lopes, Marcia do Santos lattes
Orientador(a): Fanini, Angela Maria Rubel lattes
Banca de defesa: Rebech, Claudia Nociolini, Retorta, Miriam Sester, Caetano, Kati Eliana, Fanini, Angela Maria Rubel
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Curitiba
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Tecnologia e Sociedade
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.utfpr.edu.br/jspui/handle/1/2544
Resumo: Esta tese é uma Análise Dialógica do Discurso (ADD), de perspectiva bakhtiniana, a cerca dos discursos sobre o trabalho, na obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, publicada em 1881. A investigação constitui-se como parte integrante do projeto de pesquisa “A formalização discursiva do universo do trabalho e da tecnologia em textos literários” e das discussões do grupo de pesquisa “Discurso sobre Tecnologia, Trabalho e Identidades Nacionais”, inserido na Linha de pesquisa Tecnologia e Trabalho, do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia e Sociedade, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, de viés interdisciplinar. Inicialmente apresentamos alguns discursos sobre o trabalho como atividade assalariada ou não, desde o século XIX: as vozes marxianas, de Karl Marx, Friedrich Engels e Paul Lafargue, seguidos de György Lukács, Herbert Marcuse, André Gorz, Richard Sennett, Christophe Dejours, Zigmund Baumann, Ricardo Antunes e Danièle Linhart, autores contemporâneos. A análise dialógica seguiu a linha teórica de Bakhtin e o Círculo: dialogicidade, alteridade, o signo ideológico, a intersubjetividade, o plurilinguismo, o gênero romanesco e a enunciação. Traçamos um perfil das relações de trabalho no Brasil oitocentista, dialogando sobre a História com autores como Boris Fausto, Sidney Chalhoub, Maria Sylvia C. França, Gilberto Freyre, Sergio B. de Holanda entre outros. Quanto ao horizonte social e cultural do autor fluminense, sua biografia e sua fortuna crítica, dialogaram críticos como Antonio Candido, Roberto Schwarz, entre outros. Objetivou-se trazer para análise, a partir da ideologia do cotidiano formalizada no romance, os diálogos, as contradições e os embates que ocorrem entre os discursos, como também perceber a positividade, a danação ou a negação do trabalho a partir da linguagem, na forma arquitetônica irônica do autor e nos elementos composicionais pertinentes ao romance, como as construções híbridas, a alternância de estilos e tons, a resposta antecipada, o riso reduzido e a sátira menipeia. A perspectiva metodológica da ADD conduziu a um corpus composto por três dimensões discursivas, que compõem a enunciação machadiana sobre o trabalho: o discurso do favor representado pela personagem Dona Plácida; o discurso da escravidão representado pela personagem Prudêncio e o discurso do trabalho imaterial ou do não-trabalho, representado pelas personagens Brás Cubas e Quincas Borba. Chegou-se às seguintes conclusões: a linguagem machadiana discursa veementemente sobre o trabalho no século XIX. Sua enunciação transita entre positivá-lo ou negativá-lo, reforçando a distinção entre trabalho material e trabalho imaterial. As atividades imateriais são vistas como positivas pela elite, porque, além de redundarem em não-trabalho, representam prestígio e ascensão. O escravo exercia a maior parte do trabalho e o agregado cumpria um papel de mediador, já que não pertencia a ninguém, mas precisava encontrar formas de sustentar-se. No discurso machadiano, o trabalho não é ontológico; ele é forma de sobrevivência, inclusive de um discurso, que mantém uma ordem social.