Resumo: |
O cerne deste trabalho repousa sobre a análise de alguns elementos constitutivos da metafísica cartesiana, à luz do problema da união substancial. Isso se faz porque acreditamos que, em sua correspondência com Descartes, Elisabeth formula a referida problemática partindo das próprias bases teóricas do pensamento do filósofo. Tendo isso em vista, buscamos compreender, no interior do sistema cartesiano, quais foram os elementos teóricos utilizados pela princesa para apresentar sua questão ao autor das Meditações Metafísicas. No desenrolar de sua discussão com Descartes, a eleitora palatina, conhecedora das principais exigências da física mecanicista, afirma a necessidade de que a alma deveria possuir uma característica extensa que, embora não lhe fosse essencial, pudesse fazer com que ela movesse o corpo. Isso se dá porque, na perspectiva mecanicista, para que haja movimento, faz-se necessário que duas substâncias extensas se choquem. Ora, a alma, sendo essencialmente uma substância imaterial, jamais poderia chocar-se contra quaisquer substratos corpóreos, como a glândula pineal, por exemplo. Diante dessa problemática, à luz do trabalho de Lisa Shapiro (1999; 2007), cremos que Elisabeth da Boêmia tenha construído uma \"teoria materialista não redutiva da mente\", embora ela o faça valendo-se dos próprios textos de Descartes e de seus principais objetores, como Thomas Hobbes, Antoine Arnauld e Pierre Gassendi. |
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