A instituição do nome: análise historiográfica da produção ficcional de Graciliano Ramos

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Moura, Edilson Dias de
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8149/tde-15062021-115644/
Resumo: A presente tese tem como objeto de análise os romances de Graciliano Ramos publicados na década de 1930, Caetés, São Bernardo, Angústia e Vidas secas, segundo o levantamento historiográfico/documental de aspectos simbólicos/alegóricos, políticos e culturais do período de escrita. Partindo de que os textos do autor resultam da leitura dos escritos de sua época, no contexto social em que se inserem, e de práticas de escrita de seu tempo, propõe-se analisar as obras conforme o estatuto da palavra, teorizado por Mikhail Bakhtin e desenvolvido por Júlia Kristeva em Semiótica do romance, situando o texto na história e na sociedade, sincronicamente. A história linear, assim, é o nível abstrato, analisado diacronicamente. A história linear é definida a partir das noções analíticas de investigação estudadas por Paul Ricoeur em Tempo e narrativa, compreendendo-se a publicação dos romances como acontecimento, cujos pressupostos e hipóteses de origem decorrem de um \"antes\", condições antecedentes, e um \"depois\", em que se desenrolam transformações condicionadas de leitura que implicam a distinção de condições necessárias e suficientes. Graciliano, antes de 1931, assinava seus escritos com diversos pseudônimos, determinando um momento de sua carreira em que predomina o \"anonimato\". Tal período é assim antecedente dos acontecimentos que instauram o nome próprio com que se consagra na década de 1930. A questão é até que ponto se podem tomar os escritos anteriores como causa ou origem dos romances, seja em termos de condições suficientes ou necessárias, já que, em ambos os casos, o nome assume status de ponto de partida e modifica os sentidos da produção anterior. Analisando-se a noção de atavismo, por exemplo, ou hereditariedade (cujo núcleo de distinção teórica agrega-se à perspectiva de hipóteses de a humanidade se caracterizar pelo princípio de sensibilidade e insensibilidade inata), nota-se que ela atravessou os dois períodos, do anonimato ao período em que assume o nome próprio em termos autorais. O princípio da insensibilidade orientava a tese positivista da origem do crime na sociedade, tendo como principal teórico o filósofo italiano, do século XIX, Cesare Lombroso. Fundador da Antropologia Criminal, bem como da Escola Positivista de Direito Penal, este foi um dos autores com que Graciliano tomou contato na década de 1920, não só pelo interesse em criminologia, mas principalmente por Lombroso ter fundamentado, no Brasil, diversas áreas da administração pública, entre elas, a Educação, com qual o autor alagoano dialogava não só em termos de crítica, mas também administrando, em Palmeira dos Índios, a Junta Escolar Municipal, posteriormente, a Prefeitura da cidade e, finalmente, a Diretoria da Instrução Pública de Alagoas. Pesquisando as noções deterministas da sua obra, ver-se-á que partia delas para a construção dos primeiros romances, Caetés e São Bernardo, alterando-as em Angústia. Então, a partir de 1936-1937, com sua prisão, descarta-as completamente, chegando a uma noção de liberdade que repercutiria em Vidas secas de modo excepcional e, talvez, pouco observada na história de sua recepção crítica: as memórias de Fabiano, ruivo, de olhos azuis, são atravessadas pela figuração do escravo (negros de origem africana), com os quais se irmana numa perspectiva de reivindicação do direito à vida e à liberdade por meio de revoltas e ensaios de desobediência à ordem estabelecida.