Profissionais, amadores e virtuoses: piano, pianismo e Guiomar Novaes

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Binder, Fernando Pereira
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27157/tde-13092018-153941/
Resumo: Esta pesquisa estuda a atividade pianística no século XIX e início do século XX no Rio de Janeiro e em São Paulo. Inscrito no campo da história social da música, o trabalho problematiza a afirmação segundo a qual a disseminação do piano, seu ensino e seu cultivo foram resultado de uma exigência social imposta às mulheres em função do matrimônio e da maternidade. Como, então, uma atividade descrita como mero verniz cultural produziu uma pianista como Guiomar Novaes? Os objetivos da pesquisa foram investigar as práticas musicais pianísticas amadoras em São Paulo e desvendar a mobilização de mulheres, estrangeiros e repertórios musicais como ferramenta de modernização cultural durante a Belle Époque paulista. Como ferramenta analítica uso o conceito de mundo artístico de Howard Becker, cujo objetivo é compreender a complexidade das redes de cooperação que produzem obras de arte. Para Becker, a arte é fruto do trabalho coletivo feito de maneira rotineira que produz padrões de atividade coletiva. Ao analisar a reputação de um artista poderemos reconstruir os padrões de funcionamento e a atuação dos diferentes participantes daquele mundo artístico na criação daquela reputação. Logo, o exame da criação da reputação de artista de Guiomar Novaes alcançada em 1915 deve revelar o modo de funcionamento do mundo do piano paulistano. O trabalho organiza-se em duas partes: a primeira trata do surgimento do mundo do piano no Rio de Janeiro. Nela estudo as convenções musicais embutidas no próprio piano, sua ligação com a assimilação da cultura letrada europeia, o papel dos comerciantes e impressores de música, e também estudo como raça, gênero e classe ajudaram a conformar o amadorismo e profissionalismo na primeira metade do século XIX, e o papel da Igreja e do Estado nesse processo. A segunda parte conta a história do pianismo paulistano. Nos dois primeiros capítulos retomo os temas do comércio do instrumento, seus espaços de difusão e seus participantes e analiso o repertório de Guiomar Novaes entre os anos de 1902 a 1915. Os dois últimos capítulos analisam a operação do mundo do piano na criação da reputação de Guiomar Novaes. A análise da reputação de Guiomar Novaes revelou o funcionamento do mundo do piano paulistano. A análise também revela atores e relações sociais mais complexas do que amadoras frustradas e concertistas internacionais. A exigência do aprendizado musical criou um mercado para professoras e professores, estimulou o comércio, a crítica e o periodismo musical. Ao dar caráter público à apresentação de suas alunas, o italiano Luigi Chiaffarelli, professor de Guiomar Novaes, conseguiu criar um público regular, especializado e socialmente influente. Enquanto a menina estudava, seu professor e o jornalista Gelásio Pimenta mobilizaram recursos humanos e materiais, públicos e privados necessários ao desenvolvimento da carreira dela. A consagração de Guiomar no exterior provava à elite da Belle Époque paulistana o sucesso do seu projeto de modernização, São Paulo rivalizava com as nações \"civilizadas\". No Brasil, os recitais de Guiomar criavam oportunidades para a plateia experimentar sentimentos patrióticos de forma pessoal, fortalecendo laços com uma nova identidade nacional.