Aplicação de testes imunoenzimáticos (ELISA e Immunoblot) para o diagnóstico da cisticercose em amostras séricas humanas de diferentes grupos de população do estado de Santa Catarina e perfil de reatividade homóloga e heteróloga de antígenos de Taenia sp e de outros agentes parasitários antigenicamente relacionados

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2003
Autor(a) principal: Ishida, Maria Márcia Imenes
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/9/9136/tde-25082022-091347/
Resumo: A neurocisticercose (NC), doença causada pela larva de Taenia solium alojada no SNC, caracteriza-se pela gravidade dos sintomas e elevada letalidade. É a mais freqüente dentre as manifestações neuroparasitárias e acredita-se ser uma das principais causas de epilepsia nos países em desenvolvimento, incluindo o Brasil. A heterogeneidade da resposta imune humoral nas diferentes fases da doença resulta em variações nos resultados dos métodos imunodiagnósticos disponíveis para detecção de anticorpos no líquido céfalorraqueano ou soro. Fator limitante das técnicas imunológicas para detecção de anticorpos é a presença, no soro, de componentes antigênicos comuns compartilhados por parasitas de diferentes espécies, induzindo reatividade cruzada das amostras de populações expostas a diferentes agentes infecciosos. A escassez de dados sobre prevalência da cisticercose no país se deve à não disponibilidade de ferramentas diagnósticas acessíveis. Desenvolveu-se este trabalho com o objetivo de contribuir para a aquisição destes instrumentos, visando ao estudo amplo de caráter epidemiológico sobre a ocorrência da cisticercose no estado de Santa Catarina, para orientação das medidas de controle e sua erradicação. Determinou-se a freqüência da reatividade de peptideos imunodominantes de Taenia solium e Taenia crassiceps, em Immunoblot, com amostras de soro do grupo controle positivo (CP) de cisticercose e grupo controle negativo (CN). Determinou-se a freqüência de positividade do Enzyme linked immunosorbent assay (ELISA) e Immunoblot (IB) para detecção de anticorpos anti-cisticercos de T. solium nas amostras de soro de diferentes grupos de população do estado de Santa Catarina: pacientes com crises epileptiformes (n=98), residentes de São José do Cerrito - SC (n=40) e da Costa da Lagoa (Ilha de Santa Catarina -SC) (n=27), doadores de banco de sangue do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina (n=33) e de pacientes atendidos em diferentes instituições, portadores de parasitoses (n=112), utilizando-se diferentes extratos antigênicos: total de cisticercos de T. solium (T-Tso ); líquido vesicular de cisticercos de T. crassiceps (VF-Tcra); extrato total de cisticercos de T. crassiceps purificado por cromatografia de afinidade em coluna Sepharose 4B-Concanavalina A (GP-Tcra); peptídeos de líquido vesicular de cisticercos de T. crassiceps, purificado por eletroforese preparativa (GP-(18-14)-Tcra]. Analisou-se a correlação entre os resultados dos testes sorológicos e as características das populações estudadas. Avaliou-se o desempenho do ELISA e IB para detecção de anticorpos anti-cisticercos de T. solium nas amostras de soro do grupo de pacientes com crises epileptiformes, empregando-se os antígenos mencionados. Analisou-se a concordância entre os resultados dos testes sorológicos e entre os resultados dos testes sorológicos e os de exames de tomografia computadorizada; analisou-se a correlação entre os resultados dos testes sorológicos e o tipo de lesão detectada nos exames de imagem. Avaliou-se a reatividade cruzada nas amostras de soro de pacientes com diferentes helmintíases e de animais experimentalmente imunizados, pelo ELISA e IB com os diferentes antígenos mencionados, além dos extratos antigênicos para diagnóstico da toxocaríase, esquistossomose e hidatidose cística, respectivamente: excreção e secreção de larvas de Toxocara canis (TES); total de vermes adultos de Schistosoma mansoni (T-Sma) e líquido hidático de Echinococcus granulosus (LH-Eg). Avaliou-se, com base nos parâmetros de sensibilidade e especificidade, o desempenho do ELISA e IB, para o seu potencial uso no sorodiagnóstico, utilizando antígenos homólogos e heterólogos com soros de pacientes com diferentes helmintíases. Adotou-se como critério de positividade no IB, para as amostras deste estudo, a reatividade com os peptídeos de 18-14 kDa e/ou 14-12 kDa tanto de antígeno total de cisticercos de T. solium (T-Tso) quanto de liquido vesicular de T. crassiceps (LV-Tcra) pois foram reagentes com 100% das amostras do grupo CP e com nenhuma do grupo CN. LV-Tcra, mais facilmente obtido em laboratório do que T-Tso, pode ser fonte alternativa de antígeno para o diagnóstico da cisticercose pois mostrou compartilhar epítopos antigênicos com T-Tso. Os resultados do ELISA e IB aplicados às amostras de diferentes procedências demonstraram elevados índices de positividade. A avaliação da associação entre resultados dos testes e a procedência dos indivíduos demonstrou, na sua maioria, não haver diferença significativa. Aparentemente, os padrões sócio-econômicos são similares, evidenciados pelo baixo grau de instrução destas populações. A concordância entre os testes ELISA e Immunobloting aplicados aos pacientes com crises epileptiformes, mostrou bons índices, na sua maioria (0,4<K<0,75). Foi encontrada correlação significativa entre os resultados do ELISA e IB e a fase de evolução da doença (ativa, calcificada ou mista) com todos os testes/antígenos empregados (p< 0,05). Não foi verificada concordância entre os resultados de exames de tomografia computadorizada e os testes sorológicos (p>0,05). ELISA-LV-Tcra apresentou maior sensibilidade do que ELISA- T-Tso para detecção de anticorpos anti-cisticercos de T. solium tanto na fase ativa quanto calcificada da neurocisticercose. O IB-LV-Tcra demonstrou bom desempenho para diferenciar a fase da doença (ativa ou calcificada). ELISA-LV-Tcra pode ser empregado para triagem nos estudos soroepidemiológicos e deve ser complementado com o IB-LV-Tcra, teste mais específico, para confirmação dos resultados positivos no ELISA. Ocorreu reatividade cruzada no ELISA, principalmente entre infecções causadas por Taenia e Echinococcus e também nas amostras dos animais imunizados. Ocorreu, em menor grau, reatividade cruzada das amostras de soros humanos com cisticercose ou esquistosssomose, no ELISA com antígenos de Schistosoma e de Taenia, respectivamente, e das amostras de soros humanos com toxocaríase ou hidatidose, no ELISA com antígenos de Echinicoccus e Toxocara, respectivamente, que pode d ver-se a epítopos comuns compartilhados pelos parasitas. No IB, teste mais específico, ocorreu menor reatividade cruzada, especialmente com os peptídeos de cisticercos de T. crassiceps purificados por eletroforese preparativa [GP-(18-14)-Tcra]. Na análise da sensibilidade e especificidade dos testes com antígenos homólogos e heterólogos, o melhor resultado foi obtido com o IB-GP(18-14)-Tcra para o diagnóstico da cisticercose, sem diferença quanto ao desempenho obtido com IB-T-Tso (p=0,5). Entretanto, ELISA, com as glicoproteínas de T. crassiceps purificadas por cromatografia de afinidade em coluna (GP-Tcra) e IB, com os peptídeos obtidos por eletroforese preparativa [GP-(18-14)-Tcra], apresentaram baixa sensibilidade quando aplicados às amostras de pacientes com lesões ativas. Maiores estudos serão necessários para a identificação e purificação dos peptídeos imunodominantes no diagnóstico da cisticercose.