Tuberculose e a Pandemia de COVID-19: Um Estudo Descritivo Epidemiológico do Programa de Atendimento ao Paciente com Tuberculose do Estado de São Paulo

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Blume, Marina Cristina
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/42/42132/tde-22072024-120049/
Resumo: O estado de São Paulo reporta o maior número de casos de tuberculose (TB) no Brasil, sendo assim uma região importante para o controle da doença no país. A pandemia de SARS-CoV-2 afetou negativamente os indicadores epidemiológicos da TB globalmente. No entanto, não existem estudos que avaliaram o impacto da pandemia nas notificações e óbitos por TB no estado de São Paulo. Desta forma, os objetivos deste estudo foram analisar o impacto da pandemia de SARS-CoV-2 nas notificações de TB e identificar fatores associados a mudanças nos números de notificações e óbitos por TB em 2020-2021 no estado de São Paulo. Foi realizado um estudo transversal retrospectivo utilizando dados de 125.059 pacientes com TB notificados no estado de 2016 a 2021. O impacto da pandemia nas notificações foi inicialmente avaliado usando uma análise de série temporal interrompida. Estatísticas descritivas e regressões logísticas identificaram fatores associados a mudanças nos números de notificações de TB e aos óbitos durante a pandemia (2020-2021) em comparação com o período pré-pandêmico (2019). Nossos resultados indicam que as notificações de TB diminuíram em 10,1% e 9,5% em 2020 e 2021, respectivamente, comparado a 2019. Entretanto, esse percentual de redução foi 2-3 vezes maior entre indivíduos sem escolaridade e pessoas privadas de liberdade (PPL). Entre indivíduos sem escolaridade, as quedas nas notificações foram de 32,1% e 30,4% em 2020 e 2021, respectivamente. Entre PPL, as quedas foram de 12,3% em 2020 e 22,3% em 2021. Por outro lado, as notificações de TB aumentaram em 66,7% entre trabalhadores do sistema penintenciário em 2021, possivelmente devido ao impacto da pandemia no controle da TB no sistema prisional. As notificações dos testes diagnósticos foram também comprometidas, com um aumento substancial no número de exames incluídos na categoria sem informação. A descoberta de casos por meio da investigação de contatos foi severamente afetada no período pandêmico, com quedas percentuais de 24,8% em 2020 e 38,3% em 2021, comparadas a 2019. Indivíduos com histórico de abandono de tratamento, diabetes, e alterações no tratamento após eventos adversos tiveram maior probabilidade de notificação durante a pandemia (p<0.05). No entanto, os eventos adversos e casos de TB com diabetes vêm aumentando desde 2016. Por outro lado, indivíduos com HIV ou drogadição tiveram menor probabilidade de notificação durante a pandemia (p<0.05). Nossos resultados também indicam que os óbitos por TB aumentaram 16,2% em 2020 e 19,3% em 2021, comparadas a 2019. Embora os fatores de risco para a mortalidade por TB tenham permanecidos semelhantes a 2019, drogadição, recidiva, doenças imunológicas (não HIV) e mudança de tratamento após eventos adversos surgiram como fatores de risco para óbito em 2020/2021 (p<0.05). Em conclusão, a pandemia afetou as notificações e óbitos por TB de maneira diferente entre os grupos populacionais, exacerbando desigualdades. O abandono de tratamento, a perda de acompanhamento e os desafios no acesso à saúde durante a pandemia levaram a um aumento na mortalidade por TB no estado de São Paulo.